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O que o BRICS+ pode oferecer em termos de mediação e cooperação em segurança? CRÉDITOS: Divulgação
Mais de vinte países já manifestaram formalmente seu interesse em ingressar no BRICS+. A entrada de novos membros, alinhada aos inúmeros pedidos de adesão.
19-02-2025 às 09h19
Alice Castelani de Oliveira*
Entre os dias 22 e 24 de outubro de 2024, os líderes dos países membros do BRICS+ se reunirão em Kazan, na Rússia, para a 16ª Cúpula da coalizão. Esta será a primeira Cúpula realizada após a expansão do grupo em janeiro deste ano, que, para além do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, incorporou ao seu quadro: Egito, Etiópia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Irã. Dado esse processo de expansão e o grande número de Estados que já manifestaram interesse em integrar o grupo, há uma grande expectativa em relação ao que será discutido em termos de institucionalização do bloco e os critérios de adesão para novos parceiros. Além disso, espera-se que temas como a desdolarização e os desafios da segurança global também estejam na pauta.
Mais de vinte países já manifestaram formalmente seu interesse em ingressar no BRICS+. A entrada de novos membros, alinhada aos inúmeros pedidos de adesão, demanda que o grupo enfrente o debate sobre sua institucionalização, sobretudo naquilo que implica critério de adesão, formulação de agenda e tomada de decisão. Isso porque à medida que o grupo expande, cresce a necessidade de se estabelecer mecanismos formais que garantam seu funcionamento e eficácia. A questão aqui é como o bloco vai estruturar seus mecanismos de governança de modo a lidar tanto com a complexidade da nova configuração quanto com os desafios de incorporar novos parceiros no futuro. A entrada de novos membros amplia as possibilidades de desenvolvimento de cooperação, porém também impõe novos desafios em termos de equilíbrio de poder. Nesse sentido, o processo de institucionalização do bloco será fundamental para garantir sua capacidade de definição de agendas e construção de ação coletiva no âmbito da política internacional.
Além disso, um dos principais temas da pauta do evento é a desdolarização. A criação de uma moeda comum para o BRICS+ ainda é uma possibilidade remota. A despeito disso, o bloco concordou em discutir novas medidas para reduzir a dependência do dólar no comércio entre os países membros, assim como para buscar fortalecer instituições alternativas ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Mundial, que são controlados principalmente por potências ocidentais. Espera-se que o bloco anuncie novas medidas na direção de avançar com o processo de desdolarização a partir da construção de um sistema financeiro internacional mais inclusivo.
Por fim, frisa-se que o bloco precisa enfrentar o delicado debate sobre segurança global. A atual conjuntura geopolítica, marcada pelo aumento das tensões em várias regiões, especialmente no Oriente Médio devido à escalada do conflito entre Israel e Palestina, torna a segurança um dos temas mais complexos da política internacional no momento. Diante disso, surge a questão: o que o BRICS+ pode oferecer em termos de mediação e cooperação em segurança? A construção de um consenso entre países com interesses divergentes é um desafio, mas também uma oportunidade para o bloco reafirmar seu papel como um ator relevante no debate global sobre paz e estabilidade.
Doutoranda em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mestra em Segurança Internacional e Defesa pela Escola Superior de Guerra (ESG) e bacharel em Ciências do Estado pela UFMG. Hoje, é membro da Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED) e integrante dos grupos: Instituto Brasileiro de Estudos da China e Ásia-Pacífico (IBECAP), Grupo de Estudos Estratégicos Raul Soares; Global IR and Brazil BRaS; e Rede Interinstitucional de Pesquisa em Instituições Internacionais (RIPPERP).
Contato: alicecastelani@gmail.com