Mao Tsé-Tung percorreu, entre outubro de 1934 e outubro de 1935, 12.500 quilômetros, liderando o Exército Vermelho dos Operários. Luiz Inácio realizou, entre 1993 e 1996, 14 percursos e, em 2001, dois, cobrindo 401 municípios em 162 dias.
Ílder Miranda-Costa*
[1]Em 13-4-2003, a Folha de São Paulo perguntou ao Ministro-Chefe da Casa Civil da Presidência da República: – “O sr. é socialista?”. Dirceu teria dito o seguinte: – “Eu sou. O PT é um partido socialista (…) Agora, eu sou de um partido que não é marxista-leninista, felizmente. Não é um partido que tenha participado de uma concepção socialista autoritária.” O passa-quatrense teria acrescentado que “ninguém do PT tem disposição para ficar renegando o socialismo.” Diante disso, a Folha alegou que “o sr. tem uma relação afetiva com Cuba e com Fidel, mas é uma ditadura”, e perguntou: – “Como fica?”. – “Tenho amigos no governo de Cuba. Agora, isso quer dizer que eu concordo?
Claro que não. Tenho constrangimento em falar das minhas divergências com Cuba? Tenho. (…) procuro não falar. (…) Aliás, já falei que não concordo várias vezes em público.”
Em 1981, Mário Morel disse o seguinte a Luiz Inácio: “Você falou que podem chamá-lo de socialista porque todos que querem uma sociedade mais justa, no fundo, são socialistas.” Naquele dia, Luiz Inácio aceitou a provocação: “É necessário que se discuta que tipo de socialismo. Se é um socialismo onde termos de implantar um regime e depois segurar na base da baioneta, na base da tortura, ou se teremos capacidade de propor um sistema onde isso não seja necessário.” Na mesma oportunidade, Morel perguntou: “Qual [é] o principal adversário do PT?”. Luiz Inácio: “A nível ideológico seria o PC. (…) Vamos pegar o PC. Com que direito, o Partido Comunista se acha partido da classe trabalhadora? Vamos pegar todos os livros de Marx, de Lenin e o caralho a quatro, e vamos ver qual é o livro que diz que o PC é o partido da classe trabalhadora. O partido da classe trabalhadora é aquele em que a classe trabalhadora está participando dele, tem hegemonia. E ninguém me diz que é o PC.”
Quanto ao PT, seu Estatuto/2017, art. 1º, diz o seguinte: “O Partido dos Trabalhadores (PT) é uma associação voluntária de cidadãos e cidadãs que se propõem a lutar por (…) transformações (…) destinadas a eliminar a exploração, a dominação, a opressão, a desigualdade, a injustiça e a miséria, com o objetivo de construir o socialismo democrático.”[2] Na prática e por causa de seu culto à personalidade de Luiz Inácio, o PT tende ao stalinismo. Entretanto, essa conclusão é provisória, pois, por um lado, o líder ainda não encontrou seu Nikita e, por outro, as Caravanas da Cidadania revelam que, historicamente, o PT tem vocação marchista, o que o aproxima do maoísmo.
Luiz Inácio realizou, entre 1993 e 1996, quatorze percursos e, em 2001, dois, cobrindo quatrocentos e um municípios em cento e sessenta e dois dias. A propósito, em outubro de 1995, as Caravanas estiveram no Vale do Jequitinhonha e, em julho de 2001, na Região dos Lagos de Furnas.
Mao Tsé-Tung percorreu, entre outubro de 1934 e outubro de 1935, doze mil e quinhentos quilômetros, liderando o Exército Vermelho dos Operários e Camponeses da China, que, durante a Guerra Civil Chinesa entre comunistas e nacionalistas, fugia do Kuomintang apoiado por União Soviética e Alemanha de Weimar. Mao partiu do sul da China e marchou, em sentido horário, ao longo da fronteira ocidental do país.
A jornada deve interessar a Luiz Inácio, pois está na hora de o PT reeditar as Caravanas, sob pena de, caso contrário, ser obrigado a criar uma milícia popular e fundi-la ao exército e, seguindo velhas lições leninistas, substituir o exército permanente pelo armamento do povo todo. Sobrepondo mapas de Brasil e China, circuito similar seria partir, em outubro de 2025, do centro-sul de Goiás, atravessar Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, tangenciar Roraima, cortar o sudeste do Amazonas, percorrer Pará, Maranhão, Piauí, Nordeste inteiro, Espírito Santo, Rio de Janeiro e, em outubro de 2026, terminar a viagem em Minas Gerais.
[1] Estatuto do PCB/2017:
Artigo 3° O PCB tem por objetivo da sua ação política a ultrapassagem da sociedade capitalista e a construção de uma sociedade socialista, na perspectiva do comunismo, e fundamenta esta ação nos princípios do Marxismo-Leninismo.
Parágrafo Único. O PCB educa seus militantes no respeito à soberania da vontade do povo brasileiro e no espírito do internacionalismo proletário, na solidariedade aos trabalhadores de todos os países.
Artigo 4° A condição básica para a consecução dos objetivos programáticos partidários é a unidade ideológica, política, orgânica e de ação, baseada no centralismo democrático e na direção coletiva, fundamentados nos princípios do marxismo-leninismo, tendo como resultante um partido de quadros, formados a partir da militância orgânica na vida partidária e nas lutas concretas da classe trabalhadora.
*Ílder Miranda-Costa é bacharel, mestre e doutor em Direito