
Caio Mário Trivellato Seabra Filho, diretor da ANM - créditos: Agência Senada
17-09-2025 às 15h10
Samuel Arruda*
A prisão preventiva de Caio Mário Trivellato Seabra Filho, diretor da Agência Nacional de Mineração (ANM), é mais um capítulo de um escândalo que já dava sinais de podridão muito antes das algemas. Ao todo, 15 pessoas foram presas (agentes cumprem 79 mandados de busca e apreensão) — duas delas já consideradas foragidas — no que a Polícia Federal investiga como um esquema milionário de exploração ilegal de minério de ferro em áreas ambientalmente protegidas de Minas Gerais.
O que surpreende não é o escândalo em si, mas o fato de ele ter sido tratado como novidade. Há tempos, denúncias e indícios sobre o favorecimento de empresas e a emissão suspeita de autorizações de mineração circulavam nos bastidores da ANM e nos corredores de Brasília. Ainda assim, nada foi feito para estancar a sangria. O caso, agora confirmado, envolve cifras bilionárias e o comprometimento direto de agentes públicos.
Entre os presos está também Rodrigo de Melo Teixeira, ex-diretor da Polícia Federal com atuação destacada no governo Lula. Ele teria participado da criação, em 2022, do Grupo Minerar — uma empresa montada com o objetivo exclusivo de operacionalizar os crimes. A estrutura era clara: Alan coordenava, Helder dirigia as operações e João Alberto cuidava das relações institucionais — um eufemismo para o tráfico de influência e corrupção.
A atuação de Seabra Filho foi decisiva para facilitar os interesses da quadrilha. Segundo as investigações, ele interveio diretamente em processos regulatórios, retirando pautas inconvenientes e pedindo vistas para atrasar decisões contrárias ao grupo criminoso. Mais do que omissão, houve ação deliberada para favorecer ilegalidades. A propina, segundo a PF, era disfarçada em honorários pagos a um escritório de advocacia.
Episódios como a emissão de autorizações em pleno feriado de Natal, além da aceitação de documentos fora do prazo legal — ignorando pareceres técnicos da AGU — mostram a ousadia dos envolvidos. O grupo não só obteve licenças de forma ilícita, como também agiu para desmobilizar a fiscalização, monitorando agentes ambientais e blindando as operações criminosas.
Entre as áreas exploradas estavam zonas de proteção ambiental como a Serra do Curral, a Estação Ecológica de Cercadinho e o Parque Estadual da Serra do Rola Moça — regiões cuja integridade já vinha sendo ameaçada por pressões políticas e econômicas. Servidores estaduais e federais, inclusive da própria ANM, teriam se omitido ou colaborado diretamente para a perpetuação das irregularidades.
Este caso não é apenas mais um escândalo de corrupção. É o retrato da falência ética de instituições que deveriam proteger o patrimônio nacional e o meio ambiente, mas que, diante do lucro fácil, escolheram o silêncio, a omissão — ou a participação direta. As prisões, embora necessárias, chegam tarde para um crime que já era visível há muito tempo.
*Samuel Arruda é jornalista