
Baterias de fornos de carvão da Aperam Bioenergia no Alto Jequitinhonha - créditos: divulgação
05-03-2025 às 08h28
Soelson Araújo*
A Aperam Bioenergia é uma empresa do conglomerado industrial multinacional Arcelor Mital. Ela atua na produção de eucaliptos e se diz ser produtora de energia renovável.
A Aperam South América teve sua fundação com o nome de Acesita e em 2007 a empresa foi comprada pelo conglomerado industrial e multinacional, Arcelor Mital, passando a fazer parte do grupo somente em 2011 tendo sua sede em Minas Gerais e afirma ser produtora de carvão vegetal sustentável.
Ela oferece para o mercado, além do carvão, bio-óleo, mudas vegetais e tecnologia, além de ter sua usina localizada no Vale do Aço e distribuição de aço e subprodutos no Sul e Sudeste brasileiro, a partir de São Paulo, pela sua controladora e é a maior detentora de florestas de eucaliptos continuas do mundo no Vale do Jequitinhonha.
Aos poucos, a Aperam Bioenergia e Arcelor Mital foram aumentando sua economia de escala em seus negócios de florestas de eucaliptos e aço no Brasil, (o que foi e é muito bom para Minas e a região, não fosse o alto custo ambiental).
A Aperam tem hoje 100 mil hectares de áreas plantadas e outras florestas que compra com direito a reutilizar o solo para o replantio por um determinado tempo. Ela, além de listada em diversas bolsas de valores, alcançou um faturamento líquido anual de mais de R$1 bilhão de reais.

Já a sua controladora, Arcelor Mital no final de 2024 se consolidou como a maior produtora de aço do Brasil, responsável por 40% da produção de aço brasileiro e fechou 2024 com um lucro líquido de mais de US$ 929 milhões de dólares, cerca de R$5,5 bilhões de reais, passando à frente do grupo Gerdau, que por muito tempo manteve a liderança no mercado.

O conglomerado Arcelor Mital e sua subsidiária Aperam Bioenergia se esforçam desde muito tempo, através de sua fundação, realizando campanhas publicitárias, tentando se passarem pela imagem do “bom rapaz”.
De 2022 para cá ela elencou “Dez iniciativas para otimizar o uso dos recursos hídricos com a campanha de “Combate ao desperdício de água”, quando na realidade ela pode ter contribuído para secar mais de uma centena de nascentes importantes no Vale do Jequitinhonha. E na realidade pode estar ainda contribuindo significativamente para o processo de seca dos poucos mananciais hídricos que restam na região, além de ter contaminado o lençol freático onde tem as suas florestas, segundo estudos de especialistas, (ver link abaixo)
A Aperam Bioenergia realiza pequenas ações sociais nos municípios do Alto Jequitinhonha para mostrar que está comprometida socialmente com a população e a região. Nunca foram capazes de investirem em projetos com alta resolutividade como a recuperação de nascentes. Esta é uma medida simples e barata e muito nobre. Acontece no período que antecede as chuvas. Intervenções que precisam ser feitas porque o resultado é muito eficaz. Riachos, que há anos não corria uma gota de água sequer, voltam a jorrar com as chuvas e se mantém no período da seca.
Medidas capazes de recuperar as bacias hídricas dos rios Araçuaí, Itamarandiba, Fanado, Soledade, Itacambiruçú, Salinas, São Pedro e outros, caso já não estejam secos.
Todos os anos, a partir do 2º trimestre em diante estas bacias começam a viver uma penúria de perda de vazão, e no 2º semestre do mesmo ano eles já passam a agonizar. Alguns deles, os menores, a exemplo do rio Itamarandiba, em certos pontos não conseguem nem ver a água correr. Onde estão os Comitês das principais bacias hidrográficas de Minas Gerais?
Estes rios fazem parte da bacia hidrográfica do rio Jequitinhonha, considerados suas veias que perderam boa parte de suas artérias, responsáveis em fazê-los pulsar com vigor. Eles ainda hoje, a duras penas, abastecem a maioria das cidades do Alto, Médio e Baixo Jequitinhonha. Ainda irrigam as lavouras dos pequenos produtores rurais do Vale.
Está mais que constatado por pesquisadores que onde existe um reflorestamento com eucaliptos, ali não existe vida, fauna e flora em geral. Além disso, o combate às pragas como as formigas cortadeiras e insetos desfolhadores com herbicidas ao longo de cinco décadas deixou o lençol freático contaminado por agrotóxicos que sabidamente provocam câncer e outras doenças.
Algo terá que ser feito. Passou de hora da Marinha do Brasil participar desses Comitês de Bacias e fazê-los funcionar como previsto. Até porque por previsão legal, o comandante da Marinha, na condição de autoridade marítima, tem sobre sua jurisdição também as águas continentais interiores. Sob penas dos comitês e bacias hidrográficas serem capturados e anulados por interesses corporativos.
Só em Minas Gerais são nove bacias hidrográficas:
1. Rio São Francisco
2. Rio Pardo
3. Rio Doce.
4. Rio Paraíba do Sul.
5. Rio Paranaíba.
6. Rio Grande.
7. Rio Jequitinhonha.
8. Rio Piracicaba/Jaguari
9. Bacias do Leste: São Mateus, Mucuri, Itanhem, Jucuruçu e Buranhem
Neste exato momento, a maior parte dos municípios do Vale do Jequitinhonha já estão vivendo a crise de falta d’água.
Soelson Araújo é empresário, político, escritor e diretor-presidente do Diário de Minas