
Presidente Lula tenta mostrar que está em forma para mais uma campanha à reeleição - GZH
16-10-2025 às 14h04
Samuel Arruda*
Em meio ao turbilhão de disputas regionais, expectativas eleitorais e desafios institucionais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva articula, desde já, suas estratégias para a reeleição em 2026 — com o claro objetivo de estender seu protagonismo histórico. Se eleito mais uma vez, Lula se tornará o presidente com mais mandatos no Brasil, reduzindo ainda mais a distância para ícones como Getúlio Vargas, que governou por longos períodos, embora nem sempre por mandatos legais consecutivos ou mediante eleição direta.
O cenário político atual mostrado por pesquisas recentes em Minas Gerais mostram que o governador Romeu Zema (Novo) é preferido por muitos eleitores mineiros num eventual segundo turno contra Lula. Essa realidade sinaliza desafios locais, num estado que historicamente tem sido termômetro decisivo nas disputas presidenciais. Para viabilizar sua vitória, Lula vem intensificando suas agendas por Minas — um dos maiores colégios eleitorais do país — buscando palanques fortes, alianças regionais estratégicas e visibilidade popular.
Em Minas Gerais, Lula já articula nomes para compor uma chapa competitiva ao governo do estado, visando assegurar apoio e influência local. Rodrigo Pacheco (PSD) é o candidato mais almejado pela base petista, embora haja incertezas sobre sua disposição em concorrer. E agora, com a aposentadoria confirmada do ministro Barroso no STF – Supremo Tribunal Federal, Pacheco pode ser convidado para o Supremo e nomes como Marília Campos (PT), Alexandre Kalil (PDT), Reginaldo Lopes (PT) são citados e até mesmo Alexandre Silveira (PSD) aparece nas conversas de bastidores em Minas como um nome que agrega mais entre as diversas correntes políticas do estado.
Lula tem reforçado suas iniciativas voltadas ao eleitorado de baixa renda, com programas de apelo social direto, como o “Gás do Povo”, que promete distribuir botijões gratuitamente para milhões de famílias. Esse tipo de medida tem duplo efeito: reduz o desgaste da população que vive com pressões econômicas fortes, e gera vínculo emocional com a campanha. Também está em debate legislações tributárias que favorecem classes de renda mais baixas.
Embora ainda não haja uma campanha formal, Lula já sinaliza que pretende disputar; isso tem dois propósitos: evitar dissensões internas dentro da coalizão aliada, e desarticular o discurso opositor de que ele possa não estar no pleito. Confirmar a candidatura mais cedo ajuda a estabilizar a base, consolidar compromissos regionais e desencorajar traições.
Lula adota uma postura de confronto político com adversários como Romeu Zema e outros nomes em ascensão, denunciando o que ele chama de falsas promessas ou incoerências em discursos oposicionistas. Ao mesmo tempo, busca unir forças com partidos e líderes de centro ou centro-esquerda para ampliar sua frente eleitoral.
A saúde de Lula mostra disposição física com forte presença, e na sua política isso será tema central fortalecendo essa condição nas falas do presidente. Ele próprio já admitiu que precisa estar em bom estado de saúde para assumir uma nova tentativa de mandato. Além disso, sua presença constante física em estados-chave, como Minas Gerais, reforça visibilidade e aproximação com o eleitorado local.
Existem obstáculos que não podem ser ignorados, apesar das articulações cuidadosas, Lula enfrenta dificuldades significativas como:
Desgaste popular e críticas da oposição principalmente em temas como economia, inflação, crise fiscal e expectativas frustradas. Se esses temas dominarem o debate, podem atrapalhar a narrativa de “gestão eficiente” que ele busca manter.
A força de adversários regionais consolidados, como Zema em Minas, que aparece bem posicionado em pesquisas locais, a coesão da base aliada é muito importante. O PT e seus aliados precisarão manter unidade frente a pressões internas, vaidades regionais e eventuais disputas que podem surgir para cargos estaduais ou federais. Loops de traição ou deserção podem custar caro.
Limitações institucionais ou legais, seja em termos de agenda legislativa, resistência de poderes locais ou mesmo obstáculos econômicos nacionais que limitam a capacidade do Executivo de entregar resultados tangíveis.
Mas, o que está em jogo, se promovida com êxito uma vitória em 2026, é a consolidação de Lula não apenas como um presidente reeleito, mas como figura histórica com mais mandatos presidenciais em eleições — uma liderança que ultrapassa simplesmente realizações de governo, entrando no campo da herança simbólica. Isso pode lhe garantir lugar permanente nas discussões sobre o Brasil pós-redemocratização.
Por outro lado, uma derrota ou uma performance aquém do esperado não implicará em apagamento histórico — mas certamente diminuiria a aura de invencibilidade eleitoral que Lula pode estar construindo.
Lula já está em campanha, mesmo que formalmente a disputa de 2026 ainda não tenha começado. Ele sabe que vencer será esforço de concreto: alianças bem desenhadas, presença forte nos estados decisivos, mais programas sociais de impacto imediato, discurso competitivo, e atenção à saúde e imagem pública. Se tudo sair como planejado, 2026 poderá ser seu quarto mandato ou ao menos mais um capítulo capaz de colocá-lo como o presidente mais vezes eleito — marca rara no Brasil, que o colocaria em patamar praticamente único na história. Mas para isso, é preciso manter coesão, evitar ruídos, entregar resultados e resistir aos ataques de oposição e à pressão das crises econômicas.
*Samuel Arruda é jornalista