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Melhor, mais saudável e rentável poupança é o investimento que é feito em si mesmo

Melhor, mais saudável e rentável poupança é o investimento que é feito em si mesmo

O importante, é não ter desperdiçado o espírito de criança ao longo da caminhada, para com ele contar principalmente quando o processo de envelhecimento físico ganhar contornos

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14-08-2023 - 08h:07

Anes Otrebla*

Envelhecer, fisicamente, é inevitável, pelo menos nos tempos atuais, mas o futuro promete tornar o homem e a mulher biônicos. Deu um problema aqui, troca-se o estômago, o fígado ou o coração e assim as pessoas no futuro irão vivendo mais, se nada acontecer daqui para a frente para comprometer a vida no planeta.

Mas, mesmo hoje há possibilidade de protelar o envelhecimento físico com uma boa alimentação a base de frutas, legumes e verduras e demais alimentos saudáveis colocados à nossa disposição, acrescentados de exercícios físicos com regularidade e principalmente andar pequenas e longas distâncias.

O importante, a essa altura, é não ter desperdiçado o espírito de criança ao longo da caminhada, para contar com ele sempre e principalmente quando o processo de envelhecimento físico ganhar contornos mais evidentes.

Nunca prescindi do meu espírito de criança. Sempre joguei bolinhas de gude. Não na prática do dia a dia, mesmo porque elas já não dão sopa por aí, como era o caso na infância e adolescência, quando descalço, de calção e sem camisa, debaixo do sol inclemente de Montes Claros, no Norte de Minas, “rapava”, como dizia na ocasião, as bolinhas de todos ali na redondeza.

Hoje em dia jogo bolinhas de gude na lembrança e nos meus textos, como este por meio do qual me dirijo aos meus respeitáveis leitores, e continuo a exercitar a juventude de então para manter o espírito jovem e se possível o meu ser integral. E com autonomia de ir e vir.

Nunca parei de jogar finca em minha vida. Nem depois de o asfalto açambarcar as ruas e lhes esconder a terra vermelha, como vermelha é a terra de Montes Claros. Atualmente, jogo finca no asfalto, quando burilo as recordações de uma infância e adolescência felizes, a brincar com os pés no pó da terra.

Daqui da minha janela, em profundidade, com vistas para a Serra do Curral, o meu espírito de criança voa nas araras de então, por aqui chamadas pipas, quando chegava o mês de agosto. Era uma gostosura sentir o espírito percorrer toda a linha, da manivela à arara, e se apoderar dela.

Quantas e quantas vezes fui e ainda irei às nuvens ao observar daqui da janela a euforia dos jovens do aglomerado próximo a empinarem pipas, como se diz, na munheca. Eles não têm o costume de usar manivelas de madeira, semelhante à minha (fotos), afetuosamente confeccionada pelo sobrinho Reinaldo Batista Murça, engenheiro de profissão, e a mim dada de presente já faz anos.

O adulto existente em mim é fruto do espírito infantil, de quando se tinha total liberdade de correr com os braços abertos a furar a densa camada de ar à frente cheio de endorfina.

Quando então se estava no início de uma caminhada de Santiago de Compostela, dando três passos para frente e um para trás, a fim de demorar um pouco mais a chegar à Catedral celeste.

Se posso deixar, aqui, um pitaco, digo a quem interessar possa, a melhor e mais edificante poupança é o investimento de cada um em si mesmo, a partir da manutenção do espírito de criança, tarefa individual e intransferível. Não há ninguém melhor do que eu mesmo para investir em mim.

Já que ninguém faria isso por mim nem para mim.

Nem para você que acabou de ler o texto.

*Jornalista e escritor

Imagem da Galeria Com a manivela de oito cruzetas, a criança que há no adulto voa alto, vai às nuvens | Créditos: Anes Otrebla
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