
Médicos Sem Fronteiras - créditos: MSF
27-09-2025 às 14h00
De Danielle Barros e Paulo Braga – Médicos Sem Fronteiras para o Diário de Minas*
A implacável ofensiva israelense na Cidade de Gaza forçou a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) a suspender suas atividades médicas vitais na região devido à rápida deterioração da situação de segurança, incluindo ataques aéreos contínuos e tanques avançando a menos de um quilômetro de nossas instalações de saúde. Os ataques crescentes das forças israelenses criaram um nível inaceitável de risco para nossa equipe, resultando na interrupção de serviços médicos vitais. A organização continua oferecendo atendimento no território nas regiões sul e central, e em Khan Younis.
“Não tivemos escolha a não ser interromper nossas atividades, pois nossas clínicas estão cercadas pelas forças israelenses. Essa é a última coisa que queríamos, já que as necessidades na Cidade de Gaza são enormes, com as pessoas em situação de maior vulnerabilidade, como bebês em cuidados neonatais; pessoas com ferimentos graves e doenças fatais, incapazes de se mover e em grave perigo”, relata Jacob Granger, coordenador de emergência de MSF em Gaza.
Embora um grande número de pessoas tenha fugido para o sul devido às ordens de evacuação, ainda há centenas de milhares de palestinos na Cidade de Gaza. São pessoas que não conseguem sair e que não têm outra opção senão ficar.
Aqueles que podem sair enfrentam uma escolha impossível: permanecer na Cidade de Gaza, sob intensas operações militares e o colapso da lei e da ordem, ou abandonar o que restou de suas casas, de seus pertences e de suas memórias para se mudar para áreas onde as condições humanitárias estão se deteriorando rapidamente.
Ao mesmo tempo, hospitais parcialmente operacionais em todo o território estão sobrecarregados devido à grave escassez de profissionais de saúde, suprimentos e combustível. Os pacientes enfrentam enormes dificuldades para acessar as unidades de atendimento, muitas vezes chegando em estado crítico.
Somente na semana passada, apesar da intensificação da ofensiva, nossas clínicas na Cidade de Gaza realizaram mais de 3.640 consultas e trataram 1.655 pacientes com quadros de desnutrição. Também atendemos pessoas com lesões traumáticas graves, queimaduras, gestantes e pacientes que necessitam de cuidados médicos contínuos, mas que não têm condições de deixar a cidade.
Esses números evidenciam a dimensão das necessidades médicas enfrentadas atualmente. Embora MSF tenha sido forçada a suspender suas atividades na Cidade de Gaza, nosso objetivo é continuar apoiando os principais serviços nas instalações do Ministério da Saúde local, incluindo os hospitais Al Helou e Al Shifa.
O acesso e o fornecimento de água potável, alimentos, abrigo e cuidados são cada vez mais restritos. Os palestinos na Cidade de Gaza estão sendo alvo de bombardeios implacáveis. Eles estão exaustos e estão sendo deliberadamente privados de itens básicos de sobrevivência.
Apelamos pelo fim imediato da violência e por medidas concretas para proteger os civis. As autoridades israelenses devem garantir imediatamente a segurança e o acesso irrestrito para que as organizações humanitárias continuem realizando seu trabalho na Cidade de Gaza. É igualmente essencial que sejam garantidas condições adequadas para a prestação segura e contínua de cuidados médicos e de assistência humanitária — condições essas que, evidentemente, não estão em vigor neste momento.
Nota do editor:
No sul de Gaza, as equipes de MSF continuam a oferecer cuidados intensivos. Em Khan Younis, a organização apoia o Hospital Nasser e administra três centros de saúde primária. Na região Central do território, MSF apoia o departamento de emergência e a clínica de tratamento de traumas do Hospital Al-Aqsa, e opera dois hospitais de campanha em Deir Al-Balah.
Danelle Bastos/ Paulo Braga –ASSESSORIA DE IMPRENSA
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