Não morra pela boca, cuidado porque frutas, verduras e legumes podem estar envenenados
No ano de 1978, antes de vir ao Brasil, o então presidente norte-americano Jimmy Carter recebeu uma lista de sugestões da parte da sua segurança sobre o que devia e o que não devia fazer no Brasil.
10-07-2023 – 6h45
Alberto Sena
‘Estamos comendo veneno’. O selinho da série de reportagens denunciava, em meados da década de 1970, o abuso dos agricultores no uso dos chamados “agrotóxicos” ou “defensivos agrícolas” nas lavouras. A indústria produtora é a mesma que produz também o remédio e sofismas como chamar venenos de “defensivos agrícolas”.
Em 1978, antes de vir ao Brasil, o então presidente norte-americano Jimmy Carter recebeu uma lista de sugestões da parte da sua segurança sobre o que devia e o que não devia fazer no Brasil. No caso dos alimentos, recomendava não comer frutas com casca, não comer legumes e verduras. A série de reportagens ‘estamos comendo veneno’ começou justamente por causa dessas recomendações ao Carter.
Muitos agricultores ainda não se importam nem mesmo com a própria segurança e não se utilizam de roupas e máscaras próprias a fim de não se contaminarem no manuseio dos venenos. Por ignorância ou desleixo mesmo, eles abusam na dose. Quem não tem amor-próprio vai se ocupar com a saúde dos outros?
À época, compramos alguns tipos de legumes e verduras e enviamos ao Laboratório de Análises Toxicológicas de George Barquetti. Resultado: todos os produtos apresentavam resíduos dos tais “defensivos agrícolas”, sendo que o repolho continha mais do que os outros. Publicamos quatro reportagens da série e tivemos que parar.
E quem vem lendo este texto pergunta logo: por que parou? Porque a direção do jornal mandou (e não era o Diário de Minas). Certamente, sofrera pressões por parte dos governos estadual e federal e mesmo da indústria produtora dos venenos.
O editor na época era Wander Piroli, responsável pela página de polícia do jornal Estado de Minas. Depois que ele foi editar o semanário o chamado Jornal de Shopping, retomamos a mesma série de reportagem, só que com selinho diferente: ‘Não morra pela boca’. Tudo foi bem até a quarta reportagem, quando veio outra ordem da direção para encerrar a série.
Isto se passou há mais de 30 anos. Será que de lá para cá os agricultores se desasnaram, como diria Darcy Ribeiro, e passaram a usar venenos na medida certa na agricultura e aguardam o prazo de carência para efetuarem a colheita? Claro que não! Seria o caso de fazer uma nova versão de feira e enviar para exame em laboratório específico.
Empiricamente falando, não há dúvidas se os alimentos encontrados no mercado são isentos de venenos. Volta e meia é possível sentir cheiro característico em determinados legumes, mas não estamos aqui para assustar ninguém. Somente queremos renovar o alerta, porque o governo federal anterior aprovou mais de mil marcas de venenos.
E aproveitando o ensejo dizer que nem sempre se fez uso de venenos na agricultura. Tudo começou logo depois da Segunda Guerra Mundial. As potências tinham sobras de produtos químicos e então tiveram a “brilhante ideia: Se isto serve para matar gente, certamente matará insetos”. E despejaram tudo na agricultura.
Mas, comprovadamente, a agricultura pode muito bem prescindir dos venenos. Havia lá em Cachoeira do Itapemirim (ES), terra onde nasceu o cantor Roberto Carlos, um agrônomo chamado Nasser, que de tanto observar a natureza descobriu o óbvio: “O mato é a comida do inseto; sem mato para comer, porque o agricultor tem o costume de ‘limpar o terreno’, o inseto come o que encontrar pela frente”.
É igual ao boi, que come capim. Mas se não tiver capim para o boi comer e ele encontrar pela frente uma bela horta com suculentos legumes e verduras, o animal vai comer porque está com fome.
Nasser então passou a plantar no meio do mato. Abria a cova e só rebaixava um pouco o mato ao redor, para assegurar luz à couve, alface, tomate etc.
Tudo que ele plantou deu e deu em alta produtividade. Os insetos nem se aproximaram das hortaliças, mas ao redor da cova, as folhinhas do mato considerado “praga”, estavam comidas. E mais: o cheiro dos legumes e das verduras recendia longe.
Um dia, para surpresa de Nasser, ele encontrou um ninho de rolinha marrom num pé de tomate. Se o tomateiro tivesse “defensivos agrícolas”, a rolinha teria feito o seu ninho lá? Não, pois o tomate carrega até hoje a fama de ser um dos produtos mais envenenados.
Mas nem por isto devemos deixar de comer frutas, legumes e verduras com ou sem casca. É importante saber da procedência, lavar bem os alimentos e usufruir desses remédios naturais.
Se acontecer de um ou outro morrer por causa dos venenos agrícolas, pelo menos partirá bem alimentado e esbanjando saúde. E saúde, gente, é o que interessa.
*Editor Geral do DM