O projeto para o novo mandato de Trump, riquíssimo no setor imobiliário, nada tem a ver com Jimmy Carter, presidente pelos democratas, entre 1977 e 1981, que deixou a vida para entrar para a história
08-01-2025 às 09h47
Manoel Hygino dos Santos*
O presidente eleito dos Estados Unidos, a empossar-se neste janeiro, fez declarações em 22 de dezembro, que corroboram suas posições ao longo de sua carreira política e vida pessoal, deixando natural inquietação quanto a alguns itens. Em discurso a jovens conservadores em Phoenix, no Arizona, Trump afirmou que, entre suas primeiras ações, estão “deter a loucura transgênero” e intensificar medidas e assinar ordens para “proibir mutilações sexuais infantis”, remover transgêneros das Forças Armadas e escolas, além de manter homens fora dos esportes femininos. Reiterou que seu governo reconhecerá oficialmente apenas dois gêneros: masculino e feminino.
A posição de Trump em questão de sexo não é novidade, pois muito envolvido em casos escandalosos. Em 31 de dezembro, um Tribunal Federal de Apelações, em Nova York, confirmou decisão de um júri que lhe ordenou o pagamento de 5 milhões de dólares (cerca de R$ 30,9 milhões), por abuso sexual e difamação à escritora E. Jean Caroll. Trump em recurso alegara que o Tribunal de Nova York não deveria ter permitido o depoimento de duas mulheres que afirmaram ter sofrido abusos por parte dele. Um segundo processo poderá chegar a término exatamente neste janeiro.
No âmbito administrativo e em relação às Américas, o presidente afirmou que vai designar os cartéis mexicanos como organizações terroristas estrangeiras, retomando uma ideia discutida em seu primeiro mandato, mas arquivada após negociações com o México. Outro ponto de sua fala foi a promessa de retomar o controle do Canal do Panamá, argumentando que o país panamenho não tem tratado os Estados Unidos de forma justa. O adjetivo “justo deve referir-se a uma pretendida subordinação a Washington, talvez esquecido que o Panamá se tornou independente em 1903.
FUTURO ANUNCIADO
Finalmente, anunciou a maior operação de deportação de imigrantes da história e prometeu dar fim aos conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio, comprometendo-se a evitar uma Terceira Guerra Mundial. Declarou, finalmente, que seu governo marcará o início de uma “nova era” de prosperidade e grandeza para os Estados Unidos. Com isso, parece ignorar o que acontecerá com o resto do mundo, assim como desconhecer a presença de Ovnis, ou drones, sobre bases militares na Califórnia, Onio e Nova Jersey, enquanto especialistas alertam para a vulnerabilidade doméstica diante dos avanços tecnológicos. E há muito mais.
O projeto para o novo mandato de Trump, riquíssimo no setor imobiliário, nada tem a ver com Jimmy Carter, presidente pelos democratas, entre 1977 e 1981, que deixou a vida para entrar para a história quando muitos já o tinham até esquecido. Nascido em sua casa em Plains, na Georcia, em 1º de outubro de 1904, viveu infância humilde, sem água corrente e energia elétrica em casa.
Pai agricultor e mãe enfermeira, ele mesmo foi responsável pelo parto de Rosalynn, com quem viveu tranquilamente toda a vida seguinte, dizendo aos vizinhos que o filho era o mais novo morador da rua. Fazia questão de ser considerado como nascido de uma família de produtores de amendoim do Sul dos EUA.
Com a eclosão da II Guerra Mundial, ingressou na Academia Naval, tornando-se oficial engenheiro em 1946, ano em que se casou com a moça da cidade que namorava e que foi companheira de andar de mãos dadas até os últimos dias. Não parou de estudar, graduando-se em Física Nuclear e trabalhando em submarinos atômicos até 1953, como a Imprensa lembrou nestes dias. No ano seguinte, com a morte do pai, tratou de voltar às raízes agrícolas, para cuidar dos amendoins.
NA POLÍTICA
Como o pai fora deputado estadual, decidiu entrar no mesmo terreno, elegendo-se para o Legislativo, mas perdendo logo na candidatura a governador, o que não o desanimou. Voltou à carga em 1970, vencendo o pleito. Diante do fato e as circunstâncias adversas para os republicanos, então, resolveu enfrentar a campanha para a Casa Branca, no auge da efervescência do escândalo Watergate. Com linguagem moralista, triunfou, sem nunca antes enfrentar uma campanha em nível federal.
Usava linguagem acessível e até ingênua: “Meu nome é Jimmy Carter e estou concorrendo à Presidência. Sou fazendeiro, mecânico, negociante, cientista e cristão”. Ganhou o pleito, em 1976, com 51% dos votos populares e 297 dos 538 delegados ao Colégio Eleitoral.
O primeiro a declarar-se a favor foi Joe Biden, que se elegeria depois, e com o qual manteve estreitas relações de amizade, cordial e politicamente. Recentemente, confessou que estava ansioso por votar em Kamala Harris, o que fez pelo correio, mas, não logrou êxito, como se viu.
Homem tranquilo como bom fazendeiro, viveu em simplicidade. Em sua posse à Casa Branca, usou terno comum, fazendo a pé, de mãos dadas com a esposa e a filha Amy, os 24 quilômetros entre o Congresso e a Casa Branca. Mesmo no exercício da presidência, manteve a filha em uma escola pública e, aos domingos, dava aulas para crianças em uma igreja Batista. Presidiu serenamente a nação, mesmo em seus momentos mais desafiadores, realizou missões diplomáticas por todo o mundo e ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2002, por promoção de soluções pacíficas em conflitos internacionais.
Poderia resumir a atuação político-administrativa de Carter nos seguintes itens, embora não se deva esquecer seu trabalho para evitar um conflito com o Egito, que poderia desencadear um conflito no Oriente Médio.
Fez uma grande reforma administrativa no governo federal. Ampliou o sistema de parque nacionais. Nomeou mais negros, mulheres e hispânicos para cargos do primeiro escalão do que qualquer predecessor. Desregulamentou a aviação civil. Enfatizou educação e meio ambiente. Estabeleceu plenas relações diplomáticas entre EUA e China. Desenvolveu o projeto de controle do Canal do Panamá aos panamenhos. Chegou ao importante tratado Salt II de limitação de armas nucleares com a União Soviética. Promoveu a causa dos direitos humanos pelo mundo todo, inclusive no Brasil, onde esteve em tensa visita ao presidente Ernesto Geisel em 1978.
*Jornalista, escritor e membro da Academia Mineira de Letras e da Associação Nacional de Escritores.