Nicolas Maduro, presidente da Venezuela - créditos: divulgação
27-11-2025 às 14h16
Direto da Redação
A crescente mobilização militar dos Estados Unidos no Caribe ao longo de 2025 reacendeu temores de um confronto direto com a Venezuela e mergulhou o país de Nicolás Maduro em um estado de alerta permanente. Desde agosto, Washington enviou navios de guerra para a região sob a justificativa de reforçar operações antidrogas, movimento que Caracas classificou como uma ameaça direta à sua soberania e à paz regional. Segundo Maduro, a presença norte-americana constitui uma “violação do direito internacional” e um passo rumo a uma ofensiva que, afirma, tem claros objetivos políticos.
A tensão aumentou a partir de setembro, quando os EUA iniciaram ataques aéreos contra embarcações que consideram envolvidas com o narcotráfico. Vinte e um ataques atingiram 22 navios no Caribe e no Pacífico, resultando em dezenas de mortos e críticas internacionais sobre os riscos de escalada e sobre a legalidade das operações. A ofensiva levou Maduro a declarar que a Venezuela enfrenta “a maior ameaça em cem anos”, intensificando o discurso nacionalista e convocando o país a uma mobilização interna sem precedentes.
Em resposta direta à pressão norte-americana, o governo venezuelano lançou o chamado Plano Independência 200, uma operação de “resistência” que mobiliza as Forças Armadas, milícias e reservistas. Em pronunciamentos transmitidos pelas redes oficiais, Maduro afirmou que a Venezuela “não aceitará intimidação de nenhum império” e que está pronta para defender “cada centímetro da pátria”. Ao mesmo tempo, o Ministério da Defesa anunciou que cerca de 200 mil militares foram colocados em prontidão, reforçando o clima de emergência.
Mas, dentro do país, a mobilização não ocorre de forma homogênea. Relatos apontam que parte dos novos integrantes da milícia provem de comunidades pobres e de servidores públicos pressionados a aderir, enquanto analistas internacionais questionam a veracidade dos números apresentados pelo governo. Estimativas anteriores situavam a milícia em pouco mais de 300 mil integrantes, muito distante dos “milhões” reivindicados por Caracas. A oposição acusa o governo de usar a crise externa como pretexto para ampliar o controle social e militarizar o cotidiano.
A partir de novembro, a crise ganhou contornos ainda mais amplos com novas ações e discursos vindos de Washington. O governo norte-americano passou a avaliar a designação de grupos venezuelanos como organizações terroristas, aumentando o peso político e diplomático da pressão. Paralelamente, altos oficiais dos EUA visitaram ilhas do Caribe em busca de coordenação regional para uma estratégia de segurança comum, movimento interpretado por Caracas como preparação para ações mais agressivas.
O clima também se intensificou nos palcos políticos e simbólicos. Em um evento público, Maduro empunhou uma espada e prometeu resistir a qualquer tentativa de intervenção, gesto que se tornou viral entre seus apoiadores e provocou críticas de opositores. Cuba, fiel aliada do governo venezuelano, acusou os Estados Unidos de tentar promover uma derrubada violenta de Maduro, ampliando a polarização geopolítica em torno do conflito.
Enquanto isso, declarações cada vez mais duras partem de Washington. Em um recado direto, autoridades norte-americanas afirmaram que Maduro teria de escolher “o caminho fácil ou o difícil”, em referência a possíveis alternativas diplomáticas ou soluções impostas pela força. A frase elevou o temor de que um confronto direto possa deixar de ser apenas retórica.
Dentro da Venezuela, a população observa a escalada com apreensão. Entre falta de informações, incertezas econômicas e medo de repressão, cresce a preocupação com o impacto que um conflito poderia ter sobre civis — especialmente em um país já fragilizado por anos de crise política e social. O aumento da militarização também gerou receios sobre restrições adicionais a liberdades e direitos civis.
Em meio ao cenário crescente de tensão, organizações internacionais e governos regionais alertam para o risco de que o conflito entre EUA e Venezuela projete instabilidade para toda a América Latina e o Caribe. Apesar do tom duro de ambos os lados, analistas destacam que, por enquanto, ainda há espaço para contenção diplomática — embora o clima no país e na região indique que a margem para erros ou provocações tenha se tornado perigosamente estreita.
A Venezuela tem buscado apoio político principalmente entre países que mantêm relações estratégicas ou ideológicas com o governo de Nicolás Maduro. A Rússia continua sendo o aliado mais firme, oferecendo respaldo diplomático na ONU e cooperação militar, além de treinar forças armadas e fornecer equipamentos. A China, embora mais cautelosa, mantém apoio político moderado e costuma defender a não intervenção externa nos assuntos internos da Venezuela, alinhada ao discurso de soberania. Cuba permanece como o parceiro mais próximo no campo político e de inteligência, reforçando alianças regionais. No continente, países como Nicarágua e Bolívia seguem apoiando Maduro em fóruns internacionais, enquanto alguns governos caribenhos mantêm posição favorável em troca de acordos energéticos.
No campo econômico, o eixo de apoio é similar, mas com nuances importantes. A China tem sido o principal credor da Venezuela nas últimas duas décadas e, apesar de reduzir empréstimos, segue negociando reestruturações de dívida e acordos comerciais de petróleo e minerais. A Rússia participa ativamente da indústria petrolífera venezuelana por meio da Rosneft e suas subsidiárias, ajudando a contornar sanções internacionais. O Brasil, embora mantenha postura mais pragmática, continua sendo parceiro comercial relevante — sobretudo no fornecimento de alimentos, energia elétrica em áreas fronteiriças e cooperação técnica — mesmo sem um alinhamento político tão aberto quanto no passado. Paralelamente, países como Irã têm oferecido ajuda direta, incluindo combustíveis, peças industriais e assistência técnica para manter refinarias funcionando, garantindo ao governo venezuelano algum fôlego econômico em meio às pressões internacionais.

