
Mercado de Crédito Carbono - créditos: divulgação
21-10-2025 às 13h03
Camila Caringe da B4 para Redação do Diário de Minas
Líderes de todo o planeta se mobilizam para conter o aquecimento global e o mercado de créditos de carbono vai ocupando o centro das atenções. Como instrumento financeiro que certifica reduções ou remoções de gases de efeito estufa da atmosfera – principal causador das mudanças climáticas –, esse tipo de comércio se tornou não só uma ferramenta ambiental e social, mas também um ativo econômico que vale dinheiro.
Odair Rodrigues, CEO da B4, primeira Bolsa de Ação Climática do Brasil, aponta que multinacionais devem encontrar pela frente exigências cada vez mais rigorosas para transitar seus produtos no mercado internacional. “Do ponto de vista financeiro, existe uma oportunidade enorme de investimento em projetos de sustentabilidade que podem gerar créditos e isso será fundamental para se manter competitivo. A consciência regenerativa tem que estar presente nas atividades cotidianas das instituições.”
Por aqui, o Programa Brasileiro GHG Protocol – desenvolvido pela Fundação Getúlio Vargas e WRI em parceria com o Ministério do Meio Ambiente – procura estimular a cultura corporativa a se comprometer com o inventário de emissões, além de proporcionar instrumentos e padrões de qualidade internacional para contabilização das emissões e publicação de relatórios.
Já a União Europeia aprovou o regulamento Carbon Border Adjustment Mechanism (CBAM), em vigor oficialmente a partir de 2026, e passa a exigir garantias de neutralização de carbono. Esse mecanismo obriga importadores a pagarem por emissões incorporadas em produtos intensivos em carbono, como aço, cimento, fertilizantes, alumínio, eletricidade e hidrogênio, entre outros.
O Reino Unido também planeja implementar seu próprio sistema de ajuste de fronteira para importações de bens com emissões elevadas. O plano está previsto para começar a valer em 2027. No Canadá, o imposto sobre carbono entrou em vigor em outubro de 2019 e é aplicado à compra de combustíveis fósseis. A taxa tem por objetivo incentivar os canadenses a mudar para formas mais sustentáveis de energia, como veículos elétricos ou transporte público.
A Austrália também está entre os países que estudam possibilidades, assim como a Coreia do Sul e o Japão. Já existem debates relacionados à compatibilidade com regras internacionais, como as da Organização Mundial do Comércio. Mas ainda nem todos os mecanismos foram testados oficialmente quanto à conformidade com regras multilaterais.
Segundo as Nações Unidas, os combustíveis fósseis, como o carvão, o petróleo e o gás, são os maiores contribuintes para as mudanças climáticas, sendo responsáveis por mais de 75% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE). Entre 2005 e 2020, as emissões aumentaram 18%. Ou seja, o aumento dos níveis de GEE eleva a temperatura do planeta, que está aquecendo mais rápido do que em qualquer outro momento registrado na história.
Oportunidades e desafios
Seja por questões de regulação, controle de qualidade e mesmo de credibilidade, empresas estão cada vez mais pressionadas a compensar suas emissões poluentes. Neste cenário, projetos se estabelecem na atividade de transformar o dióxido de carbono evitado/capturado em mercadoria negociável. A oferta mundial de créditos de carbono, tanto no mercado voluntário quanto regulado, é vasta, mas enfrenta desafios. Existem muitos projetos registrados, metodologias variadas, créditos emitidos ainda não aposentados — ou seja, não utilizados para compensação.
“A qualidade dos créditos que circulam ainda não alcançou o nível de excelência. Essa é uma preocupação fundamental para nós. Os projetos listados na B4 são todos registrados em blockchain. Exigimos certificação, controle regular de auditoria periódica e todos os dados têm transparência”, conta Rodrigues. Ele destaca ainda o benefício reputacional de companhias que optam por compensar a pegada de carbono de suas atividades. “Os consumidores estão atentos e já preferem produtos e serviços responsáveis. E a legislação está apertando. Não é mais uma questão de escolha. Quem não se adequar, vai ficar para trás.”
