
Era daqueles rígidos mesmo, de cultura e experiências vastas, não deixava passar nada. CRÉDITOS: Divulgação
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19-05-2025 às 09h37
Alberto Sena*
Ele era o “General da Banda”. Uma banda surrealista, que de fato existia, mas só na imaginação, e para dar credibilidade a um epíteto. Um dia me disse que eu ia entrar na banda para tocar “fagote”. Nunca me imaginei tocar fagote. Se fosse uma flauta, eu até podia optar porque gosto do som dela.
Não, ele insistiu, é “fagote”. Então, que seja, eu disse.
Quem é ele?
Ele é Celius Aulicus Gomes Jardim jornalista dos melhores que já conheci, nascido na velha Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, em 1918. Eu o conheci na Rua Goiás 36 e no período da nossa convivência, ele exercia a função de copidesque na Editoria de Cidade. Era daqueles rígidos mesmo, de cultura e experiências vastas, não deixava passar nada.
Tem até um episódio dele com um colega de Redação. General fez o “copy” da matéria do colega e ele passou tudo a limpo, quando o fazimento de jornal era por meio da máquina de datilografia, e entregou ao General como se fosse outra matéria e ele copidescou tudo de novo.
Bem, mas que história era essa de ser admitido na banda para tocar fagote? A questão é que Celius assinava uma coluna de humor no jornal Binômio, de José Maria Rabello, com o pseudônimo de General da Banda. E o epíteto ficou, colou nele como goma arábica.
Era tão comum chamá-lo de General, que, muitas das vezes o apelido dele abria portas. O período era de ditadura militar e como nós saíamos para tomar cerveja depois do trabalho, fazíamos questão de chamar alto “ô General” e as pessoas achavam ser ele militar mesmo.
Comunista convicto, Celius foi preso algumas vezes no regime militar e lá na prisão deram nele o famoso “telefone”. Um policial com as mãos em concha aplicou-as nas orelhas dele, o que prejudicou a sua audição e por isso ao conversar com o General a gente tinha de falar alto.
Ele assinou uma coluna intitulado “O Homem que ri”. Em verdade, General era conhecido como “mal-humorado”, mas só fachada, porque por dentro estava um coração deste tamanho, ó!
General escreveu “Podem dizer que não falei das flores”, e os livros infantis “O astronauta comilão”, “Tisuca e Laurinha no país das águas doces” e “Tisuca e Laurinha no país do índio Peri”, esses dois últimos em parceria com o jornalista e escritor André Carvalho.
Celius Aulicus, o General da Banda, morreu em Belo Horizonte, em cinco de julho de 1994.

Ele sofria de diabetes, mas era de uma extravagância só, no fumo e na bebida.
Profissionalmente, aprendi muito com ele.
* Alberto Sena é jornalista