Português (Brasil)

O Brasil na revolução russa

O Brasil na revolução russa

A liderança bolchevique organizou e instalou, em novembro/outubro de 1917, uma insurreição estabelecendo o regime revolucionário, distribuindo terra aos camponeses

Compartilhe este conteúdo:

21-02-2024 às 08h:57

Manoel Hygino dos Santos*

A Guerra desconhecida.

A Revolução Russa, em 1917, não foi uma espécie de chegou, viu e venceu. Exigiu anos de preparação, de esforços, de incursões em países vizinhos, tanto nos gabinetes como depois nas frentes de combate, e de sacrifícios da população, da argúcia de espiões, de muito sangue derramado.

Em 1905, a derrota da Rússia no conflito com o Japão pela posse da Manchúria, desencadeou um movimento revolucionário que enfraqueceu o regime do czar Nicolau II. Somadas às grandes perdas humanas na I Guerra Mundial e para pôr fim ao tzarismo, desde março de 1917 (fevereiro pelo calendário juliano), conduziram inevitavelmente à derrubada do imperador e do regime.

A Revolução de fevereiro, liderada pela ala moderada, ou menchevique, do POSDR (Partido Operário Social-Democrata Russo), substituira a monarquia pela república parlamentar. Formaram-se os soviets, isto é, conselhos de operários, camponeses e soldados, nos quais se agarrou e cresceu a influência da ala radical, ou bolchevique. O governo menchevique insistiu na participação da Rússia na guerra, mas perdeu o apoio popular.

A liderança bolchevique organizou e instalou, em novembro/outubro de 1917, uma insurreição estabelecendo o regime revolucionário, distribuindo terra aos camponeses e atribuindo o controle das indústrias a representantes dos operários. Iniciou-se uma terrível guerra de quatro anos, que dividiu a nação.

Aí entrou Trotsky, criando o Exército Vermelho, que enfrentou as forças de oposição, os mencheviques, e os tzaristas, permitindo a intervenção de potências estrangeiras e grupos nacionalistas de etnias rurais.

UM NOVO COMEÇO

Convém repetir Nelson Werneck Sodré: no quadro mundial, iniciava-se a crise geral do capitalismo. A I Guerra Mundial abalara a estrutura do regime e resultara em nova repartição das nações imperialistas.

Ao eclodir a Revolução de Outubro, abria-se nova era na história da humanidade e rompia-se o monopólio da dominação capitalista no mundo. O pós-guerra, turbulenta fase em todos os continentes, gera crises sociais, financeiras e culturais, a derrocada de velhos padrões e valores e o surgimento de novos gestores.

E Rússia se tornou irremediavelmente dividida. A antiga fora demolida, como se sentia nas ruas de Petrogrado. A nação antiga se transformou em frentes de combate dos vários grupos internos e, ainda, do que  restara da antiga organização militar contra os alemães.

Caio de Freitas relata as horas e dias trágicos depois da queda da monarquia. O Conselho dos Comissários do Povo voltava-se para a  tarefa de demolir a estrutura milenar da nação para, sobre os escombros, erigir um Estado diferente: 240 mil bolchevistas para dominar uma nação de 175 milhões de habitantes. Vitoriosa a Revolução, a situação ainda era inquietadora e inquietante. Na Ucrânia, formara-se um governo independente. A Finlândia e os Estados Bálticos logo exigiram  independência. A Polônia já estava ocupada pelos alemães. Nas estradas cortadas pela Transiberiana, dezenas de milhares de prisioneiros de guerra passaram a agir como força de ocupação. No Sul, ex-lideranças da monarquia arregimentavam um exército para combater os bolchevistas.

Todo o mundo sofreu repercussões. A situação pressionou o Brasil. Uma jovem nação, cuja independência fora declarada em 1822, exatamente cem anos antes, não poderia estar esquecida.

ATRAINDO EUROPEUS

O governo do estado de São Paulo se ofereceu para receber 20 mil soldados do Exército Branco russo, derrotado pelo Exército Vermelho na guerra civil que se arrastava desde a Revolução de 1917. Após perderem para os bolcheviques, os homens de Wrangel fugiram para a Turquia em companhia do comandante. Temiam ser mortos, caso permanecessem na Rússia comunista.

O pedido de acolhida brasileira aos russos foi formulado pelo governo francês, que cuidava da integridade dos soldados vencidos. O Brasil aceitara acolhê-los e São Paulo prontificou-se a arcar com as despesas da viagem de navio. A decisão dividiu, na época, a opinião pública brasileira e havia quem dizia que tanta polêmica seria em vão, pois os russos, em verdade, não tinham o menor interesse em refugiar-se em um país tão distante da terra natal. Ficou o dito pelo não dito, enquanto mais coisas terríveis aconteciam.

 TERROR IMPLANTADO

Centenas de marinheiros foram massacrados pelo Exército Vermelho em confronto na Fortaleza de Kronstadt. Os marinheiros, então considerados heróis na Revolução de 1917, se rebelaram contra os rigores da política comunista e exigiam uma série de mudanças, como liberdade de imprensa para veículos operários e camponeses não ligados ao partido, a libertação de presos políticos socialistas e a distribuição igualitária das rações alimentares.

Como resposta, os 50 mil moradores da prestigiada fortaleza foram atacados pelo Exército Vermelho. Três dias antes do massacre, Lênin anunciara a criação do Novo Programa Econômico, que retomava alguns princípios da economia capitalista. O governo sentia que precisava aumentar a produção de gêneros alimentícios para evitar a onda de fome que ameaçava o país.

* Da Academia Mineira de Letras e da Associação Nacional de Escritores.

Compartilhe este conteúdo:

  Seja o primeiro a comentar!

Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião deste site. Envie seu comentário preenchendo os campos abaixo

Nome
E-mail
Localização
Comentário

 

Synergyco

 

RBN