É expor a sociedade a perigo noticiar casos que tenham poder de contágio para o mal
O DM conclama as mídias mineiras e brasileiras a refletirem quanto a continuarem ou não a publicar notícias negativas que possam levar outras pessoas a imitarem o gesto.
07-04-2023 - 08h:26
Direto da Redação
Que perdoem a nossa ousadia, mas o Diário de Minas (DM), por intermédio da Editoria Geral, tem uma advertência a fazer a todos os veículos de imprensa de Minas Gerais e do Brasil – rádios, jornais e televisões.
Jornalista desde os 17 anos de idade, iniciado no O Jornal de Montes Claros, no Norte de Minas, com mais de dez anos de experiência em cobertura do setor de Polícia, no jornal Estado de Minas, em Belo Horizonte, amealhamos ao longo desse tempo um pouco de tudo quanto é matéria acadêmica terminada em “gia” – psicologia, sociologia, antropologia, parapsicologia etc. – de tanto convívio profissional em busca de ocorrências para as páginas de temas policiais.
A advertência a ser feita não é nenhuma novidade, e queremos antes rememorar aqui o feito do grande repórter José Fialho Pacheco, que, à época, década de 1970, no jornal Estado de Minas, no setor de polícia, chegou à seguinte conclusão quanto ao noticiário sobre suicídio: “A publicação de um estimula outros”.
E sabem o que ele propôs? E foi aceito por todos os veículos de comunicação do País? Propôs um acordo tácito, “parar de publicar essas ocorrências”, a não ser quando envolvesse alguém de renome, mas assim mesmo com todo o cuidado.
À semelhança de Fialho Pacheco, o DM, onde ele também trabalhou, na versão impressa, propõe a todos os veículos de comunicação do País pararem de publicar essas ocorrências de atrocidades como a acontecida em Blumenau (SP).
Não temos a menor dúvida de que quanto mais dermos publicidade a esse tipo de ocorrência, mais se repetirá.
Explicamos com a nossa experiência já mencionada que, quando cobríamos o setor de polícia e buscávamos o porquê dos acontecimentos, como sugeria o editor Wander Piroli, ao entrevistar jovens presos, eu lhes perguntava:
- Por que fez isso?
- Porque vi a foto no jornal e a cara de fulano na televisão e queria aparecer que nem ele.
“Aparecer que nem ele” – hoje, muito mais do que ontem, o Brasil está cheio de gente com patologias várias.
Ousamos dizer, em verdade, todos os brasileiros estão doentes, só que uma metade está mais doente do que a outra e dela estão surgindo os casos escabrosos, patológicos, de gente que não pode estar em circulação em meio a sociedade, mas isso só se descobre depois do horror instalado.
Fazem isso por espírito de imitação, porque viram no jornal ou na televisão a cobertura jornalística e essa é uma oportunidade para se sentirem “importantes” também, ganharem a mídia, “ficarem famoso”.
Há de toda gente por aí, à solta. Os que querem aparecer bem, numa situação positiva, assim como há os casos graves de patologias como os mais recentes.
Dissemos acima e repetimos: se as mídias não se conscientizarem do perigo iminente, esse tipo horrendo de ocorrência será uma rotina, mesmo porque é justamente uma cópia do que sempre aconteceu nos Estados Unidos da América do Norte.
No caso brasileiro, o “gabinete do ódio” é o grande responsável porque disseminou o pior dos sentimentos humanos, que aí ainda está e encontra seres humanos “esponjas”, que o absorvem e os movem a todo tipo de barbárie.
As mídias, no afã de bem informar os leitores, ouvintes e telespectadores, acabam até por ensinar, sem querer, como praticar o horror do que aconteceu. Daí o contágio. E como o suicídio, uma ação leva muitos à repetição só pelo prazer macabro de aparecer nas mídias.
O Diário de Minas está fazendo a sua parte ao alertar o setor de modo geral, com a melhor das intenções. Depois desse lamentável fato, as mídias têm a obrigação, sem procrastinar, de reunirem-se para refletir sobre o que fazer, porque se continuar a noticiar, estará contribuindo para aumentar a propagação do mal.
E as pessoas irão acabar alimentando o medo de irem à creche, escola, restaurante, barzinho e feira livre, com o temor exagerado de dar de cara com a descarga da patologia de alguém armado.
Por iniciativa própria, por saber que um mau exemplo pode ser imitado tanto quanto o bom exemplo, o Diário de Minas não publica a rotina das ocorrências policiais, para não catapultar a energia negativa. Poupa os leitores dessa descarga desnecessária.
O DM de mais de 100 anos, ressurgiu em versão digital com o fito de fazer Jornalismo diferente do que se fazia no impresso, tendo o cuidado de não cometer os mesmos erros dos que contribuem diariamente com a propagação de descarga negativa.
Aqui estamos para construirmos e procurarmos tornar a vida das pessoas mais agradáveis, com um tipo de Jornalismo maduro.
Achamos um perigo noticiar aquilo que tem “poder de contágio” para o mal.