Dois vestidos
Eu estava apaixonada, certa de ter encontrado o “parceiro de existência”, aquele que esperei por tanto tempo finalmente havia chegado!
27-01-2024 às 08:48h.
Cléria/Cléo Zocrato*
Havia uma loja que vendia lindos vestidos! Lindos e... caros para meu orçamento, que era sempre apertado. Toda vez que eu passava por ela e lia na vitrine “liquidação”, o que ocorria duas vezes por ano, sabia que era o momento de comprar um ou, no máximo, dois. E isso ocorreu especialmente naquele momento em que eu havia encontrado “o companheiro” e merecia alguns lindos vestidos.
Entrei na loja e a simpática vendedora, que já me conhecia dessas ocasiões de melhores ofertas, logo me trouxe alguns modelos tentadores. Mas um em especial me chamou a atenção, apesar de não ter nada a ver comigo: ele era branco, de cetim brocado, comprimento na altura dos joelhos, sem alças ou mangas, elegantérrimo, maravilhoso! Olhei para a atendente e elogiei a beleza da peça, mas logo afirmei não ser meu estilo.
A vendedora insistiu para que eu experimentasse a peça, apenas para apreciar melhor sua beleza. Assim, mesmo sabendo que não a levaria, aceitei o convite. Foi quando, ao vestir... magicamente eu me transformei em uma noiva! Noiva! Por que não? Afinal, eu estava apaixonada e namorando um homem maravilhoso, o parceiro que sempre desejei encontrar!
Resolvi comprar o vestido. Saí da loja certa de que havia enlouquecido, mas deslumbrada e pronta para realizar a tão sonhada “união”. Coisa simples, cerimônia intimista, para pouquíssimos convidados.
Voltei para casa a sonhar e planejar como seria. Estava com 48 anos, certa do que desejava: um parceiro, uma união que até então não havia experimentado. Talvez agora fosse o momento, ainda mais que havia encontrado esse vestido. Comentei com uma amiga que mora em um condomínio maravilhoso e ela logo ofereceu o local para o sonhado evento que... nunca aconteceu! Não, não é como planejamos, nem sempre a compra de um vestido terá o poder de alterar nossa história.
Eu já havia estado em um vestido de noiva aos 23 anos, porém, não havia comprado, apenas experimentado. Na época, o noivo me viu vestida e se encantou, disse que abriria mão do “combinado”: a cerimônia que seria somente no cartório, porque eu seria a noiva mais linda que alguém já havia visto! Mas essa “noiva” lindíssima nunca entrou na igreja.
O vestido que comprei? Ainda se encontra embalado dentro do armário! Precisa encontrar seu destino e ser libertado para vestir uma mulher especial, sendo noiva ou não. Uma mulher que saberá vesti-lo em ocasião apropriada, como ele merece.
O “parceiro de existência” hoje ocupa o lugar de um bom amigo. Eu sigo casada com minha poesia, projetos e trabalhos.
*Cléria/Cléo Zocrato é gineterapeuta, artista plástica, empresária e reikiana. Condutora de grupos femininos e masculinos, atuando também nas terapias integrativas e artísticas.
1 Comentário
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Emocionante! Obrigada por nós presentear com esse lindo texto.