Guerra é guerra: Napoleão que o diga
“Napoleão assombrou o mundo como gênio militar. Suas proezas bélicas não têm paralelo nos tempos modernos”
20-03-2024 - às 09h:44
Manoel Hygino dos Santos*
As guerras continuaram: entre Rússia e Ucrânia, sob o disfarce que lhe deu Putin de “operação especial”; no Oriente Médio, entre inicialmente o grupo terrorista Hamas e Israel; no Congo; no Sudeste da Europa, onde se enfrentaram Armênia e outros países, com ameaça de ventos e tempestades na América do Sul diante do impasse entre Venezuela e Guiana, sem falar no Equador, com o presidente em campo contra o narcotráfico. Não causou, pois, surpresa o lançamento no Brasil, em Belo Horizonte também, é claro, de mais um filme focalizando Napoleão Bonaparte, um cidadão que cresceu mundialmente sem ter supostamente estatura física. Apesar de tudo, um gênio na vida e, talvez, vitorioso nas bilheterias dos cinemas.
Dele, disse Jefferson Barata: “Napoleão assombrou o mundo como gênio militar. Suas proezas bélicas não têm paralelo nos tempos modernos”. Um mineiro, de Visconde do Rio Branco, na Zona da Mata, que viveu a infância e adolescência em Ubá, escreveu sobre Napoleão um livro exponencial – “A Força do Estilo de Napoleão”, que já mereceu da Editora Thesaurus mais de uma edição.
OS CONFLITOS
Desde que o mundo é mundo, cerca de duas mil guerras aconteceram. A de Tróia só terminou depois de mais de dez anos, e foi a primeira entre Ocidente e Oriente. A dos Cem Anos durou 105 anos, quando os franceses derrotaram os ingleses e só terminou com a tomada de Constantinopla, assinalando o fim da Idade Média. A dos Trinta Anos foi em conflitos religiosos, e uma das mais cruéis. A da Sucessão, nos Estados Unidos, é tema de obras históricas e literárias e se desenrolou entre 1861 e 1865, quando cerca de 800 mil soldados morreram em combate. Cá na América do Sul, a do Paraguai dizimou 3/4 da população guarani, que era de 800 mil habitantes e de que sobraram apenas 200 mil. O Brasil perdeu 1864 homens. Valeu a pena?
Não fora a Revolução Francesa, não teria existido Napoleão nem ele teria adquirido a grandeza e prestígio mundial que venceram séculos. Incontestes, sua vocação para a carreira militar e a coragem para os grandes embates políticos e diplomáticos. Na Espanha, perdeu mais de 400 mil homens. Contra a Rússia, aliada a outras grandes potências da época, começou uma guerra com 350 mil homens de várias nacionalidades.
Ansioso por superar a Inglaterra, desejou chegar à Índia. Iniciou o plano pelo Egito, onde desembarcou com 38 mil homens, uma esquadra de 48 navios de guerra e 280 de transporte. Com uma sucessão de êxitos fantásticos, após uma primeira rendição, exilado na Ilha de Elba, retornou triunfalmente a Paris para mais 100 dias. Somente Cem. Derrotado em Waterloo, foi enviado prisioneiro a uma nova ilha – Santa Helena, onde passou anos. Lá morreu e se transformou em lenda. Não consegui estatística sobre o número de homens que perderam a vida nas guerras napoleônicas.
TACITURNO E CALADÃO
Ele se fez grande por seu esforço. Nascera na Córsega, pequena ilha sequer politicamente independente, no Mediterrâneo. Aos 9 anos, deixou o território natal, transferindo-se ao solo da nação dominadora. Taciturno e sonhador, não brincava com ninguém e caminhava só. Brilhou em matemática e história e evoluiu no francês, embora os jovens da Escola Militar de Brienne debochassem de sua obscura nobreza e do sotaque italiano. Foram assim cinco anos: de 1779 a 1784, passando inclusive por dificuldades financeiras. Declarou, então: “Amo o poder, todavia é a maneira de um artista que eu o amo. Amo-o como um músico ama seu violino, amo-o para dele arrancar sons, acordes, harmonias”.
Sua obra literária é vária e enorme. Em 1789, escreveu uma novela. Depois, não para. Ensaios biográficos, históricos, militares, filosóficos e políticos, panfletos, considerações sobre sua prisão em Santa Helena. Cartas – talvez mais de 40 mil discursos e proclamações.
Napoleão não era um cidadão mediano. Foi um homem de paixões violentas. Por vezes, a cólera e a indignação estalam em sua correspondência. Sua ambição não tem limites. Mas possuía admirável autodomínio. No poder, ele afeta a indignação ou aparenta frieza, conforme a inspiração de interesse político do momento.
No entanto, amava, venerava sua mãe; obstinado, amou Josefina, o primeiro casamento, enorme o amor que dedicou ao filho e, ainda, a afeição à sua tropa, seus soldados, aos quais trata de “mês enfants”, enfim à França.
E tinha pressa. Segundo mais de um autor, o segredo de suas vitórias se apoia, em grande parte, na estratégia dos deslocamentos rápidos. Sempre alertava: não há tempo a perder. Ao conde Bernadotte advertiu: “Perdi um dia inteiro por culpa vossa, e o destino do mundo depende de um dia”. E se justificava: “Os gênios são meteoros destinados a queimar para iluminar o mundo”.
A velocidade não depende apenas das pernas. Os grandes homens não são homens grandes. Pedro, o Grande, imperador da Rússia, entre 1682 e 1725, média 2,13 metros; um gigante. Napoleão tinha 1,58 metro de altura. E o corso foi tenente aos 16 anos, general aos 25, cônsul aos 30, imperador aos 35.
Euclides Mendonça observou: “Essa vida tão substancial lembra, pela magnitude dos triunfos e catástrofes, pelo vertiginoso, sobretudo a mais autêntica tragédia grega, a qual, premida pela implacável lei de unidade do tempo, é igualmente fulminante nas tramas que urde nos desfechos que desencadeia. Aí, ficam, em poucos traços, as forças essenciais de Bonaparte. Combinadas, na política e na guerra, eles fizeram o grande Napoleão”.
*Da Academia Mineira de Letras e da Associação Nacional dos Escritores.
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