Créditos: Divulgação
03-11-2025 às 20h00
Alberto Sena*
A cada avanço na leitura do livro “Diários Índios”, do professor Darcy Ribeiro, acho que não serei mais a mesma pessoa que iniciou essa caminhada, porque nesta incursão vou encontrando em mim a predominância do meu sangue índio.
Esta minha ligação íntima com a Mãe Natureza, desde criança, em Montes Claros, no Norte de Minas, a caminho da fazenda Aliança, do sr. Indalício, irmão do compadre do meu pai, Petronilho Narciso, avô de Mara Narciso; as minhas idas várias à Lapa Grande, dentro da qual me arrastei por túneis estreitos. Esse meu senso de defesa do meio ambiente inteiro. Iniciei a cobertura jornalística em Minas Gerais criando a editoria de Meio Ambiente do jornal Estado de Minas quando editor de Economia e Agropecuária.
E vamos por aí me descobrindo, a essa altura da minha caminhada, as minhas raízes, lendo as experiências de Darcy com os índios, experiências que gostaria de experimentar hoje, a fim de checar como estão – se é que estão –, com base nas pegadas de Darcy, 76 anos depois.
Surge-me, neste instante, uma ideia e eu a ofereço à Companhia das Letras, que editou o livro, e certamente terá de fazer novas impressões deste “Diários Índios”, e na sequência podia patrocinar uma expedição em busca das pegadas de Darcy Ribeiro, baseado nas descrições do livro? Que tal, Companhia das Letras?
A cada passo, quero dizer, a cada página do livro “Diários Índios”, vou também entendendo o fato de Darcy ter criado o “Museu do Índio”, que, se não fosse ele, os nossos ancestrais já teriam desaparecidos. Hoje em dia ainda restam remanecentes, mas de uma maneira ingrata, eles são tratados pela sociedade, cada um em seu canto.
Li boa parte da obra do professor Darcy, quando ele foi o secretário Extraordinário para Assuntos Sociais e Desenvolvimento, no governo Newton Cardoso, em 1987, e participei da assessoria de imprensa dele. Por várias vezes, ele me disse temer ser esquecido depois da morte e tomei essa percepção absurda dele como missão de lembrá-lo sempre.
Mas, afinal, tudo que li dele me levou a este “Diários Índios”, que, de fato mexeu e mexe comigo como nenhum dos outros mexeram tanto. E olhe que estou praticamente no início.
Este livro tem a ver com a minha natureza humana, e como fiz no Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha, cujo cajado carrego comigo, empunho-o para caminhar com Darcy e os índios perpassando aldeias tantas em reconhecimento da química do meu sangue: português, índio e negro. Brasileiro da gema. Ou seria do caldeirão étnico?

