General Mourão e José Altino Machado - créditos: José Altino
07-12-2025 às 08h08
José Altino Machado (*)
Fuçando velhos guardados, deparei-me com revista, jogada a canto e saco, com foto de ex-vice-presidente na capa. Gente boa, séria e sem mácula em seu histórico militar ou mesmo de vida.
A mensagem de chamada na capa era “Protetor do Garimpo”, ação a ele dirigida por haver me recebido junto a outros amigos, inclusive como aparece na foto exibida, ignorado, o também prefeito de então da cidade mineira de Carangola. Ao que me recordo, ao assunto tratado, sequer fora Amazonia, que dirá garimpo.
Se mais um pouco pelas pesquisas, haveria de lá colocar em destaque, se coubesse, o inteiro exército nacional, uma vez que em 24 de agosto de 1984, dia do soldado, tive a honra em ser homenageado por ele, o Exército Brasileiro, em Manaus, com diploma e tudo como amigo da Força. E tenho para mim que Mourão sequer era Coronel.
Foi bom encontrar este velho folhetim do Mino Carta, pelo menos lembrei que ao conhecê-lo, em evento, em São Paulo, teria dito a ele, que seria danoso às informações e à sociedade, o fato de por motivos econômicos dispensarem grandes jornalistas opinativos, abrindo espaços tão somente a “foquinhas”, repórteres que informavam com emoções juvenis próprias.
Outro águia da imprensa presente ouvindo o papo, intrujão, logo opina que o salário de um creditado e renomado jornalista daria para pagar de três a quatro principiantes divulgadores.
Mediante isso, calei-me, sem saber que logo em dias futuros, as pechas maldosas daqueles meios, recairiam sobre toda nossa atividade.
Memória puxa memória e essa: formidável. Outro vice-presidente e de carreira política tão brilhante quanto a do militar citado, Aureliano Chaves. Este um amigo, forjado nas rodas respeitáveis dos costumes mineiros.
Foi dele como ministro de Minas e Energia a criação do Conselho Superior de Minas daquele ministério, ao qual poucos compareciam, até que nos nomearam. A sala de reunião, por ele presidida, antes vazia, logo após, ninguém mais cabia. Todos os interesses buscando, educadamente, se contraporem, compareciam, mas intenções eram melhores.
Da presidência da Petrobras, passando por muitos outros até a, então, empresa pública. Vale do Rio Doce. Lá todos estavam.
Não havendo, entretanto, presidentes, nem lobistas e nem profissionais de instituto algum.
Sereno, mas com autoridade, o ministro mineiro cunhou as célebres frases que jamais esqueci:
– “Quem não gostar de garimpeiros bom brasileiro não é, homens desta estirpe nos legaram a grande expansão do território Nacional e nos cabe ordená-lo e administrá-lo com justiça”.
Muito, todos juntos, construímos. Éramos um somatório de petroleiros, grandes mineradores, sonhadores, escavadores de chão e tudo afim. O mais importante foi o aplacar das diferenças e o estabelecimento de metas comuns ao interesse nacional.
Dali surgiu, até como proposta nossa, o pagamento de taxas para pedidos de licenciamentos para pesquisas minerais. Porém, esquecidos ficamos quanto ao quesito honestidade econômica e política. Não cuidamos que tais fundos fossem dirigidos diretamente ao caixa da autarquia gerenciadora da área, a DNPM para melhor comprimento de seu mister.
Assim, indo ao caixa da União de lá não jamais tem saído para seus fins e quando não muito para “pagamento” de emendas ao Congresso numa permuta de favores e vontades do executivo. Valha-nos, Deus…falta-nos decoro.
A consequência está aí, centenas de milhares de processos licenciadores paralisados e acumulados, ainda que existindo, determinações constitucionais obrigatórias, jamais cumpridas pela administração do Estado. O que tem resultado em ações destruidoras de uma inteira atividade produtiva, levianamente alcunhada, hoje, de ilegal e criminosa.
Criamos mesmo em nosso país, mentes realmente brilhantes inda um tanto delituosas, quanto a esparramarem e cavalgarem informações de fins unicamente ambiciosos.
Como dizia Aureliano Chaves, “vocês descobrem e ocupam oceanos de ambicionadas riquezas, que muitos espertamente desejam, este é o preço. Se acautelem e lutem por elas, vale a pena”.
E bem claramente, a ninguém é dado o direito de se auto legalizar. Por prevaricações e omissões, somos todos taxados de “ilegais”, nos chegando ainda a alcunha de criminosos, antes de qualquer ato jurídico condenatório. Só mesmo bala e corrida de “puliça”, após ação destrutiva de nossos bens, antes de qualquer justo e honrado julgamento.
Quis o destino, essa é uma colocação que sobrinho neto adora fazer quando se refere a mim. Depois ainda falarei sobre ele. O meu destino levou-me, a ser apadrinhado por homem de elevada cultura e honradez: Bilac Pinto. Inclusive responsável por meus caminhos na vida estudantil.
Mineiro de boa estirpe, de grande saber jurídico, deputado federal e, finalmente, ministro do Supremo Tribunal federal. Ao seu redor, em Minas ou Brasília, estávamos nós, seleto grupo de adesão, pela decência, seriedade e amor a este país. Aureliano Chaves, sempre presente, Tancredo Neves, Francisco Rezek e tantos outros que faziam engrandecer por, e através deles, minha presença.
Ainda estes dias, assisti, a um ministro dessa Casa a que honrou Bilac, anunciar escolhendo e determinando quem poder tem para criar impedimentos a suas vontades com cassação. Um claro acinte ao poder Senatorial brasileiro, a quem cabe indiscutivelmente esta ação, não somente a ele, mas até àquele que os indica, o presidente da República.
Tenho para mim que a síndrome do poder adquirido lhe subiu à cabeça, regada por um bom vinho português.
Será mesmo que somos nós os grandes vilões nacionais, taxados de “criminosos indesejados”, ou os safados são outros blindados por mantos de poder?
Ou a brasilidade é toda bandida…
BH/GV/Macapá 07/12/2025
(*) Jose Altino Machado é jornalista

