Minas é como um país com três falares, segundo a Universidade Federal de Juiz de Fora
A UFJF fez o que chamou de “Esboço de um Atlas Linguístico de Minas Gerais (EALMG)”, para comprovar as diferentes falas dos mineiros
27-07-2023 – 09h:44
Direto da Redação
A rigor, Minas Gerais é um país. Para visualizar bem o que acabou de ser dito, basta pensar na Europa. Quantos estados temos que são maiores do que muitos países europeus? Já pensou nisso?
O povo mineiro tem o seu jeito de falar, e a Universidade Federal de Juiz Fora (UFJF) fez o que chamou de “Esboço de um Atlas Linguístico de Minas Gerais (EALMG)”, para comprovar isso e encontrou “três falares”.
No Norte de Minas, o falar geraizeiro; no Centro e Leste, o falar mineiro; e no Sul e Oeste, o falar caipira. Para esse terceiro falar, tenho um exemplo interessante: fazia o Caminho da Fé, a pé, rumo ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida (SP), quando um fazendeiro nos abordou, a mim e a esposa, para nos dizer: “Temqueterpalpite”!
Mas o sotaque era tão carregado, puxado pelo “R”, que eu, particularmente, não conseguia entender o que ele estava dizendo, mesmo sabendo do falar português. Ele teve que me esclarecer e só fui entender na terceira fala dele, pausadamente.
“Tem que ter palpite”, isto é, quis dizer ele, para ir a pé a Aparecida, subindo e descendo o maciço da Mantiqueira, é preciso ter coragem, força, energia. “Palpite”, no dizer dele.
Vamos ao que nos ensina o “Atlas Linguístico” produzido pela UFJF. Os mineiros foram influenciados por paulistas, no século XVIII, pela corte imperial, africanos “e portugueses vindos do Minho e desenvolveu um falar exclusivo do Estado”. Mas, de fato, o chamado dialeto mineiro surgiu foi no século XIX, com a decadência da mineração de ouro, que esvaía pelo conjunto de estradas alcunhado de “Estrada Real”.
Segundo o atlas, este “é um dos dialetos mais facilmente distinguíveis do português brasileiro, também chamado de “montanhês”.
O falar caipira é encontrado no Sul, Sudoeste e na região do Triângulo Mineiro “parecem falar uma mescla entre o dialeto paulista/caipira (com o “R” retroflexo) e o dialeto mineiro”.
Essa maneira de falar, segundo o atlas, “parece estar em retração em zonas de contato com o falar mineiro; também é chamado de paulista por muitos em Minas Gerais, apesar de não ser idêntico ao falar do interior do estado de São Paulo”.
O Norte de Minas, porque recebeu “povoadores vindos de São Paulo, posteriormente da região central de Minas, e de povoadores vindos da Bahia desenvolveu o dialeto geraizeiro, nome também dado ao povo local”.
Os geraizeiros são chamados de baianeiros ou catrumanos, apesar do dialeto ser mais próximo do mineiro do que do baiano.
Este é o falar dos mineiros, que encanta os que chegam de fora e escutam a musicalidade da fala, logo percebem que essa nossa linguagem é mais apreciada devido a clareza.