Ilha de Tapuoca no rio Pará, Amazônia - créditos: Unesp

19-11-2025 às 11h00
Assessoria de Comunicação/Unesp para Redação do Diário de Minas
Um observatório situado em ilha no rio Pará, no estado do Pará, vai receber o mais novo projeto de construção sustentável desenvolvido por docentes da Unesp. Elaborado em parceria com docentes da Universidade Federal do Pará (UFPA) e financiado por meio do Programa Integrado de Desenvolvimento Sustentável da Região Amazônica (Pró-Amazônia), do CNPq, o projeto se baseará em recursos naturais típicos da Amazônia para desenvolver um sistema de construção leve e resistente, de características modulares.
A iniciativa segue o rastro de outra experiência no campo da construção sustentável desenvolvida por docentes da Unesp, a Casa da Floresta. A Casa da Floresta possui uma estrutura geodésica construída com ripas de bambu e folhas da palmeira buçu. Além do uso de materiais regionais, a estrutura apresenta aberturas na altura do solo e uma claraboia que contribuem para a circulação do ar, o resfriamento do ambiente e o aproveitamento da luz natural.
A Casa da Floresta foi construída como resultado de uma parceria entre a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Unesp e o Instituto Peabiru. Está localizada no município de Acará, na Grande Belém, e serve como um espaço aberto ao público que se dirige à cidade durante a realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), articulando conhecimento científico, cultura e saberes tradicionais, promovendo a busca de soluções para conjugar o desenvolvimento social e a preservação da floresta.
A Casa da Floresta foi projetada pela arquiteta Juliana Cortez, docente da Faculdade de Ciências e Engenharia da Unesp, câmpus de Itapeva. Durante os preparativos para a construção, ela conheceu o professor da UFPA Cristiano Mendel, vice-diretor do Instituto de Geociências da UFPA. A UFPA atua na gestão e no desenvolvimento de pesquisas junto ao Observatório Magnético de Tatuoca. O nome designa uma ilha desabitada onde, desde 1957, funciona o observatório, distante 12 km de Belém.
A ilha vai receber o protótipo do novo sistema de construção. Ele será composto de módulos sustentáveis, de fácil transporte, que possam ser encaixados e fixados conforme o projeto do imóvel. A expectativa é que o conceito de estruturas modulares possa ajudar comunidades ribeirinhas da região, que muitas vezes enfrentam dificuldades logísticas na construção de seus imóveis.
“Diferentemente da Casa da Floresta, em que montamos um pavilhão geodésico, nesse projeto queremos criar peças modulares pré-fabricadas, que sejam leves e que possam ser colocadas em um barco e montadas no próprio local”, explica Cortez.
O Observatório Magnético de Tatuoca é vinculado ao Observatório Nacional, órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Ele produz medições contínuas do campo geomagnético terrestre, fornecendo dados para uma rede global com mais de 200 observatórios pelo mundo, chamada Intermagnet. No Brasil, apenas o município de Vassouras, no Rio de Janeiro, possui um observatório semelhante.
A escolha por erigir o observatório em uma pequena ilha amazônica sem ocupação humana e com poucas construções é estratégica. A proximidade com o Equador geográfico e o Equador magnético da Terra faz de Tatuoca um local privilegiado para a captação de dados magnéticos. Já a ausência de moradores e de atividades econômicas impede que outros elementos alterem a assinatura, as características magnéticas, da área e interfiram na sensibilidade dos instrumentos que analisam a variação do campo magnético.
Segundo os pesquisadores que atuam no local, o movimento de um automóvel a cem metros de distância dos equipamentos já produz “ruídos” que alteram as medições. Na Ilha de Tatuoca, não existem automóveis.
Essa sensibilidade dos dispositivos do laboratório é mais um motivo para se investir em um projeto que aplique materiais naturais na construção e constitui a principal razão para escolher a Ilha de Tatuoca para receber o protótipo. “A presença de um material ferromagnético, como um vergalhão de aço ou mesmo um parafuso, pode criar uma fonte interferente e provocar variações na leitura dos dispositivos, contaminando os dados que são fornecidos para centros de todo o mundo”, explica Mendel.
Embora o uso de materiais construtivos naturais seja algo fundamental para o observatório, a ideia é que o projeto ofereça soluções para um público mais amplo. Os pesquisadores explicam que o contexto amazônico impõe algumas situações desafiadoras para a construção de casas e imóveis em geral. O transporte de materiais de construção, por exemplo, muitas vezes precisa ser feito por canoas que entram nos rios e igarapés e depois são carregadas à mão até o local da obra, o que pode encarecer ou mesmo inviabilizar o projeto. O uso de barcos ou máquinas maiores, por outro lado, tem o potencial de causar danos à vegetação e ao ambiente local.
“É dessa forma que sempre foi feito pelas populações ribeirinhas e tradicionais na Amazônia. Respeitar esse contexto é fundamental. Surge, então, a necessidade de uma arquitetura adaptada à realidade amazônica, que é a chave do projeto. A aplicação no observatório da ilha de Tatuoca será um teste de prova, porque, se funcionar ali, funcionará em qualquer lugar na Amazônia”, afirma Cortez.
A coordenação do projeto ficará a cargo do professor Carlos Emmerson Ferreira da Costa, docente da UFPA e responsável pelo Laboratório de Óleos da Amazônia, localizado no Parque de Ciência e Tecnologia Guamá, em Belém. Costa lidera uma equipe de mais de 200 pesquisadores, de perfil multidisciplinar, que se dedicam ao estudo e prospecção de insumos da Amazônia para setores de alimentos, cosméticos e bioprocessos. O conhecimento acumulado pelo grupo sobre as características, funcionalidades e aplicações desses produtos locais é uma das chaves do projeto.
Fonte: Unesp

