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Mobilidade Urbana é uma necessidade essencial; mas também um problema sem solução?

Mobilidade Urbana é uma necessidade essencial; mas também um problema sem solução?

Belo Horizonte fica atrás de São Paulo em se tratando de congestionamento. A capital paulista aparece na 48ª posição do ranking e os motoristas perdem cerca de 56 horas parados no trânsito.

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21-01-2023

08h:00

Enio Fonseca*

Vamos imaginar que você seja um morador da Região Metropolitana de Belo Horizonte, que precisa se locomover de sua casa para alguma atividade. Pode ser trabalho, compras, lazer, visita, médico, exercício físico etc. Você pode sair a pé, de bicicleta, moto, veículo próprio, ônibus, metrô, transporte alternativo etc.

Sua primeira providência será olhar o tempo e ver se o trânsito estará embolado por causa das chuvas. Ouvir na Rádio Itatiaia o boletim de trânsito, ver os aplicativos como Wase, tudo isto, porque você precisa se locomover, e a locomoção no meio urbano está muito tormentosa.

A lentidão é tanta que BH conquistou o "prêmio" de estar no ranking de 50 cidades com piores trânsitos do mundo.

Segundo o ranking 2022 Global Traffic Scorecard feito pela empresa de software e de monitoramento de localização INRIX, o belo-horizontino perde cerca de 65 horas por ano parado no trânsito. Por aqui, a velocidade média nos horários de pico é de 13 km/h.

No Brasil, Belo Horizonte fica atrás apenas de São Paulo se tratando de congestionamento. A capital paulista aparece na 48ª posição do ranking e os motoristas perdem cerca de 56 horas parados no trânsito.

Já no ranking internacional, BH ocupa a 49ª posição. A liderança geral é de Londres.

Por lá, estima-se que o motorista perca cerca 156 horas parado no trânsito.

O 2022 Global Traffic Scorecard usa dados de mobilidade nos últimos quatro anos para traçar as áreas mais congestionadas do mundo. Com o estudo, é possível comparar atrasos de viagem, tendências de colisão e velocidade com base nos padrões de deslocamento dentro de cada centro urbano.

Belo Horizonte foi fundada em 12 de dezembro de 1897 e planejada tendo como referências os meios urbanos de Paris e Washington. O crescimento urbano atropelou o seu planejamento rodoviário, que tinha a avenida do Contorno como um importante marco de governança.

Assim como a maioria dos grandes centros brasileiros, Belo Horizonte não foi planejada para a enorme quantidade de pessoas que circulam por seus espaços, e nem para o grande fluxo de veículos que transitam por elas, e as mudanças estruturais e operacionais feitas no contexto da mobilidade urbana, ao longo do tempo, não têm sido eficientes para resolver essa questão.

A mobilidade urbana não é um problema isolado de Belo Horizonte. Ele precisa ser entendido no contexto da Região Metropolitana, implantada nas décadas de 1940 e 1950, e que possui cerca de 6 milhões de habitantes, e é formado, além da capital, pelos seguintes municípios:

Baldim, Betim, Brumadinho, Caeté, Capim Branco, Confins, Contagem, Esmeraldas, Florestal, Ibirité, Igarapé, Itaguara, Itatiaiuçu, Jabuticatubas, Juatuba, Lagoa Santa, Mário

Campos, Mateus Leme, Matozinhos, Nova Lima, Nova União, Pedro Leopoldo, Raposos, Ribeirão das Neves, Rio Acima, Rio Manso, Sabará, Santa Luzia, São Joaquim de Bicas,

São José da Lapa, Sarzedo, Taquaraçu de Minas e Vespasiano.

Outra peculiaridade é que a participação do município de Belo Horizonte na população total da Região Metropolitana vem caindo a cada ano, ou seja, os municípios vizinhos a Belo Horizonte crescem mais que a capital, uma vez que há falta de espaços disponíveis no município e os poucos que restam são encarecidos, o que aumenta o fluxo do transporte entre as cidades.

A mobilidade urbana na Região Metropolitana de BH requer atenção. O número de veículos é bem elevado, só na capital temos mais de 2 milhões e 200 mil.

A problemática de congestionamento ocorre em todos os pontos da cidade — não somente no horário de pico, mas a qualquer momento do dia.

