
O desmatamento pode variar, dependendo da fonte, de 17% a 22%, muito próximo dos 25% que os cientistas consideram como o ponto de não retorno. CRÉDITOS: Reprodução
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26-05-2025 às 09h54
João Capiberibe*
Quem fala com vocês é um cara inconformado com a destruição silenciosa dos meios naturais, incluindo a Amazônia, onde vivo.
Saibam que a temperatura média do planeta já aumentou 1,5 ºC desde a era pré-industrial. Isso não é pouco. Como consequência, estamos enfrentando eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes, intensos, duradouros e devastadores, colocando em risco o futuro da humanidade.
Você tem ideia de quanto da floresta amazônica já foi desmatada?
Anotem aí: o desmatamento pode variar, dependendo da fonte, de 17% a 22%, muito próximo dos 25% que os cientistas consideram como o ponto de não retorno — ou seja, o momento crítico em que a floresta, incapaz de se regenerar, é substituída por uma vegetação de poucas árvores e gramíneas, semelhante ao cerrado. Isso provoca mudanças drásticas no ecossistema e no clima, tornando as alterações irreversíveis.
Tá lembrado que o Amazonas secou em 2023 e voltou a secar em 2024?
Sim, tô lembrado sim! Mas depois vieram as chuvas, o rio encheu, e tudo voltou ao normal.
É aí que tu te enganas! A castanha, o açaí, o pracaxi e o camarão — entre outras espécies da biodiversidade que consumimos — tiveram quedas vertiginosas nas safras de 2025, tornando-se escassos no mercado. E, quando encontrados, são vendidos por preços que poucos podem pagar. A queda na produção dessas espécies deixa milhares de famílias extrativistas sem fonte de renda, agravando a pobreza na região.
Secou em 2023, voltou a secar em 2024… o que podemos esperar em 2025? Os dados meteorológicos de janeiro a abril já indicam chuvas abaixo da média em áreas importantes da Amazônia. Somados a outros fatores climáticos em andamento, esses dados podem anunciar o terceiro ano consecutivo de seca, o que só será confirmado em novembro, quando a estiagem atingir o seu ápice — justamente no período da COP 30, em Belém.
Se a seca se confirmar durante a COP 30, o mundo terá diante de si uma contradição escancarada: enquanto líderes globais discutem soluções para o clima, a própria floresta que sedia o evento estará agonizando. Isso poderá gerar maior pressão por compromissos mais concretos — ou, tragicamente, poderá apenas reforçar discursos de solidariedade vazia, se não houver ação à altura da urgência climática.
E é aí que vocês entram.
A luta pelo clima não é algo distante. Ela começa agora, com a tua voz, com a tua atitude, com a tua escolha. Não dá mais para esperar que os mais velhos resolvam tudo. É o teu futuro que está em jogo. Organizem-se. Cobrem das autoridades. Apoiem e fortaleçam iniciativas sustentáveis em suas comunidades. Lutem por políticas públicas que protejam a floresta e garantam justiça climática e social.
Se a floresta cair, não haverá futuro para ninguém. Mas se vocês se levantarem, o mundo ainda pode ter uma chance.
Jovens da Amazônia, uni-vos!
*Ex-preso político, ex-prefeito, ex-governador, ex-senador, autor da Lei Complementar 131/2009, a Lei da Transparência. Atualmente empresário da bioeconomia. Ambientalista sempre!