Metodologias recentes com maior rigor (integridade) estão sendo requeridas pelos compradores, o que tem limitado a aceitação de créditos antigos ou de baixa qualidade. Novos dispositivos, como os previstos pelo Acordo de Paris, também criam regras de contabilidade e governança que podem restringir projetos que não cumprem critérios adequados.
Do lado da demanda, há força crescente. Muitas empresas privadas assumiram compromissos de neutralidade e metas ambientais, sociais e de governança (ESG) que incluem manejo de resíduos, matéria-prima renovável, uso de energia limpa, reuso da água e atendimento às comunidades. Mesmo em mercados regulados, mais jurisdições estão implementando sistemas de comércio de emissões (ETS) ou regulamentos que forçam empresas a comprar créditos ou licenças de emissão se ultrapassarem cotas.
Adicionalmente, há pressão de investidores, consumidores e leis internacionais.
Apesar do grande potencial, vários obstáculos atrasam a oferta efetiva. Muitos projetos ainda não concluíram a verificação ou a emissão dos créditos. Há também críticas de que alguns planos florestais teriam vínculos com práticas ilegais ou falhas de integridade e transparência. Além disso, metodologias mais rigorosas aumentam custos de desenvolvimento e restrições, fazendo com que muitas iniciativas se tornem inviáveis se os preços dos créditos forem baixos.
Brasil: o gigante verde
O Brasil possui uma posição privilegiada no cenário global: grandes biomas, florestas extensas, áreas degradadas que podem ser restauradas, além de muita riqueza natural. Existem iniciativas para estruturar o mercado voluntário com metodologias mais robustas, verificações independentes e padrões elevados, como a B4. A Bolsa de Ação Climática completou dois anos de operação em agosto e já soma 533 projetos submetidos para listagem, dos quais 202 estão em desenvolvimento. Atualmente, a plataforma contabiliza 44 projetos em processo de listagem, 11 aprovados e 7 já listados. O volume de créditos em análise chega a 146,695 milhões de toneladas de CO₂, enquanto 12,762 milhões de toneladas já foram listadas. O avanço também é territorial: mais de 3,356 milhões de hectares estão sob monitoramento.
Para o CEO, ter R$ 1,1 bilhão em créditos projetados para negociação em apenas dois anos mostra a importância desse mercado e sua potência. “Os resultados estão dentro do que a gente planejou. Até 2030, queremos listar aproximadamente 300 milhões de créditos. Com a automatização e o aumento da segurança nas transações, a possibilidade de gerar receita é muito mais alta, tanto para o originador do crédito quanto para quem está comprando.”
Através da lei nº 15.042/2024, o Governo Federal promulgou o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), que define claramente regras para o mercado voluntário também. A lei reconhece direitos de povos indígenas e comunidades tradicionais e regula projetos de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD+). As estimativas são ambiciosas: os Estados da Amazônia brasileira poderiam emitir cerca de 1,05 bilhão de créditos padrão, a um custo de US$ 10 a US$ 20 por crédito, o que equivale a uma receita potencial de US$ 10 a US$ 20 bilhões.
A demanda local também começa a ganhar força. Empresas brasileiras estão se antecipando à demanda regulada, buscando créditos voluntários para cumprir metas internas, melhorar a reputação e elevar seus indicadores ESG. Também existem programas de apoio de bancos públicos ou instituições estatais que compram créditos como forma de incentivo. “A B4 está nesse trabalho de educar e propor inovações ao mercado de crédito de carbono, apoiando iniciativas que tenham um olhar para as especificidades do contexto interno”, conclui Rodrigues.
Sobre a B4
A B4 é a primeira Bolsa de Ação Climática do Brasil, criada com o propósito de reduzir as emissões de carbono e fortalecer o mercado de sustentabilidade por meio de tecnologia blockchain, garantindo rastreabilidade e segurança nas transações. Com operações iniciadas em 2023, a B4 trabalha para que empresas encontrem um ambiente transparente, conectando inovação tecnológica a práticas de responsabilidade ambiental. A expectativa é consolidar o Brasil como protagonista no mercado global de créditos de carbono, ampliando a liquidez e a confiança nesse segmento estratégico para a transição climática. https://b4.capital/
Para mais informações:
Camila Caringe
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