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Em cima da mesa tinha um capacete da PM

Em cima da mesa tinha um capacete da PM

“Casa sem mulher não é casa. Toda casa tem que ter uma mulher.” Mulher não é complemento. Ela põe tudo em seus devidos lugares

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23-12-2023 às 07:07h.

Rufino Fialho Filho*

Ela chegou na minha casa não como antes chegara na minha vida. Antes, um furacão do sexo, do amor, da paixão desenfreada, próxima da marginalidade, do crime passional.

Desta vez, não. Tudo aquilo era passado. Agora, doce como um anjo. Assexuada, pelo menos é o que diz, ainda, seis anos depois do seu último encontro. Mantém um namorado destes que ficam contentes com imagens, palavras, tudo na tela. E o amor (?) é cultivado em hemisférios diferentes, ele no Norte. Ela, agora, no Sul, abaixo da linha do Equador. Calor total.

“Casa sem mulher não é casa. Toda casa tem que ter uma mulher.”

Sentenças do cardeal Geraldo Santana, saindo da casa do seu velho amigo, o ex-governador Hélio Garcia, vivendo a solidão sob os cuidados de militares, responsáveis por todo o trabalho da casa da rua Paracatu e da assistência ao homem sem memória, sem cuidados femininos, sem amor, todos desperdiçados pelo poder e pela busca (?) do prazer que furtivos se dispensavam em poucos minutos com o pagamento do corpo quente e suave das meninas selecionadas pelos ajudantes de ordem.

Agora, com a chegada dela, minha doce Manoelita, descobri esta verdade, casa tem que ter uma mulher, senão o capacete do PM será colocado na mesa ao lado da garrafa de café e dos pães.

Chegou a mulher e a casa mudou de cara. A poltrona voltando a ser poltrona e não estante de livros. A mesa virou a mesa para o café e o almoço. Ela ainda usa a mesa para o trabalho com o computador. Há lugar para os pratos e os talheres.

O filtro subiu para o seu espaço. É um reservatório de água potável. As panelas organizadas para a comida do dia.  A geladeira continuou a ser um amontoado, só que organizada. Todas as vasilhas de alimentos identificáveis.

Incrível, as plantas ganharam vida com o fim (ela tirou) das ervas daninhas. Ela sabe, ela conhece. Até a avenca, de quem havia desistido, voltou e se fortaleceu em poucos dias, reocupando o espaço que perdera, anteriormente, para as samambaias gulosas por espaços e que se espalharam por todos os cantos – apesar de gostar destas plantas salientes e generosas, sei que elas, se deixar, se espalham indo além do coração da gente.

Com uma mulher dentro de casa, tudo muda a cada hora, até o humor esse te surpreende mais generoso, mais delicado, irreconhecível pelos gestos de delicadeza que já não se sabia capaz.

“Você não vai sair feito um molambo com estas roupas sujas e amarrotadas”.

É quando o cidadão se descobre um homem limpo, asseado e bem cuidado como em casa.

Se como diz o cardeal, uma casa sem mulher não é uma casa, um homem sem a presença de uma mulher jamais chegará a ser.

E o capacete da PMMG dominará a mesa de jantar.

A mulher é aquela que cozinha e faz comidas deliciosas com a participação do picador de alho, de cebola, responsável pela salada de alface, rúcula, acelga e mostarda...

A mulher é aquela que faz a casa feliz, sorrir para as plantas e as plantas ganharem cor e vitalidade.

Isto aconteceu em menos de uma semana, depois que ela, a mulher, chegou transformando o jardim e o homem velho.

Animado, focou na fisioterapia, no pilates e na recuperação da força muscular e do caminhar com as próprias pernas. Nariz atiçado pelos cheiros femininos que ocupam a casa, a cama, os lençóis e as toalhas, dizendo para o cara que a libido se apresenta sempre em horas inesperadas, às vezes até em sonhos humanos demasiados humanos.

Nunca deixe que coloquem um capacete sobre a sua mesa.

 

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