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O ET do Jequitinhonha

Caboclo mais aprofundado na arte da invencionice existia, que até dizia ter cumprimentado “os bichos de outro planeta”. Com tanto estardalhaço em torno do assunto

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03-11-2023 às 09:32h.

Tadeu Martins*

Apareceu um OVNI no Vale do Jequitinhonha. Até aí tudo bem, objetos voadores não identificados aparecem todos os dias nesse mundão de meu Deus. Mas esse OVNI que perseguiu um ônibus de São Paulo com destino ao Nordeste fazia movimentos na horizontal e na vertical, com uma velocidade assustadora, emitindo um foco de luz azulada, e foi visto também por um patrulheiro da Polícia Rodoviária Federal, que chegou a dar uma entrevista na televisão, falando do fato testemunhado por ele, motoristas e passageiros do ônibus.

Ai já viu, apareceu na televisão, virou assunto nas rodas de boteco.

Caboclo mais aprofundado na arte da invencionice, existia, que até dizia ter cumprimentado “os bichos de outro planeta”. Com tanto estardalhaço em torno do assunto, o jornal “Nordeste de Minas”, sediado em Almenara, escalou o jornalista Marcelo Neto para escrever sobre o OVNI, que aparecera entre as cidades de Itaobim e Medina. Complicou.

Marcelo, excelente profissional, escrevia tudo sobre política, cultura, economia, futebol e até moda, mas nada sabia de ufologia. O amigo poeta Gonzaga Medeiros, resolve dar uma mãozinha: “Uai sô, disco voador só aparece de noite, e esse pessoal que vê disco voador tem um grande poder de mentalização. Então pronto, faz a mesma coisa, pega seu carro, pensa fundo e vai até lá onde o bicho apareceu”.

Marcelo seguiu o conselho do amigo. Pegou a máquina fotográfica com flash, entrou no fusca e acelerou fundo rumo aos mistérios do universo. E mentalizando: “Marcelo Neto, jornalista, mineiro, tentando contato com ser extraterreno”. Na hora e meia que separa Almenara de Itaobim, ele repetiu mentalmente quase mil vezes: “Marcelo Neto, jornalista, mineiro, tentando contato com ser extraterreno”.

Cerca de 10 km depois de Itaobim, a força do pensamento positivo fez efeito: na margem direita da Rio-Bahia ele avistou o OVNI. Ou, pelo menos, parecia. Eram quase 22 horas. Pouco afastado da BR, no meio do mato, dois focos luminosos azulados se destacavam. Marcelo respirou fundo, estacionou o fusca, ajeitou a máquina e desceu para um contato imediato com o primeiro OVNI a ser fotografado, ou quem sabe tocado por um valejequitinhonhense.

Coração palpitante, a uma distância de aproximadamente dez metros, bateu a primeira foto. Ainda ofuscado pelo clarão do flash, ele viu entre dois focos de luz o ET: baixinho, cabeça chata, pernas bem curtas, braços compridos arrastando no chão e peito cabeludo. Acionando a máquina para a segunda fotografia, o jornalista gritou: “Marcelo Neto, jornalista, mineiro, tentando contato com ser extraterreno.”

Para sua surpresa, o E.T baixinho de braços longos respondeu num português cantado “Zé da Silva, caminhoneiro, paraibano, fazendo necessidade”.

*Tadeu Martins é poeta integrante da Academia de Letras dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (do livro “Casos Populares, 1992).

 

 

 

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