Quem fez o anúncio foi Mark Zuckerberg CEO do conglomerado.
Mas os embates estão apenas no início e o grande desafio será o de manter os preceitos da soberania nacional
10-01-2025 às 09h53
Adriano Augusto*
Na tarde de 7 de janeiro de 2025 um dos fundadores e atual CEO do conglomerado tecnológico META, Mark Zuckerberg, veio a público pronunciar que empresas como o Facebook, o Instagram e a Threads (três das redes sociais mais utilizadas em todo o mundo) terão drásticas mudanças em suas políticas, bem como o tipo de informações as quais poderão circular nas plataformas.
Com o discurso de que tanto governos quanto as mídias tradicionais têm tentado trazer travas na atuação de suas empresas, Zuckerberg afirmou que “é chegado momento de retornarem às raízes da liberdade de expressão no Facebook e no Instagram”. Não à toa, as novas condutas serão adotadas
a tempo, dias antes da posse do segundo mandato de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos. Inclusive, a vitória de Trump foi destacada como um ponto de inflexão cultural nesta decisão de afrouxar o serviço de checagem de informações,
privilegiando aquilo que foi chamado de “discurso livre”, sem nenhuma medida, ao invés da verdade dos fatos.
A fala do dirigente da META, que é um dos homens mais influentes e poderosos do planeta, se baseou em cinco pontos, os quais venho destrinchar a todas e todos vocês que nos leem. A primeira mudança será justamente a brusca diminuição da verificação de informações postadas pelos usuários das redes. As Big Techs vinham sendo intimadas a se responsabilizarem pelas informações que deixavam expostas em seus sites. Desta forma, algoritmos da própria META entravam em ação para verificar se os conteúdos exibidos ali eram de fato verdadeiros, se configuravam como discurso de ódio e manifestações de violência ou até mesmo formas de pornografia e pedofilia, diminuindo assim os danos da comunicação digital. Sob pretexto de que os algoritmos de suas próprias empresas destinados a sanear o tráfego de informações são falhos, Zuckerberg, indicou que a partir de agora notícias potencialmente falsas não serão
banidas. De acordo com a nova política, haverá abas com comentários para que usuários previamente cadastrados possam fazer ponderações, que terão sua pertinência colocada à prova por outros usuários da rede. Como o próprio empresário assume, uma quantidade maior de postagens maléficas terá circulação livre nos sites.
Mark diz acreditar que os instrumentos de filtragem têm cometido muitos erros e reproduzido muita censura. Na prática, este é um ponto de virada para que ataques políticos infundados e notícias falsas circulem entre a população.
Em segundo lugar, opiniões relacionadas a temáticas como gênero e imigração serão irrestritamente mantidas nas redes sociais, mesmo que as referidas expressem discursos de ódio, xenofobia ou racismo. O terceiro ponto indicou que apenas conteúdos classificados como “muito violentos ou ilegais” terão suas postagens removidas. Temáticas como afirmações políticas mentirosas e notícias potencialmente falsas não serão eliminadas. Sobre isso, Mark diz que “Haverá uma troca. Pegaremos
menos conteúdos perversos, mas diminuiremos as injustiças de derrubar contas inocentes falsamente acusadas”. Em seu quarto ponto o dirigente diz que serão retomados os conteúdos cívicos de orgulho e patriotismo (principalmente estadunidense). Exemplo da forma com a qual estes três pontos se relacionam é de
que, se qualquer opinião sobre imigração terá sua veiculação garantida (sendo perversa ou não) e os conteúdos de orgulho cívico serão incentivados, grupos supremacistas que pregam a morte de determinadas minorias étnicas terão praça livre para desenvolverem e difundirem seu discurso racista para toda a população. Além disso, opiniões criminosas já cientificamente derrubadas, como a de que pessoas LGBTQIA+ têm distúrbios mentais também serão mantidas no ar sem nenhum
constrangimento ou culpabilização para seus anunciantes. Serão garantidos, assim, ataques e mentiras em detrimento do respeito mínimo a todos os usuários das redes.
Ao se pronunciar sobre o quinto e último ponto, Zukerberg se valeu de toda sua prepotência. Criticou as instituições europeias, dizendo que o alto nível de controle estabelecido por elas não permite sequer que a inovação aconteça naquele
continente. A seguir, afirmou lamentando de que a China proibiu o uso de seus aplicativos no país. Ainda, sugeriu a existência de cortes judiciais secretas operando na América Latina que retiram conteúdo do ar silenciosamente. No fim de sua fala, o
empresário alegou em tom pouco amistoso “vamos trabalhar com Trump para combater governos ao redor do mundo que estão perseguindo empresas americanas e tentando censurá-las”.
A você que nos lê, é importantíssimo lembrar que nem mesmo o mais imponente dos faraós, o mais influente dos imperadores romanos ou o Khan mais poderoso da história do império mongol chegou próximo do tamanho do poder concentrado que tem hoje
Mark Zuckerberg. O número de usuários de aplicativos e plataformas da META somados ultrapassam a casa de 3 bilhões de pessoas. Não se trata, aqui, de apenas mudanças na forma como empresas escolhem conduzir seus negócios, mas o poder de influência sobre as condutas e escolhas de mais de um terço dos habitantes do globo terrestre.
O Brasil tem se esforçado para balizar a presença destas Big Techs e como elas interagem com a população. Contudo, enquanto a nação não passar de mera usuária, alimentadora dos bancos de dados americanos, estará rendida aos desígnios e
interesses de quem só interessa o mais espúrio lucro. Os embates com estas gigantes estão apenas no início e o grande desafio será o de manter os preceitos da soberania nacional sendo que sequer temos um projeto de desenvolvimento em comum a ser
perseguido.
*Adriano Augusto é cientista do Estado