
jornalista Jurandir Persichini e o advogado, Daniel Deslandes, presidente da Comissão de Imprensa e Liberdade de Expressão da OAB-Barro Preto - créditos: divulgação
12-10-2025 às 11h31
Alberto Sena*
Embora lá fora o tempo estivesse nublado, dentro do salão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Barro Preto, na Rua Guajajaras, 1757, em Belo Horizonte (MG) não havia no ambiente interno nada mais claro do que os pensamentos e vozes dos presentes que fizeram uso da palavra, “ditadura, nunca mais”.
Só quem viveu e sobreviveu, como o jornalista Jurandir Persichini e alguns ali presentes poderiam contar cada um à sua experiência, que, se contada, é capaz de deixar até estátuas boquiabertas, tamanha a capacidade irracional do ser chamado humano.
Persichini foi homenageado pela Comissão de Liberdade de Imprensa e Expressão da OAB Barro Preto presidida pelo advogado Daniel Deslandes, “com o objetivo de celebrar a Memória, a Verdade e a Justiça”.
Na ocasião, foi prestada homenagem solene às vítimas da ditadura militar e Jurandir Persichini teve reconhecida “a sua inestimável trajetória jornalística e a militância pela liberdade”.
Na casa dos 80 anos, aparentemente com toda a autonomia, o que demonstrou possuir capacidade física e intelectual para chegar ou ultrapassar os 100 anos, Persichini teve ali mais uma oportunidade de relatar o que sofreu nas mãos dos agentes do Departamento de Ordem Pública e Social (Dops).
Em certo momento, ele se emocionou e fez uma pausa, mesmo a distância se pôde notar que os olhos dele ficaram lacrimejantes.
Certamente é que a homenagem trouxe de volta os momentos sofridos, nas mãos dos agentes da ditadura, que alguns neófitos queriam trazer de volta, mas o eco da frase “ditadura, nunca mais” persiste e vai perdurar para todo o sempre.
Jurandir nasceu em Amparo da Serra, mas passou a infância em Raposos e o testemunho dele é forte o bastante para mostrar o quanto lutou e ainda continua a lutar por causa como o meio ambiente e contra a mineração irresponsável que além de depredar o ambiente rouba literalmente as riquezas minerais da região, a qual defende com toda garra.
Foi em Raposos que ele teve os primeiros contatos com os “mineiros comunistas” da Morro Velho. Na década de 1960, foi para Ipatinga trabalhar como metalúrgico e se tornou um dos sobreviventes do traumático “Massacre da Usiminas”.
Cheio de coragem e de compromisso, ele deixou o curso de Metalurgia para fazer Jornalismo na Fafich/UFMG e junto a colegas do Diretório Central dos Estudantes (DCE), fundou o Jornal Liberdade para denunciar as atrocidades das ditas autoridades.
Na distribuição do jornal para seus antigos companheiros, foi preso, espancado violentamente e levado para o Departamento de Ordem Pública e Social (Dops) em Belo Horizonte, o que resultou na instrução do 1º IPM pela Lei de Imprensa, pelo AI-2, em 1967.
Anistiado como preso político, fez brilhante carreira, atuando como superintendente de Comunicação na Rede Globo/Minas e na TV Alterosa, mais importantes cargos de direção na Imprensa Oficial e em instituições culturais como o Palácio das Artes.
Falaram antes de Percchini, na solenidade, o ex-militar Paulo Geraldo Ferreira, acusado como terrorista; Maria Emília da Silva, diretora do Instituto do Diretos Humano.
*Alberto Sena é jornalista e escritor