
Usina de resíduos sólidos - créditos: divulgação
Sebastião Carlos Martins (*)
09-08-2025 às 11h11
Enquanto a maioria dos brasileiros enxerga os caminhões de coleta de lixo como apenas parte da rotina urbana, o que se desenha por trás da gestão dos resíduos sólidos urbanos (RSU) é um sistema complexo, com profundas implicações econômicas, ambientais e até políticas.
A engrenagem da coleta: da porta de casa aos aterros
A operação da coleta de lixo urbano no Brasil inicia-se com veículos de menor porte que percorrem ruas residenciais e comerciais, recolhendo resíduos não segregados. Após o recolhimento inicial, esse material é transportado até Estações de Transferência, estruturas logísticas responsáveis por duas funções cruciais: a separação preliminar de resíduos reutilizáveis e recicláveis, e o recarregamento dos rejeitos em caminhões de grande capacidade. Essa etapa visa otimizar o custo por tonelada transportada, em especial quando o aterro sanitário está localizado a dezenas de quilômetros do centro urbano.
A eficiência logística nessa etapa é chave para a rentabilidade dos operadores dos aterros. O custo médio do transporte de resíduos — comumente mensurado em reais por tonelada por quilômetro (R$/ton/km) — diminui sensivelmente quando há consolidação de carga e veículos com maior capacidade. Para os “aterristas”, essa economia representa uma das principais fontes de lucro operacional, em especial nos contratos firmados com prefeituras.
Mais lixo, maior lucro: a lógica de escala nos aterros
A rentabilidade de um aterro sanitário está diretamente relacionada à sua escala. Quanto maior sua capacidade diária de recebimento de RSU, menor é o custo unitário de operação. Isso ocorre porque os investimentos em infraestrutura (CAPEX), como escavadeiras, caminhões, patrolas e sistemas de impermeabilização, são diluídos por um volume maior de resíduos. Da mesma forma, os custos operacionais (OPEX) — principalmente mão de obra e manutenção — se tornam mais eficientes por tonelada processada.
Esse ganho de escala é desejável sob o ponto de vista técnico-financeiro. No entanto, também pode abrir brechas para distorções quando os sistemas de controle e auditoria falham.
O lado obscuro: superfaturamento e corrupção institucionalizada
Em alguns municípios brasileiros, especialmente onde os contratos com empresas de gestão de resíduos não são rigorosamente fiscalizados, há relatos e indícios de manipulação nos volumes de RSU recebidos pelos aterros. A prática consiste em inflar artificialmente a quantidade de lixo registrada — muitas vezes com o conluio de agentes públicos — para elevar o faturamento dos operadores.
Esse superfaturamento, por sua vez, transforma-se em uma fonte oculta de recursos para campanhas eleitorais, perpetuando gestões comprometidas com a manutenção do “status quo” em detrimento da concorrência justa e do interesse público. Licitações que poderiam privilegiar soluções mais sustentáveis e economicamente vantajosas são preteridas, comprometendo o avanço das políticas públicas de saneamento e energia.
A tendência mundial: fim dos aterros, início da valorização energética
Enquanto isso, países desenvolvidos como Alemanha, Japão, Suécia e Coreia do Sul já demonstram na prática que o futuro está longe dos aterros. Nessas nações, o conceito de resíduo como “problema” deu lugar à ideia de “recurso energético”. Unidades de Recuperação de Energia (URE) substituíram os aterros sanitários, utilizando tecnologias como gaseificação, pirólise e digestão anaeróbia para converter resíduos em energia elétrica, biodiesel, etanol de segunda geração (E2G) e até hidrogênio verde — obtido por eletrólise da água com a energia limpa gerada nas próprias UREs.
A adoção dessas tecnologias (gaseificação) não só reduz a dependência de combustíveis fósseis como também soluciona de maneira sustentável a gestão de resíduos urbanos. Nos aterros, a decomposição da matéria orgânica gera metano (CH₄) e dióxido de carbono (CO₂), dois gases de efeito estufa com elevado potencial de aquecimento global. O metano, inclusive, é cerca de 25 vezes mais potente que o CO₂ na retenção de calor na atmosfera ao longo de 100 anos, contribuindo diretamente para as mudanças climáticas.
