03-12-2025 às 12h00
Sebastião Carlos Martins (*)
Num país que avança rapidamente na transição energética, projetos de biocombustíveis — como URE, plantas de etanol 2G, unidades de hidrogênio verde e fábricas de fertilizantes organominerais — tornaram-se protagonistas da nova economia limpa. No entanto, por trás dos números promissores de TIR, VPL e payback, existe um fator que separa investimentos bem-sucedidos de fracassos financeiros: o gerenciamento de projetos.
“Estudos conduzidos pela DBEST PLAN mostram que mesmo empreendimentos tecnicamente sólidos podem naufragar na fase de implantação. A causa mais comum? Estouro de CAPEX, falhas de coordenação, desvios de escopo e ausência de planejamento estruturado. Em outras palavras: não basta projetar bem — é preciso gerenciar melhor ainda.”.
É nesse cenário que o PMBOK 8, guia de referência global em gestão de projetos, ganha protagonismo ao trazer uma abordagem mais moderna, flexível e orientada a valor. Longe dos antigos modelos rígidos, a nova edição apresenta um arcabouço baseado em sete domínios de desempenho — governança, escopo, cronograma, finanças, stakeholders, recursos e riscos — que funcionam como pilares integrados da execução.
Ao lado deles, seis princípios norteiam a mentalidade do gestor contemporâneo: visão holística, foco em valor, liderança responsável, qualidade integrada, sustentabilidade e equipes empoderadas. Para projetos industriais complexos, essas diretrizes deixam de ser teoria e tornam-se condições de sobrevivência.
A arquitetura do sucesso: fases, entregáveis e riscos
O PMBOK estrutura o ciclo de vida dos empreendimentos em cinco grandes fases — iniciação, planejamento, execução, monitoramento e encerramento —, oferecendo um roteiro claro para navegar a complexidade dos projetos de energia limpa.
Na iniciação, define-se o propósito estratégico, o escopo preliminar e as partes interessadas. É o momento de alinhar expectativas e estabelecer fundamentos sólidos. Um erro aqui pode comprometer tudo adiante.
O planejamento, descrito como a fase mais crítica em projetos industriais, detalha como o trabalho será executado. Neste contexto surge a EAP (Estrutura Analítica do Projeto), ferramenta essencial para organizar o escopo, evitar omissões, estimar custos, construir o cronograma e garantir rastreabilidade. É também nesse estágio que ganham relevância o Baseline de Escopo, o Baseline de Cronograma e o Baseline de Custos, trio que forma o coração do controle de um empreendimento.
O documento lembra que técnicas como CPM (Critical Path Method), PERT (Program Evaluation and Review Technique) e PERT-CPM não são apenas instrumentos acadêmicos, mas engrenagens indispensáveis de um cronograma realista. Para a DBEST PLAN, que, além destas ferramentas, utiliza sistematicamente a Simulação de Monte Carlo que permite compreender riscos, antecipar gargalos e propor estratégias mitigadoras com precisão científica, têm os investidores e financiadores segurança adicional em relação aos que oferecem apenas soluções determinística para os estudos de viabilidade econômica financeira destes projetos.
Essas técnicas podem ser estendidas à:
A execução é onde o projeto ganha forma física — e onde erros custam caro. Falhas de qualidade, atrasos logísticos, retrabalhos e escopo descontrolado são riscos recorrentes. Para controlá-los, o PMBOK recomenda supervisão técnica permanente, auditorias, disciplina contratual e o uso sistemático do EVM (Earned Value Management).
PMBOK significa “Project Management Body Knowlegde” é Conjunto de Conhecimentos em Gerenciamento de Projetos. Trata-se de um guia publicado pelo Project Management Institute (PMI) que reúne as boas práticas, diretrizes, processos, ferramentas e técnicas para a gestão de projetos. O guia serve para padronizar a linguagem e os processos, oferecendo um modelo para o gerenciamento eficaz de projetos em diversas áreas
O monitoramento e controle, etapa contínua e simultânea à execução, garante que custos, prazos e entregas permaneçam alinhados ao plano inicial. Transparência, indicadores, revisões de risco e governança rigorosa são as armas contra desvios não detectados.
Por fim, o encerramento consolida o trabalho, formaliza a entrega, capacita operadores, válida documentação e registra lições aprendidas. Sem essa etapa, um projeto corre o risco de entrar em operação sem maturidade ou suporte técnico adequado — situação comum em obras industriais mal gerenciadas.
A matemática do atraso: quando um ano custa uma fortuna
O estudo do Eng. Martins sobre gerenciamento das URE, destaca um alerta contundente: atrasar um projeto em um ano pode destruir sua rentabilidade. No exemplo da URE de etanol 2G de 500 toneladas/dia, um simples aumento do prazo de construção de 2 para 3 anos — combinado a um aumento típico de 15% no CAPEX — gera perda de receitas superior a R$ 214 milhões e compromete indicadores como TIR e payback.
Não é o mercado que inviabiliza o projeto.
É o fracasso do gerenciamento.
A lição final: governança é o motor da sustentabilidade
Ao analisar décadas de projetos industriais, a conclusão da DBEST PLAN converge com as melhores práticas internacionais: não existe sustentabilidade econômica sem sustentabilidade de gestão.
Projetos de energia limpa não fracassam por falta de tecnologia ou mercado, mas por ausência de:
· EAP detalhada
· Planejamento consistente
· Execução coordenada
· Controle rigoroso
· Encerramento estruturado
Afinal, o que vem a ser a EAP?
EAP é uma metodologia de estruturação de projetos que divide o escopo do projeto em componentes menores e mais gerenciáveis, proporcionando uma visão clara de todas as etapas e entregas necessárias para atingir os objetivos estabelecidos.
Outra ferramenta, essencial para o estabelecimento de prazos de construção, Baseline de Cronograma que apresenta a sequência de todas as atividades, com durações, datas e caminho crítico, é o CPM (Critical Path Method), técnica que permite estabelecer o tempo mínimo de duração do projeto com o melhor aproveitamento da força laboral e disponibilização dos recursos financeiros do projeto.
O PMBOK 8, ao trazer uma visão integrada, adaptativa e orientada a valor, oferece o que o setor mais precisa: um mapa confiável para transformar boas ideias em empreendimentos bem-sucedidos.
Alerta Martins que em um mundo que exige eficiência, transparência e resultados, a nova máxima dos biocombustíveis fica clara:
Gerenciar bem é tão importante quanto projetar bem — e pode ser o divisor entre sucesso e fracasso.

