
Movimento popular RJ contra a PEC da Blindagem - créditos: Divulgação
21-09-2025 às 18h38
Samuel Arruda*
São Paulo/Rio de Janeiro, 21 de setembro de 2025 — Em uma demonstração de forte reação social e política, milhares de pessoas saíram às ruas neste domingo contra a Proposta de Emenda à Constituição conhecida como PEC da Blindagem, aprovada pela Câmara dos Deputados. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, os protestos ganharam grande visibilidade, reunindo movimentos populares, artistas, partidos de esquerda, sindicatos e cidadãos comuns. As mobilizações são parte de um esforço nacional, com atos marcados também em mais de 30 cidades.
A PEC da Blindagem altera regras para a abertura de processos penais contra parlamentares: ela exige que a Câmara ou o Senado deliberem (muitas vezes em votações secretas) para autorizar investigações ou prisões de deputados, senadores ou presidentes de partidos. Críticos afirmam que isso cria uma espécie de barreira institucional à responsabilização, favorecendo impunidade.
A proposta foi apelidada de PEC da Bandidagem por opositores, termo que expressa o entendimento de que ela funciona como um instrumento para proteger políticos investigados ou acusados.
Em São Paulo, o ato ocorreu em frente ao MASP, na Avenida Paulista, às 14h. O número de participantes foi bastante expressivo: há estimativas que apontam para cerca de 40 mil pessoas reunidas no protesto.
Representantes de movimentos sociais como MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, além de partidos como PSOL e PT, estiveram presentes. Lideranças políticas discursaram contra o projeto, enfatizando a ideia de que a PEC representa um retrocesso democrático.
Visualmente, as manifestações contaram com cartazes, faixas, gritos de ordem como “sem anistia”, “Fora PEC da Blindagem”, “Congresso inimigo do povo”, entre outros,
Rio de Janeiro: protesto cultural e político em Copacabana
No Rio, o ponto de encontro foi Copacabana, Posto 5, também às 14h. Uma característica marcante do protesto carioca foi a forte presença de manifestações artísticas. Nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Chico Buarque fizeram presença, e houve shows gratuitos como parte dos atos. usaram sua visibilidade e voz para reforçar a crítica ao texto aprovado pelo Congresso.
Reações, desdobramentos e críticas
- Rejeição pública: A PEC enfrentou resistência significativa entre a população. Levada ao Senado para análise, há relatórios prévios no sentido de rejeitá-la.
- Políticas espalhadas: Parte da insatisfação se dirige não apenas ao texto da PEC, mas à postura do Congresso que parece priorizar medidas de blindagem política, ao invés de pautas sociais, como taxação de grandes fortunas ou melhorias para trabalhadores.
- Divisão partidária: Até mesmo aliados do governo federal mostraram-se constrangidos com a situação. Dentro do PT, por exemplo, deputados foram sob forte pressão após alguns votarem a favor da PEC, contrariando a orientação do partido.
Desafios e o que esperar
- A tramitação no Senado será decisiva. O relatório favorável à rejeição já foi anunciado por alguns dos senadores indicados para conduzir a pauta.
- A mobilização popular, com grande visibilidade mediática e participação de artistas, tende a exercer pressão política sobre parlamentares que ainda estão em dúvida ou que buscarão votos contrários à PEC.
- Porém, também há o risco de a proposta ser emendada ou fragmentada para amenizar críticas, sem necessariamente rejeitá-la por completo.
Os protestos em São Paulo e no Rio de Janeiro refletem uma reação contundente de setores da sociedade contra o que é percebido como uma tentativa de estender privilégios institucionais a parlamentares, colocando em risco a responsabilização. A PEC da Blindagem avivou debates sobre impunidade, democracia e com as mobilizações de hoje, a pressão popular se mostra decisiva para os próximos capítulos desse embate institucional.
*Samuel Arruda é jornalista