Ele está às portas

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22-04-2025 às 08h18

Alberto Sena (*)

O camarada virou-se para a mulher 

– Vamos conversar, francamente.

A mulher o olhou por cima dos óculos e perguntou:

– O que foi agora?

Certamente, achava que o homem queria falar da relação entre os dois. Mas, não era nada do que pensava. Ele, então, perguntou à mulher:

– Você está satisfeita com o mundo e a humanidade tal qual são hoje em dia?

A mulher arregalou os olhos como quem pensava, “agora não entendo mais nada”. E indagou do homem:

– Aonde você está querendo chegar como isso?

– Responda-me e vai ficar sabendo aonde quero chegar.

A mulher assumiu atitude reflexiva 

– Claro, não estou satisfeita. O Brasil, o mundo e a humanidade, de roldão, estão cada dia piores.

– E por que pioram a cada dia?

Ela assumiu de novo atitude pensativa e respondeu:

– Porque as pessoas, individualmente, vão de mal a pior.

Ao que o camarada reagiu:

– Pois é, para mudar o todo, cada humano deve se transformar em solução. E o que vemos no dia a dia? Só gente querendo ter ao invés de ser. Querem possuir bens, como se isso significasse o sentido da vida. 

– É verdade. O egoísmo destrói o mundo.

Ao que o homem interferiu:

– O mundo só, não. A humanidade também. Por pura ignorância. Ou não, porque todos sabem como poderiam resolver os problemas humanos, desde quando, há mais de dois mil anos, Jesus Cristo trouxe a palavra de Deus, para salvar a humanidade.

Houve uma pausa e, então, a mulher emendou:

– Mas, a palavra só não basta para mudar os rumos da humanidade. Falta a prática da palavra.

– É verdade – assentiu o camarada. E continuou: – O que vejo de gente dentro das igrejas espargindo santidade, mas depois que sai volta a ser como era antes de entrar, não está no gibi.

– Isso é porque as pessoas estão acostumadas só a “ouvir a palavra”. Do que adianta ser só ouvinte se não pratica a palavra condizentemente?

– Eis a questão – o camarada disse e prosseguiu: – Você tocou no cerne. Há quem já se tornou intelectual da Bíblia Sagrada. Sabe tudo de cor e salteado, mas não pratica.

A mulher voltou a demonstrar estar refletindo para em seguida dizer:

– Quem assim faz, para mim, se parece ao asno diante de um palácio de ouro.

– É a mesma coisa de “jogar pérolas aos porcos”. Se a pessoa não consegue apreender e praticar os ensinamentos de Cristo, mas fica o tempo todo dentro da igreja, devia dar um tempo para rever os seus conceitos e o que se passa, afinal, em seu íntimo.

– Também acho. Não há outro caminho. Se a opção de vida é seguir os passos do Homem de Nazaré, a prática se torna fundamental. Evidentemente, somos todos humanos, cometemos erros, mas temos de ter discernimento bastante para fazer a coisa certa. Reclamar de tudo é fácil.

A mulher abaixou os olhos e “futucou” as unhas, como quem estava empurrando as cutículas. Ao mesmo tempo, pensava sobre o que em seguida diria:

– Dentro das igrejas há muita gente se utilizando delas, misturando religião com poder político. São os donos e as donas das igrejas. Estes costumam dizer, com a boca cheia: “Estou nessa pastoral há quase 50 anos”. Devia se aposentar e dar lugar para a renovação.

Ao que a mulher arrematou:

– Estúpido é quem procura a igreja para solucionar as questões existenciais e se deixa envolver pela vaidade. A própria Bíblia diz: na Terra, o que não é vaidade é sofrimento.

No final das contas, o camarada e a mulher chegaram a um ponto. Ou nós tratamos de, individualmente, buscarmos a mudança interior, na prática do dia a dia, percebendo que política não é redentora do homem e da mulher ou, então, perdemo-nos de vez. A redenção acontece por dentro, isto é, espiritualmente, a partir da mente religiosa, o conhecimento de si mesmo e da prática dos ensinamentos do Homem de Nazaré. 

Ele, aqui está, às portas!

(*) Alberto Sena é jornalista