Diário de Minas impresso, laboratório de fazer jornalistas e um deles está aqui, vivo
Ele é um dos ganhadores do Prêmio Esso de Reportagem, com o Caso Jorge Defensor, operário que foi torturado pela polícia, no período da ditadura militar, governo do general Geisel.
Direto da Redação
03-12-2022
09h:38
Alberto Sena*
O Diário de Minas me remete às veredas no sertão norte-mineiro. Quem conhece as veredas, que alimentam o Rio São Francisco – uma vereda é um rio em potencial – sabe que elas são como laboratórios e berços naturais de uma infinidade de vida que ali nasce e sobrevive porque dispõe de tudo para a sobrevivência animal.
Espero que o prezado leitor tenha compreendido a comparação, porque o DM impresso revelou uma quantidade enorme de valores para a imprensa nacional e aos poucos vamos encontrando e promovendo um reencontro, ainda que intangível, com os profissionais de passado e os ainda do presente, carregado de energia do sentimento de gratidão e reconhecimento do valor de cada um.
Hoje é a vez de mostrar um profissional que, de tão perto estava, quase tropeçava nele, e quero nesta oportunidade recordar de quando ele passou pelo Diário de Minas, na década de 1970. Mesmo porque o início de carreira dele se confunde com o meu próprio, em Belo Horizonte, no jornal Estado de Minas, egresso de Montes Claros, no Norte de Minas.
Tito Guimarães Filho é o nome dele, nascido em Teófilo Otoni (MG), região semelhante à de Montes Claros, daí talvez a empatia telúrica surgida entre nós, fora que ele possui luz própria e isso é importante destacar. Daqueles indivíduos que, por meio da política dos homens, vive a utopia de um Brasil melhor para os brasileiros e um mundo mais humano para todos.
Nós nos encontramos a primeira vez, aqui, em Belo Horizonte, no Departamento de Investigações (DI), da Lagoinha. Ele na cobertura do setor de polícia pelo jornal Diário de Minas e eu pelo Estado de Minas.
Nas conversas de corredores do DI, Tito aos poucos foi me contando lances de sua vida, numa época de ditadura militar. E o leitor pode imaginar, só com base na informação de que ele tinha relação com Carlos Lamarca.
E por isso Tito passou uma temporada no Dops, chamado por extenso Departamento de Ordem Política e Social, e ao ser liberado, o Jornalismo já pulsava dentro dele de acordo com as batidas do seu coração, e ele foi trabalhar onde? No Diário de Minas.
Conversei com o editor Wander Piroli, responsável pela Editoria de Polícia do EM, a respeito de Tito, recomendando que o contratasse, e não deu outra coisa.
O Diário de Minas ficou sem a competência de Tito, como antes ficou sem a de Fialho Pacheco e outros que ganharam o mundo.
O perfil de Tito coadunava com o de Wander Piroli e da equipe. Na época, fazíamos Jornalismo em busca do porquê dos acontecimentos e não no limitávamos ao BO ou registro das ocorrências feitas diretamente nas delegacias.
O indivíduo cometeu homicídio? Cometeu. Por quê? Furtou? Furtou. Por quê? Tínhamos o salutar costume de ir ao local saber mais do que as informações contidas nos registros policiais. Às vezes chegávamos nos locais antes da polícia, principalmente em ocorrências de homicídio.
Para situar melhor o período, o presidente do Brasil era o general Emílio Garrastazu Médici, que logo foi substituído pelo general Geisel, e este veio com a conversa de distensão lenta e gradual.
Foi quando Tito, o fotógrafo Sidney Lopes e eu nos vimos envolvidos no chamado Caso Jorge Defensor, operário que foi torturado pela polícia e cuja cobertura jornalística nos deu um Prêmio Esso de Reportagem, do qual participaram também os jornalistas Francisco Sterling e Geraldo Elísio, porque o caso repercutiu no Palácio da Liberdade e na Assembleia Legislativa setores deles.
Hoje, Tito está de volta à Casa que o acolheu no início de carreira, isto é, o jornal Diário de Minas. Só que não é mais jornal impresso, mas digital, porque mais do que a versão em papel tamanho “standard”, está imbuída da pretensão de rodar o mundo, em quatro línguas, português, inglês, espanhol e alemão.
Juntos, estamos a trilhar um caminho novo, semelhante ao de Santiago de Compostela, com a disposição de fazer algo diferenciado, como é próprio de toda longa caminhada.
*Editor Geral do DM