Além disso, os aterros representam risco ambiental permanente: o chorume — líquido altamente poluente gerado pela decomposição dos resíduos — pode infiltrar-se no solo, contaminando lençóis freáticos e cursos d’água, especialmente em regiões onde o controle ambiental é precário ou inexistente.
Mesmo nos casos em que os aterros dispõem de estruturas para a captação do biogás e geração de energia elétrica, os resultados são extremamente limitados. Em média, a eficiência energética dessas estruturas não atinge sequer um décimo da energia obtida por meio da valorização térmica dos RSU em Unidades de Recuperação de Energia — contrariando diretamente o que determina a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010). O artigo 10 dessa lei estabelece, de forma imperativa, que se deve priorizar a extração máxima de valor econômico e energético dos resíduos, sendo o uso de aterros sanitários admitido apenas quando a recuperação energética e material se demonstrar tecnicamente ou economicamente inviável.
Portanto, insistir em modelos ultrapassados de disposição final em aterros — mesmo os tecnicamente adequados — representa não apenas um retrocesso ambiental, mas uma violação legal dos princípios que regem a moderna gestão de resíduos no Brasil.
O ciclo completo: fertilizantes organominerais e a revolução no campo
Outro caminho promissor na valorização dos resíduos urbanos (RSU) e industriais (RSI) é sua combinação com dejetos da agropecuária e minerais carboníferos para produção de fertilizantes organominerais. Esta rota tecnológica transforma passivos ambientais em insumos valiosos para o agronegócio.
O uso combinado de fertilizantes organominerais com nitrogenados industriais melhora a eficiência da adubação, amplia o tempo de liberação de nutrientes e reduz as perdas por volatilização. Na prática, isso representa maior produtividade agrícola com menor dependência de insumos importados — especialmente importantes em tempos de instabilidade global, com guerras e tarifas que impactam o fornecimento de fertilizantes nitrogenados, potássicos e fosfatados.
DBEST PLAN: Estudos que transformam resíduos em oportunidades concretas de investimento
A transição de uma economia baseada em aterros para uma matriz sustentável e tecnológica exige mais do que vontade política: requer fundamentação técnico-econômica sólida, que comprove a viabilidade e a rentabilidade dos projetos propostos. É justamente neste ponto que atua a DBEST PLAN – Engenharia e Tecnologia da Informação, empresa brasileira com atuação nacional, especializada na elaboração de estudos de viabilidade econômica e financeira de projetos de energia limpa e valorização de resíduos.
Com uma metodologia própria baseada em Simulação de Monte Carlo (texto), a DBEST PLAN analisa cenários reais, mensura riscos e projeta retornos com base em dados técnicos e de mercado. A empresa vem se destacando por traduzir projetos ambientalmente promissores em oportunidades de investimento confiáveis e financeiramente atrativas.
Essa abordagem permite não apenas atrair investidores institucionais e fundos de financiamento internacionais, como também, em determinadas circunstâncias, atuar como coadjuvante na estruturação da captação de recursos, auxiliando empreendedores e gestores públicos a viabilizar economicamente projetos que vão desde Unidades de Recuperação de Energia (URE) até plantas de etanol 2G, biodiesel, fertilizantes organominerais e hidrogênio verde.
Ao combinar conhecimento técnico, rigor econômico e responsabilidade ambiental, a DBEST PLAN oferece ao Brasil uma ferramenta essencial para transformar resíduos em ativos sustentáveis — com segurança jurídica, retorno mensurável e impacto positivo para toda a sociedade.
Soberania e estabilidade: o papel estratégico dos resíduos
Ao adotar políticas públicas baseadas na transformação dos resíduos em energia e fertilizantes (vídeo), o Brasil poderá não apenas avançar em sua transição energética, mas também fortalecer sua soberania econômica. Diminuir a dependência de importações de fertilizantes e derivados do petróleo significa ganhar autonomia estratégica, gerar empregos, atrair investimentos e estabilizar preços internos, blindando-se de choques externos.
Essa revolução já é possível — técnica e economicamente — como apontam estudos de viabilidade realizados por empresas especializadas. O que falta, muitas vezes, é a decisão política de romper com o modelo ultrapassado e extrativista dos aterros sanitários e apostar em um modelo circular, limpo, justo e rentável.
(*) Sebastião Carlos Martins é Engenheiro, professor e consultor ambiental
EMail: scm.sistemas@gmail.com Fone: (31) 99645-0801
Dbest Plan Engenharia e TI