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16-03-2025 às 08h08
Silvio Aderne Neto
No último dia 07 de março, o glorioso Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) da Marinha do Brasil (MB) comemorou o seu 217 o aniversário. Sua data de criação evoca a chegada da então Brigada Real de Marinha ao Brasil, no Rio de Janeiro, acompanhando Dom João VI e a corte portuguesa trasladada de Lisboa. Durante a cerimônia comemorativa, na histórica Fortaleza de São José, na Ilha das Cobras, o seu atual Comandante-Geral, o Almirante de Esquadra Fuzileiro Naval Carlos Chagas Viana Braga nos brindou com uma primorosa Ordem do Dia enaltecendo as tradições e feitos alcançados pelo CFN e chamando a atenção para os desafios do porvir.
Uma curiosidade, que poucos sabem, é que o Almirante Carlos Chagas, embora carioca, tem laços de sangue com Minas Gerais (MG), já que descende do mais ilustre filho da simpática e histórica Oliveira: o médico sanitarista e cientista Carlos Chagas que, em agosto de 1909, publicou no primeiro volume da revista do Instituto de Manguinhos, Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, um estudo completo sobre a doença de Chagas e o ciclo evolutivo do protozoário que causa da doença, o trypanosoma cruzi, fruto de suas pesquisas e observações na cidade de Lassance no Norte de MG.
O Almirante Carlos Chagas, quando Comandante da Força de Fuzileiros da Esquadra, principal braço operativo do CFN, foi o responsável por trazer para a região do lago de Furnas, em 2020, pela primeira vez, o principal e mais completo exercício militar já realizado no estado de Minas Gerais: a Operação Furnas. Envolvendo mais de 1300 militares e contando com meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais, o exercício multifacetado e com alta complexidade logística, abrange operações ribeirinhas, operações de paz, operações interagências e ações cívico- sociais. Como um legado definitivo dessas operações, já existe, em São José da Barra/MG, uma Base Aérea Expedicionária da Marinha que reativou o antigo aeródromo de Furnas.
Voltando ainda mais no passado, encontramos ligações mais intrínsecas do CFN com o estado de MG. O o Patrono do CFN, Almirante Sylvio de Camargo, falecido em 1989, era mineiro de Santa Rita do Sapucaí, hoje próspero polo tecnológico do Sul de Minas. O Almirante nasceu em 16 de fevereiro de 1902, filho dos professores João Baptista de Oliveira Camargo e Aurélia de Almeida Camargo.
Ingressou na Escola Naval, em 1919, época em que aquele estabelecimento formava oficiais apenas para os quadros do Corpo da Armada e de Engenheiros Maquinistas. Foi declarado Guarda- Marinha em 1922. Como Tenente, serviu em importantes navios da Esquadra com destaque para oEncouraçado Minas Gerais, o Contra-Torpedeiro Paraíba e o Cruzador Rio Grande do Sul. Como Capitão-Tenente (CT), a partir de 1929, serviu também no Cruzador Bahia e, em 1931, teve sua primeira experiência em uma Organização Militar com tarefas de infantaria de Marinha, o então Regimento Naval.
Em 1932, no Governo de Getúlio Vargas, na administração do Ministro da Marinha Almirante Protógenes Pereira Guimarães, foi criado o Corpo de Fuzileiros Navais, pelo decreto n° 21.106, de 29 de fevereiro. O mesmo decreto estabeleceu a constituição do quadro de oficiais do CFN, o qual seria efetivado por oficiais transferidos do Corpo da Armada, dentre os quais estava o CT Sylvio de Camargo.
A transferência de quadro do então CT Sylvio de Camargo da Armada para o CFN em 1932, coincidiu com o início de grandes mudanças no Corpo, tanto na área operacional quanto na área de ensino. A sua chegada ao cargo de Comandante-Geral em 1945, coincidiu com o ano do fim da Segunda Guerra Mundial, onde as operações anfíbias se destacaram como um instrumento relevante para a consolidação da vitória aliada. Observador perspicaz da evolução da guerra, o Almirante Sylvio de Camargo descortinou o caminho que se abria para aumentar a integração das tropas
anfíbias com a Esquadra, criando-se uma demanda operacional para a condução de ações de Fuzileiros Navais junto às Forças Navais, permitindo espaço para o crescimento do Corpo, tanto em termos de efetivo, como de seu inventário, arsenal e doutrina. Criou-se, a partir de então, o paradigma de atuação para as tropas do CFN, não mais voltadas para as operações terrestres, semelhantes às do Exército, e nem meramente aos serviços de guarda. Os Fuzileiros Navais passaram a ter uma tarefa especificamente voltada para as ações da Esquadra, operando em terra, mas sempre a partir do mar.
Seu maior legado para o futuro seria, porém, a busca obstinada e incessante em criar uma unidade de ensino, com instalações adequadas para a formação profissional, aperfeiçoamento e preparação da tropa para os desafios que a guerra anfíbia descortinava. Após muita luta e idas e vindas, foi finalmente obtido o terreno na região do Bananal, na Ilha do Governador, que atendia aos critérios estipulados pelo Almirante Sylvio de Camargo. Após ter sua pedra inaugural lançada em 1948, no dia 28 de dezembro de 1955, foi inaugurado o belo e arquitetonicamente moderno Centro de Instrução do CFN, hoje com a denominação de Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo (CIASC).
Deixando essa contribuição transformadora ao CFN, o Almirante Sylvio de Camargo foi transferido para inatividade e promovido ao posto de Almirante de Esquadra (FN) na reserva remunerada por decreto de 24 de janeiro de 1956, posteriormente retificando para a promoção ao posto de Almirante.
Dessa forma, ao reconhecermos as contribuições marcantes e transformadoras de um mineiro e de um carioca com sangue mineiro para o Corpo de Fuzileiros Navais, nós, mineiros, sentimos grande orgulho em nos associar às manifestações de júbilo pela comemoração dos 217 anos do nosso brioso CFN.
ADSUMUS!
(*) Capitão Silvio Aderne, CMG FN da Reserva, Ocupante da cadeira 83 do IHGMG