
Fagundes, empreiteira da Sigma Lítio encerra atividades em Araçuaí - crédditos: divulgação
08-10-2025 às 13h17
Soelson B. Araújo*
A recente suspensão das atividades da empresa Fagundes Construção e Mineração no Vale do Jequitinhonha expõe, mais uma vez, a face sombria da exploração mineral no Brasil: o descompromisso ambiental e social de algumas mineradoras que, apesar do discurso de desenvolvimento, deixam um rastro de incertezas, passivos e desconfiança por onde passam.
O anúncio da paralisação das operações, feito de forma polida e até emocional nas redes sociais da empresa, fala em sonho, acolhimento e esperança de retorno. No entanto, silencia sobre os motivos reais que levaram à interrupção dos trabalhos. E esses motivos, como apurou o Diário de Minas junto a fontes do Ministério Público Federal, estão relacionados a investigações sobre descumprimento de normas ambientais e irregularidades em processos de licenciamento — práticas que, infelizmente, se tornam recorrentes na nova corrida pelo lítio brasileiro.
O Vale do Jequitinhonha, que em passado recente, negligenciado pelas políticas públicas, tornou-se, nos últimos anos, objeto de cobiça global devido à presença de um recurso estratégico: o lítio, componente essencial para baterias e tecnologias sustentáveis. Mas é inadmissível que a tão prometida transição energética aconteça às custas da degradação ambiental e da violação de direitos das populações locais.
Empresas que operam nesse território têm a obrigação — não o favor — de atuar com responsabilidade, transparência e legalidade. Investir em máquinas e pessoas não deve ser motivo de vanglória, mas um ponto de partida mínimo para qualquer empreendimento de grande impacto. Ao mencionar que “os compromissos assumidos conosco ainda não foram cumpridos”, a Fagundes sugere ser vítima de quebra de contrato — mas esquece de que os compromissos mais importantes são aqueles assumidos com o território, com as comunidades e com o meio ambiente.
O Diário de Minas defende o desenvolvimento sustentável, com empregos, progresso econômico e social regional, mas não aceita que isso ocorra à margem da lei ou sob discursos embalados em marketing corporativo. A mineração no Vale do Jequitinhonha precisa ser regulada com rigor, acompanhada de perto pelos órgãos de controle e fiscalizada pela sociedade civil. E empresas que desrespeitam esse pacto devem ser responsabilizadas.
O lítio é valioso, mas a dignidade das comunidades, o equilíbrio ambiental e o futuro do Vale do Jequitinhonha valem muito mais.
*Soelson B. Araújo é empresário, jornalista e escritor