Penso nas nossas conversas quando fui subchefe ao longo da chefia dele e, e na incrível capacidade dele de descomplicar problemas e agradar a todos.
04-12-2024 às 09h49
Marisa Rosaria Barbato*
A vida é mesmo assim… Pessoas vão embora sem avisar, sem se despedir no momento de ir, mesmo que não queiram, mesmo que amem profundamente estar aqui. Ricardo (Ricardo Henrique Carvalho Salgado), era um desses raros exemplos de amor à vida, um ser de serenidade, generosidade e inspirador de segurança. De alma sensível, modos suaves, parceiro de todas as horas, com uma habilidade natural de apaziguar. Simplificava o complicado, desarmava os conflitos com naturalidade, e a e aproximava as pessoas por sua presença e ternura.
Hoje, meu coração está tomado pelas lembranças. Recordo, com carinho, daquele dia em que, logo que cheguei na Faculdade o indiquei para uma banca de concurso em Juazeiro. Fomos juntos e rimos tanto! Tudo parecia mais leve ao lado dele. Lembro também das mensagens e ligações tarde da noite, sempre com aquele convite insistente e afetuoso: “Vem pra cá!”, chamando-me para me juntar à turma na tabacaria, onde, além de companhia, sempre encontrei um acolhimento caloroso.
Penso nas nossas conversas quando fui subchefe ao longo da chefia dele e, e na incrível capacidade dele de descomplicar problemas e agradar a todos. Penso naquele encontro inesperado em Santa Tereza, quando me chamou para me juntar à turma, e na alegria contagiante que demonstrava sempre ao falar sobre a paternidade com brilho no olho e no carinho e admiração que sempre manifestava ao falar também do pai dele. Penso naquela vez que, apesar de ter outros compromissos, fez questão, e deu um jeito, de dar um pulo na minha casa, quando avisei que receberia uma turma de última hora.
E há ainda a última vez que o vi… recentemente na Savassi, perto do Redentor… Estava sozinho, introspectivo, diferente. Os olhos tinham uma tristeza que não reconheci. Tentei puxar conversa, compreender, mas falamos apenas da vida, de coisas cotidianas. Não insisti… Ainda assim, deixei aquela conversa com uma inquietação. Nós despedimos com um abraço… e não sabia que seria um adeus. Se soubesse o teria abraçado muito mais…
Hoje, restam as memórias, que afloram como cenas de um filme: cada gesto, sorriso e palavra está gravado. Ricardo era um presente para todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo.
Ricardo, meu amigo… você fará muita, muita falta, mas o que você deixou conosco, seu amor, sua bondade, sua essência, permanece eterno em nossos corações.
Leve sua leveza por onde estiver… e descanse em paz, “meu eterno Chefe!
*Professora de Direito do Trabalho na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).