Posso dizer, sem receio de estar cometendo um sacrilégio, que fui eu quem introduziu o pequi no mercado de Belo Horizonte, na década de 1970. Digo isso e coloco pingo nos is.
05-12-2024 às 08h39
Alberto Sena*
Tenho uma relação visceral com o pequi. É com o pequi e com a “manga” comum, como é chamada no Norte de Minas, Montes Claros especialmente, de onde vim.
Mas quero falar primeiro do pequi. Já disse isso aqui e vou dizer de novo, sou filho do pequi. Meu pai e minha irmã, Wanda De Sena Batista, também. Nós três nascemos em setembro e basta fazer uma regressão para chegarmos à comprovação da minha teoria, que, na prática não é outra coisa.
Roo pequi desde quando surgiram os primeiros dentes. Talvez até antes, alguém podia raspar para eu comer com arroz.
Acho que, se acontecer de, em chegando à safra de pequi, eu não comer nenhum, não sei o que será de mim.
Posso dizer, sem receio de estar cometendo um sacrilégio, que fui eu quem introduziu o pequi no mercado de Belo Horizonte, na década de 1970.
Digo isso e coloco pingo nos is.
Foi quando repórter do Estado de Minas, impresso, na época “o grande jornal dos mineiros”. Fiz uma série de reportagens sobre esse rico alimento, exaltando as suas propriedades e a relação socioeconômica intrínseca dele.
Insisti de tal modo que o editor da minha época veio me dizer: “Pequi não tem valor econômico nenhum”. Ao que eu disse a ele. “por enquanto, mas você não perde por esperar”.
Logo o superintende do então Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), que é o Ibama de hoje, Antônio Rodrigues, me ligou de Brasília para dizer: “Estou assinando neste momento uma portaria proibindo o abate de pequizeiro em todo o território nacional, tendo por base as suas reportagens”.
A portaria virou Lei e o pequizeiro segue preservado, embora ainda vigore um acordo tácito entre os sertanejos de não abaterem o pequizeiro. Quem vir alguém derrubando pequizeiro deve denunciar porque é proibido. Trata-se de uma árvore de enorme valor que não se mede com fita métrica nem na balança.
Hoje em dia, o pequi já se tornou perfume na Europa. Virou cerveja. É vendido o ano inteiro como conserva, no Mercado Central de Belo Horizonte e de Montes Claros. Enfim, ganhou poder econômico.
Um universo de insetos habita um pequizeiro. Os animais comem das suas flores, e, também, dos frutos caídos no chão.
É importante saber que o pequi maduro é catado no chão. No pé, ainda não está pronto para ser roído e saboreado.
Em 100 g da polpa de pequi existem 200 mil Unidades Internacionais (UI) de vitamina ‘A’; fora as demais vitaminas do complexo ‘B’, gorduras saudáveis e sais minerais. Trata-se de um complexo vitamínico.
Desconfio que a vida fica melhor com pequi. Que me perdoem os que não gostam, porque aprecio tanto!
Pequi e manga. Em todas as casas onde morei, em Montes Claros, tinha uma mangueira. E de manga comum.
Acho que lá no céu, as pessoas chupam manga comum o dia inteirinho. Ela é saborosa. Como nada é perfeito neste mundo, ela possui uns fiapos que pessoas dadas a me contrariar dizem não gostar porque “ficam nos dentes”, e por isso que preferem outras mangas. Eu gosto de todas, mas a comum é da minha preferência.
Com o advento do fio e da fita dental, basta o camarada usar depois de chupar a manga comum e nada mais fica a não ser o cheiro dela a perpassar o ar.
Em Montes Claros, principalmente, esta é a melhor época do ano porque, além das chuvas criadeiras, há fartura de pequi, manga e os demais frutos do Cerrado, que a ganância do agronegócio está consumindo de modo acelerado.
*Autor dos livros “Retrato De Nós Mesmos”, sobre Montes Claros, e “Nos Pirineus da Alma”, sobre a caminhada de Santiago de Compostela, na Espanha, que podem ser enviados pelos correios. Dê a si ou a quem você ama um exemplar neste Natal. albertosenabatista@gmail.com