A questão da mobilidade urbana vem sendo discutida com profundidade ao longo dos anos, com a participação dos poderes públicos, executivos municipais e do Estado, legislativos, sociedade civil, academia, profissionais da área, e podemos dizer que existem diagnósticos precisos sobre os problemas existentes. Quando se observam as grandes capitais do mundo que procuram soluções para a mobilidade urbana, podemos dizer que não existem aspectos que não tenham aqui sido já estudados.

Nossa Região Metropolitana possui uma frota de ônibus, muitos deles antigos e em precárias condições de uso. Vários não têm elevadores ou quando têm, em algumas situações, eles não funcionam, deixando de abranger as pessoas com mobilidade reduzida.

Outro problema é o número insuficiente de ônibus, taxis e afins para a quantidade de habitantes, em horários específicos. Na maioria das vezes, os usuários permanecem muito tempo aguardando coletivos. Devido à demora no tempo de espera, o resultado é muita gente nos pontos. Como consequência, os ônibus circulam, quase sempre, com excesso de lotação. As pessoas levam muito tempo da casa para o trabalho e vice-versa. Transporte público eficaz, é a primeira resposta para uma melhor qualidade na mobilidade urbana.

O metrô é um sistema de transporte muito deficiente em BH e não atende a população de forma satisfatória. Em alguns casos, o metrô não leva a pessoa ao seu destino. Para completar a viagem, o usuário deve recorrer a outras modalidades de transportes para chegar ao local desejado.

Investir em ampliações do metrô da cidade de Belo Horizonte é um grande desafio, e sua recente privatização é um alento para incorporar esse importante modal, aumentando sua capacidade de transporte diário, para novos destinos.

A carona compartilhada é uma proposta simpática, preconizada em todo o mundo como uma boa opção de reduzir o número de veículos nas ruas, permitindo maior aproximação entre vizinhos e colegas de trabalho, reduzindo a poluição do ar no meio ambiente. Na prática esse modelo de gestão participativa, não é muito fácil de ser implementado, por diferentes motivos, inclusive a índole das pessoas, e a necessidade de autonomia e independência nas atividades do dia a dia.

Algumas cidades do mundo taxam em certas regiões, veículos com um só passageiro, ou que se destinem a locais servidos por transporte público eficaz, criando ainda cobranças por estacionamentos públicos, desestimulando o uso do transporte particular. No entanto, essas medidas se transformam em modelo eficaz com os transportes públicos eficazes, que possuam custo justo aos cidadãos usuários.

Outra possibilidade de locomoção que tem sido bastante incentivada, em muitas capitais do mundo, são as bicicletas. Elas são sustentáveis, não ocupam grandes espaços e ainda servem como exercício físico. Porém, o que ainda impede que sejam usadas por mais pessoas é a falta de segurança no trânsito para os ciclistas e a pequena quantidade de ciclovias, priorizadas frente aos outros transportes utilizados.

Alterar os horários de entrada e saída do trabalho, escolas e outras atividades, com o uso de horários flexíveis com objetivo de suavizar os horários de pico, são alternativas sempre lembradas, porém também de difícil implantação.

Privilegiar o uso de combustíveis menos poluentes, que em engarrafamentos emitem carbono, que contamina a atmosfera e prejudica os mecanismos de proteção do planeta. Com isso, o aquecimento global se intensifica e há, nas cidades, mais ilhas de calor, desequilíbrios ambientais e poluição, e maior comprometimento da saúde da população.

Já é uma tendência em muitas capitais do primeiro mundo a diminuição na compra de veículos a combustão, utilizados de forma privada, com o maior uso de veículos do transporte público, e dos veículos elétricos, ainda caros, uma decisão que leva em conta a consciência ambiental, e a existência de um bom transporte alternativo.

Desde 2012, todos os municípios brasileiros com mais de 20 mil habitantes devem ter um Plano de Mobilidade Urbana, de acordo com a lei de Política Nacional de Mobilidade Urbana, e este é o instrumento certo para implementar as ações necessárias para se enfrentar este assunto.

A mobilidade urbana em BH e em sua região metropolitana vem sendo pauta de muitas discussões e melhorias. As pessoas já entenderam que precisam buscar alternativas para se locomover na cidade, e, além de fazer a sua parte, cobrar do poder público ações mais efetivas. A melhoria da mobilidade urbana vem com a conscientização e mudança de comportamento de todos nós.

*Enio Fonseca é CEO da Pack of Woves Assessoria Socioambiental, foi Superintendente do Ibama, Conselheiro do Copam e Superintendente de Gestão Ambiental da Cemig

Imagem da Galeria O trânsito de carros em Belo Horizonte só não é pior do que o de São Paulo
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