
Terras raras - créditos: Defesa em Foco
29-07-2025 às 09h19
(*) Marcelo Barros
A corrida por minerais críticos no fundo do mar colocou o Brasil em posição estratégica no cenário internacional. Localizada a 1.200 km da costa gaúcha, a Elevação do Rio Grande pode conter vastas reservas de telúrio, cobalto e terras raras — recursos essenciais para tecnologias verdes. A disputa pela região, embora ancorada em argumentos geológicos, tem peso político e militar: para garantir seus direitos, o Brasil precisa provar que é capaz de proteger o que reivindica.
Potencial mineral e desafios de exploração na Elevação do Rio Grande
Estudos da USP e de outras universidades brasileiras revelam que o solo da Elevação do Rio Grande, localizado a cerca de 5 mil metros de profundidade, contém uma das maiores concentrações anômalas de minerais estratégicos do hemisfério sul. Entre os elementos detectados estão cobalto, telúrio, níquel e elementos de terras raras, indispensáveis para a indústria de semicondutores, baterias elétricas e geração de energia limpa.
Apesar do potencial, o Brasil ainda enfrenta dificuldades estruturais e tecnológicas para explorar esses recursos em águas profundas. A extração de minerais no leito oceânico exige equipamentos de alta complexidade, tecnologia de mineração subaquática remota e rígidos protocolos ambientais. Atualmente, o país ainda exporta muitos desses minerais em estado bruto, sem agregar valor — um desafio para quem deseja ocupar posição de liderança na transição energética global.
A importância da Marinha do Brasil na defesa da soberania marítima
A Elevação do Rio Grande está situada além da Zona Econômica Exclusiva (ZEE), o que obriga o Brasil a comprovar à ONU que a formação é uma extensão natural de seu território. Mesmo com pareceres técnicos favoráveis da Comissão de Limites da Plataforma Continental (CLPC), a efetivação da soberania depende da presença física e da capacidade de defesa da área.
Nesse contexto, a Marinha do Brasil se torna o principal instrumento de dissuasão estratégica e diplomacia naval. Suas ações vão desde patrulhamento de áreas distantes e apoio à pesquisa científica até participação em operações internacionais de paz e segurança marítima. A ausência de uma Marinha forte enfraquece o pleito brasileiro, pois, sem capacidade de proteção, as reivindicações diplomáticas correm o risco de serem ignorada por potências navais com interesses na região.
Atlântico Sul como novo centro de tensões geopolíticas globais
O Atlântico Sul, antes relegado a uma posição periférica na geopolítica global, tornou-se uma zona de crescente disputa estratégica. A chamada “Amazônia Azul“ — que compreende mais de 5,7 milhões de km² sob responsabilidade brasileira — abriga não só riquezas minerais, mas também rotas comerciais, biodiversidade marinha e jazidas de petróleo.
A Elevação do Rio Grande representa apenas a ponta do iceberg. Países como China, Estados Unidos e União Europeia acompanham de perto os movimentos do Brasil e de outras nações sul-americanas na tentativa de expandir seus domínios marítimos. A disputa pelos recursos minerais do leito oceânico envolve questões ambientais, legais e de segurança nacional. Neste cenário, o Brasil precisa reforçar sua capacidade de comando no mar, integrando ciência, defesa e diplomacia.
(*) Marcelo Barros é jornalista