Fialho Pacheco era três em um – repórter, fotógrafo e motorista; iniciou carreira no Diário de Minas
Na época, em 1969, ele se revelou grande profissional e foi levado pelo Estado de Minas, onde ganhou prêmios Esso e se mudou para Montes Claros, em seguida, Juramento, onde foi prefeito duas vezes.
Direto da Redação
27-11-2022
07h:01
Alberto Sena
Outro grande nome que iniciou carreira no Diário de Minas, em 1969, foi o repórter José Fialho Pacheco. Ele era uma das personalidades das mais interessantes porque fez de quase tudo na vida, até chegar a ser repórter do Diário de Minas. Tornou-se uma lenda.
Fialho Pacheco, assim ele assinava as reportagens que tinham repercussão em Minas e no Brasil. Só para que o prezado leitor tenha uma noção do tino jornalístico desse grande repórter, de tanto a imprensa publicar casos de suicídios, ele percebeu que aumentava a ocorrência de mortes.
Então, sabem o que Fialho fez? Liderou uma campanha em nível nacional, para não mais se noticiar casos de suicídio, foi uma espécie de “acordo tácito”, e assim acontece até hoje. Com raríssimas exceções, a imprensa não publica esse tipo de ocorrência.
Antes de ir mais fundo na memória de Fialho, é de bom alvitre dizer que ele nasceu em Manhuaçu (MG), em 1917. Foi ajudante de pedreiro. Foi ajudante de técnico em refrigeração e depois encarregado de pesagem de leite até que veio para Belo Horizonte e se alistou no Exército.
Em 1938, ele se licenciou do Exército e em 1969 achou que podia ser repórter e provou a si mesmo e a todos tamanha competência, com uma fonte invejável de informantes, logo se destacou em meio à imprensa da época com os seus “furos de reportagens”.
Do Diário de Minas, Fialho acabou chegando ao jornal Estado de Minas, e foi lá na Rua Goiás 36, em fevereiro de 1972, que o conheci, na Redação. A bem dizer, tive a sorte de entrar no lugar dele. Na Editoria de Polícia chefiada por Walder Piroli.
Fialho cobria o Departamento de Investigações da Lagoinha, onde à época funcionavam todas as delegacias, inclusive a de Plantão. Como estava indo de muda para Montes Claros, ele me apresentou a todos os delegados e demais policiais, pessoalmente.
Logo fiquei sendo conhecido no DI como “filho de Fialho” e com isso as portas se abriram para mim e mais ainda depois de uns três dias de cobertura, dei um “furo de reportagem” com o caso de um pistoleiro que havia assassinado um empresário na Rua Aporé, no Bairro Cachoeirinha.
Fialho era homem de personalidade forte, escorreito, e certamente mantinha o que de bom apreendeu no Exército, onde chegou à condição de sargento. Ela sabia que não tinha como ir mais adiante por causa da educação formal que foi incompleta.
No Jornalismo, ele era o repórter que colhia as informações com esmero; era o redator, porque ele mesmo redigia as matérias, sentado diante de uma máquina de datilografia Remington, na qual escrevia utilizando-se só dos dedos indicadores.
Sempre com um cigarro aceso fumegando, preso nos lábios. Talvez porque respirasse a fumaça, ele tinha uma coriza permanente e tinha cheiro característico daquele sarro de nicotina.
Ele era também o fotógrafo, vivia com uma máquina fotográfica à mão, como todo repórter fotográfico, porque nunca se sabe, de repente surge um flagrante e estando no lugar certo e na hora certa, saca uma bela foto.
Fialho era também o motorista. Era três em um, e, certamente, devia receber por isso. Gasolina eu sei que o jornal fornecia para o tanque da sua rural Willys, nas cores bege e verde claro.
Fialho se mudou para Montes Claros e fiquei, então, com a responsabilidade de cobrir diariamente o DI.
Mas, é de Fialho que devo falar. Ele foi, digo, “um pai” para mim.
Fumava um cigarro atrás do outro. Não tragava. Mas ficava com o cigarro preso nos lábios, fumegando, até o filtro.
Fialho ganhou, salvo engano, três ou mais Prêmios Esso de Reportagem. Tinha o respeito de todos e muitas das vezes resolvia questões dentro das delegacias, quando achava que a prisão era injusta.
De Montes Claros, Fialho foi viver em Juramento, município da região metropolitana (oficialmente inexistente) de Montes Claros, onde foi prefeito duas vezes e transformou para sempre o traçado dela. Juramento tem duas fases, antes e depois de Fialho Pacheco.