Moradores do Bairro Santa Quitéria reagem insatisfeitos com o valor das indenizações propostas pela empresa e temem que a região se torne “uma área fantasma”.
20-12-2024 às 08h57
Direto da Redação
A pergunta é: quem chegou primeiro? Foram os moradores do Bairro Santa Quitéria, em Congonhas, na região Central de Minas, ou foi a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN)? Certamente foram os moradores do bairro, muitos nem sabiam que estavam pisando a superfície de uma cobiçada mina de minério de ferro.
Mas por que mesmo fazemos a pergunta? Porque o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) determinou, por meio do Decreto 496, a desapropriação de uma área de 261 hectares, o equivalente a 365 campos de futebol, para que sirva de depósito de pilhas de rejeito da CSN.
Se a mineradora estivesse oferecendo uma quantia satisfatória para os moradores deixarem suas propriedades, seria menos mal. Acontece que eles acham a quantia (não revela) insuficiente e aí é que está o problema. É injustiça clara, porque a empresa vai lucrar os tubos de dólares e além da pressão velada para que os moradores saiam dali, oferece pouco e os moradores reagem.
Os proprietários de terrenos na área entraram no radar da empresa chamada Casa de Pedra a partir do momento que foi decidida a expansão do complexo minerário, mas os moradores recusaram as propostas de indenização.
Como sempre, as mineradoras se parecem com colonizadores apátridas que chegam com autoritarismo como se fossem imbuídas de todo o poder e não se importam com nada para alcançar os seus interesses. Praticamente invadem as áreas e depois de explorar o minério deixam as crateras e se vão, como fez atrás da Serra do Curral, em Belo Horizonte, a Minerações Brasileiras Reunidas (MBR), incorporada pela Vale S.A. Há mais de duas décadas o buraco de cerca de 300 metros aberto atrás da serra está recebendo água e deverá ficar cheio em 2025.
Insatisfeitos com o valor oferecido pela mineradora e com a maneira autoritária como o processo de desapropriação é conduzido, na visão dos moradores, a região tende a se tornar uma “área fantasma”.
Para a CSN, a Casa de Pedra é de suma importância porque das 33 milhões de toneladas de minério de ferro que produz anualmente, 30 milhões de toneladas saem da referida mina em Congonhas.
Além do mais, os moradores criticam a inconsistência nas informações divulgadas da CSN. “Não houve nenhum tipo de conversa entre a CSN e a comunidade. A empresa não enviou representantes em nenhuma das audiências públicas que fizemos”, dizem eles.
Mas a CSN nega afirmando: “Foram feitas diversas visitas individuais e reuniões para negociação dos valores”. Diz ter mantido “um relacionamento estruturado e transparente com a comunidade”. E que “empresa independente e especializada” calculou o valor das indenizações e “durante todo esse período foi mantido constante diálogo com os proprietários”.
O fato é que os moradores não se conformam com a incerteza sobre quais terrenos são alvo da expansão, uma vez que o despacho do governo não esclarece a área a ser atingida.
A Prefeitura de Congonhas, em agosto, manifestava pelas redes sociais que “em momento algum foi comunicada pelo governo de Minas Gerais sobre qualquer desapropriação de terreno de que trata o Decreto Estadual 496”.