Ele tem o nome de Américo Renné Gianetti, um gaúcho que se transferiu para a velha província do hoje Sudeste e a ela prestou reconhecidos serviços e ergueu obras valiosas.
Manoel Hygino dos Santos*
O Parque Municipal de Belo Horizonte, se situa em pleno Centro urbano da capital dos mineiros, a primeira construída e inaugurada na República. Ele tem o nome de Américo Renné Gianetti, um gaúcho que se transferiu para a velha província do hoje Sudeste e a ela prestou reconhecidos serviços e ergueu obras valiosas.
Em 2024, houve uma vacinação geral de pelo menos 300 gatos que no Parque moram. Força-tarefa com agentes de saúde municipais entrou em cena e ação. Sua missão era imunizar, como acontece anualmente, a população de felinos que existem nos 180 mil metros quadrados do logradouro. Com isso, mantém-se o propósito de fazer com que a cidade continue sem casos de raiva, como ocorria há três anos.
Na oportuna ocasião, Pedro Rogério Moreira lançou “A VIDA misteriosa dos gatos”, uma edição da Thesaurus, de Brasília. E, mediante o artifício (?) do título, o escritor, membro da Academia Mineira de Letras, ingressou no mundo “misterioso” de Brasília, com personagens aparentemente fantásticos procedentes de todo o território, para exercício da atividade política ou supostamente política.
QUEM É QUEM
O autor, nascido em Belo Horizonte e filho de presidente perpétuo da Academia Mineira de Letras, Vivaldi Moreira, adentrou na capital federal com potencial absoluto. Tinha habilitações que o acompanhavam desde a juventude e encontrou propício ambiente na família, formada com gente de letras e da imprensa. Seus ingresso e sucesso no seio de grandes sistemas empresariais de comunicação, como a Globo, escancararam-lhe oportunidades, dezenas de anos até agora.
“Os gatos”, o livro, conta muito e totaliza 289 páginas, “narrativas de acontecimentos pessoais, políticos e sociais, especialmente de Brasília, onde Pedro Rogério vive há décadas “sendo uma louvável contribuição do autor à literatura memorialística brasileira,” como comenta José Mário Pereira, que merece consideração.
Gabriel Kwac, da Associação Paulista de Críticas de Arte, não deixa por menos: “O leitor vai se deparar com um memorialista que observa, com instinto e sentido apurado, presidentes e outros tipos humanos de tempos idos, como se a conturbada história brasileira fosse um eterno presente. Brasília merece e necessita de memórias como as suas”.
A CAMINHANTE
Pedro Rogério lembra que, quando foi para a Península dos ministros, Dilma – chefe da Casa Civil da presidência da República, “não cumprimentava os caminhantes com os quais cruzava diariamente na ciclovia. Todos a consideraram antipática, por essa falta de educação ou desatenção de comportamento. Foi, aliás, outra marca em suas características pessoais, que se tornaram públicas: a antipatia. Outros diziam “soberba”. Até aliados políticos a consideravam remplis”.
O repórter-memorialista lembra também Vargas, em 1950. O “velho” estava sem dinheiro para enfrentar a vida doméstica após governar o Brasil por quinze anos, oito dos quais de forma imperial. É de admirar! O aperto financeiro chegou ao ponto de Getúlio, em carta de 11 de janeiro de 1949, enviada da fazenda de São Borja, pedir à sua filha Alzirinha, residente no Rio, que buscasse na tesouraria da Academia Brasileira de Letras, para dar a dona Darcy Vargas, os quatro jetons a que fazia jus por comparecimento a igual número de sessões na ABL, na sua condição de acadêmico, em anos anteriores”.
VOO PRESIDENCIAL
Mudemos de assunto, com o escritor de Beagá. O regresso de Lula, em recente viagem ao México para a posse da presidente daquele país, serviu para chamar atenção sobre os deslocamentos de altas autoridades e a ocorrência de problemas técnicos.
No início deste outubro de 2024, Lula teve de sustar a viagem, após levantar voo no aeroporto da capital asteca. Ficou sobrevoando a capital por cinco horas para diminuir o peso da aeronave, com sua comitiva de ocupantes, até um limite considerado adequado. Consumido o combustível indispensável, o vigoroso avião voltou ao aeroporto, onde já existia um segundo avião oficial aguardando, como sempre acontece nos voos presidenciais.
Nenhuma novidade. O protocolo exige estas medidas de segurança e não se foge a algo que se tornou rotina – nos voos em território nacional ou em viagens internacionais.
Os deslocamentos aéreos no tempo do presidente Médici não escaparam ao memorialista-repórter. Voltamos ao tempo em que o terrorismo combatia a ditadura militar e essa revidava com tortura.
Eram dois aviões One-Eleven, ingleses, idênticos; por fora a única diferença era a matrícula da FAB. Por dentro, a mesma configuração de poltronas e de cabine privativa de Sua Exa. Médici viajava pouco e só o major-aviador Cel. Adair Geraldo Ribeiro, que teve destacada atuação em Jacareacanga, sabia em qual dos dois aparelhos o presidente viajaria.
O protocolo era extremamente rígido e lúgubre. Quando o presidente chegava ao hangar do Grupo de Transporte Especial, no setor militar do Aeroporto de Brasília, já encontrava as aeronaves lado a lado, e só na hora H, Adair anunciava ao presidente e demais autoridades, até o comandante do GTE e da Base Aérea, em qual dos dois aviões o presidente embarcaria.
Apelidava-se a viagem de “o voo da bomba”. Começava com o One-Eleven decolando, fazendo sobrevoo no Planalto Central, em diferentes altitudes, porque, se houvesse uma bomba a bordo, ela explodiria em qualquer nível do altímetro. O ensaio durava uma hora. Após, o avião voltava à Base e o segundo piloto presidencial embarcava em outro One-Eleven, o avião reserva, fazendo o mesmo procedimento de segurança. Só então os dois aviões eram reabastecidos plenamente e posicionados para o efetivo embarque do presidente, com vigilância fortemente armada em volta.
* Da Academia Mineira de Letras e da Associação Nacional dos Escritores.