Há um abismo entre os 10% de aumento da produção de grãos em Minas e a fome urbana
Enquanto os empresários do agronegócio comemoram o aumento da safra mineira de grãos, na capital, quem anda pelas ruas centrais tromba com a fome dos desvalidos.
12-12-2022
06h:16
Berto G.M. de Magalhães*
A notícia de que a safra de grãos mineira deverá ter aumento de 10%, como informa a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), é uma notícia boa.
Resta saber, para quem? Boa para os empresários do agronegócio, que ficam de olhos grandes nos lucros, porque podem exportar um tanto mais de grãos e faturar mais dólares.
Diante de uma notícia desta, a gente tem a impressão de estar em dois brasis ao mesmo tempo. O do agronegócio, dos empresários ricos e poderosos, produtores de grãos em alta escala, e o da fome de milhares de mineiros, consideravelmente aumentada nesses últimos quatro anos.
Só quem tem o costume de andar pelas ruas da cidade como Belo Horizonte, a capital mineira, tem condição de fazer uma afirmação dessa – é só fazer a experiência –, atravessar lugares onde há maior número de pessoas transitando para ser abordado por homens ou mulheres pedindo para lhes comprar “uma quentinha”.
Outra boa notícia para o agronegócio, é que a safra de grãos do Brasil também vai aumentar e a expectativa é de um aumento de 15%, como divulgado pela Conab – Companhia Nacional de Abastecimento.
Bom seria se pelo menos parte dessa boa quantidade de grãos pudesse chegar às famílias que não têm o que comer.
Bastaria os empresários do agronegócio desviarem um pouco o olhar para enxergar a realidade urbana e assim terem a oportunidade de dias ainda melhores caso venham a participar de um movimento pessoal ou em grupo, com o intuito de acabar com a fome dos que nada têm.
O gerente de negócio da Faemg, Caio Coimbra diz que, em Minas, milho e soja são as principais culturas de grãos e representam 89% da área plantada. “Temos um aumento de área plantada de 4%, de 4 milhões para 4,2 milhões de toneladas, e a produtividade deve aumentar 5,7%”, divulgou ele.
O milho tem custo de R$ 73,00 a saca de 60 Kg e a soja em grãos R$ 162,00 reais.
Por um lado, tudo muito bom, mas por outro, convém investigar o porquê do interesse estrangeiro pelo nosso milho e soja. Simplesmente porque são matérias-primas para engordar os animais e outros usos derivativos.
De uma maneira disfarçada, Minas e o Brasil continuam sendo explorados como sempre, desde quando a esquadra de Pedro Álvares Cabral invadiu a costa brasileira e deparou com os índios, os verdadeiros proprietários das terras.
Com as condições climáticas estáveis em 2022 é possível que a safra mineira supere as expectativas, porque é sabido que 93% da produção de grãos em Minas depende das chuvas.
Considerando que 89% da área plantada é de lavouras de soja e milho, pouco espaço sobra então para a produção de outras lavouras para saciar a fome com a qual, quem mora em centros grandes como a capital mineira, tromba com ela nas ruas dessa cidade aniversariante, no dia de hoje, 12 de dezembro, 125 anos completos, em 2022.
*Jornalista.