Ele nos céus, três de seus filhos, aguardavam na fazenda
As aventuras aladas duraram dois anos, vindo para casa encheu-a com mais nove filhos. Nós nos tornamos uma dúzia. Um, ainda por desconhecimento da penicilina, adentrou ao céu sem avião mesmo
22-10-2023 às 09:09h.
José Altino Machado*
Do Estado a terror
Muitos me intitulam jornalista e, de fato, muito por acaso o sou, com registro de mais de trinta anos junto ao Ministério do Trabalho.
Mais que isso, fui excelente agricultor, principalmente no leste mineiro. Nunca consegui superar meu velho pai. Na tirada de leite ganhei dele, levando em nome de minha mãe o troféu de campeão nas Centrais Nacionais, em dois anos consecutivos.
Tudo bem, herança genética, mas havia outra, a qual não deveria ter abraçado: a aviação.
“Pra que”?
Pai, militar, um dos pioneiros da aviação civil no País. Em sua época sequer havia necessidade em se tirar licença para ser “chofer” de avião. Quem inventou isso anos mais tarde foi o brigadeiro Eduardo Gomes. E lá se foi pai tirar a sua, junto a uma turma de aficionados bem após ser laureado em Rallyes Aéreas que muito aconteciam naqueles tempos. Foi o centésimo décimo oitavo aviador licenciado. Sempre me pareceu que tinha mais pilotos civis que aviões na ocasião.
Requisitados, ele e o avião, lhes coube, em companhia do General Falconiére, fiscalizar e promover em visão aérea a construção da hoje BR-116, conhecida, então, por Rio-Bahia - estrada essa, feita pelo interior a toque de caixa durante a guerra, para que se evitasse os lobos do mar, os submarinos alemães.
Enquanto ele nos céus, três de seus filhos, entre eles eu, os aguardavam em uma fazenda “em formação”, como ele dizia à minha mãe. Essas aventuras aladas duraram praticamente dois anos e logo terminada, vindo para casa o Senhor dos Céus, encheu a casa com mais nove filhos. Nos tornamos uma dúzia, sendo que um, ainda por desconhecimento da penicilina adentrou ao céu sem avião mesmo.
Vez por outra, ele também aconselhava “cuidado com aviões, são apaixonantes, se nos conquistam, da gente nunca separam”. Pois é, aconteceu...alguns de nós descuidamos e eu mais que outros, neles, até fui-me embora, sempre querendo saber se atrás de morros mais a frente meus dias seriam mais azuis.
Se meus horizontes em aviões se alargaram, com eles um incrível universo de atenções e preocupações.
Amazônia chegando, por lá completando 24.400 horas de voo, quedei-me amazônida bem radicalizado. De tantos e tantos companheiros de tempos meus, restam não mais que quatro. Pouquíssimos chegaram a sossegada velhice. Entretanto, mesmo aqueles que precocemente se foram, nenhum deles, mesmo incluindo os mais longevos e que restaram, se permitiram mágoas, decepções ou tristezas por tal profissão abraçada. Sentíamos orgulho mais pelos serviços prestados e conquistas acontecidas que qualquer ganho material ou financeiro; que não fosse avião, lógico.
Provavelmente aqueles de espíritos já elevados, descansados se tornaram co-pilotos felizes em companhia do Criador, por não estarem ainda por aqui assistindo não só destruição, mas instalação de um verdadeiro Estado de terror armado, não só submetendo, mas destruindo tudo aquilo que todos com honestidade possibilitaram existir.
Acredito que tenhamos deixado de ser a atenção maior, daqui e do mundo, por sermos os grandes “malvados” da natureza. Tem um tal de Hamas por aí que nos arrebatou o troféu matando gente. Porém, tenho certeza de que Marina’s, órgãos ambientais canhotos e ONGS de perfumarias estão ansiosos, para essa guerra palestina acabar logo, para que voltando ao centro das atenções, poderem continuar com seus malucos artifícios, não só utópicos, mas também a criar pânico social, possibilitando continuar correr a suicida sacolinha tal qual Tom Jones o “americano guianense”.
De nosso presidente, desconfio que também esteja nessa.
Uma guerra instalada, numa pequena, mas grande produtora de alimentos, Ucrânia, contra o gigante russo, não foi e não é suficiente para receber seu interesse, preocupação e nem mesmo comiseração de tantas vidas perdidas, mas essa explosão guerreira no oriente, ele mostra desejar que acabe logo, e de enxerido tenta intermediar até sua paz, pois ela lhe rouba luzes de ribalta e ele não aparece, definhando em triste pequenez.
Essa questão entre palestinos de diferentes povos têm durado mais que tempos imemoriais e deveria servir de exemplo natural a todos Estados e habitantes do planeta, principalmente àqueles que comungam uma mesma língua e nação. Odiosos ataques, respondidos também com superlatividade e ódios, jamais põe fim a contendas, ainda mais quando velhos credos mandam morrer pelo que se acredita. Por isso, há desrespeito e continuadas atitudes belicosas beirando covardias... se tornando coisas arraigadas que sempre vem em ondas repetitivas, nunca havendo tempo que lhes possam aplacar.
Espantoso que tais exemplos não deem escolaridade social e educação política a ninguém mundo afora. O que aos outros acontece não nos atinge, a menos que seja em nosso bolso e desta vez como se trata de Israel a pegada e interesse são fortes e bravos.
E nem Lula, senadores e outros legisladores, incluindo aí nossas forças máximas de segurança tem percebido o que lá vão irresponsavelmente alastrando, não só pela Amazônia, mas Brasil e América do Sul (esta, já bem contaminada), um inédito ódio regado a iras entre nossa própria gente. Não por religiões, como d’outros, mas por credos de diferentes políticas e poder, atualmente existindo, por aqui de permeio, até vingança.
Estão mesmo levando a muitos na Amazônia uma contrariedade perigosa, bastante alimentada pela ociosidade. Jogam todos a sorte do Deus dará. Na consequência, muita gente agora se volta à pesca e ao roçado da mandioca e feijão, para isso tocando fogo no chão e mandando a fumaça incomodar os citadinos que reclamam na televisão.
Semeiam junto, com raivas e frustrações adquiridas pela turbação de suas atividades, bens e conquistas de toda uma vida, uma capacidade de odiar, um dom e uma herança que os portugueses não nos legaram.
Conheci, conhecemos, uma Amazônia e um Brasil espetaculares e ainda habitados por homens, gentes e administradores melhores. Neste atual, a inconsequência tem tomado lugar e presença a comando até do impossível, trazendo uma maldição em nome de um “possível” abstrato a centenários direitos que têm sofrido agressões e desrespeito.
Porém, como diziam os responsáveis anciões “o que é do homem o bicho não come”, vamos pagar para ver... ao exagero sempre acontece resposta à altura.
BH/Macapá, 22/10/2023
* José Altino Machado é jornalista
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