
NASA, na Flórida, lugar de sonhos ousados. CRÉDITOS: Divulgação
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04-06-2025 às 09h18
Edilma Duarte*
No último sábado, 30 de maio, voltei à NASA, na Flórida — um lugar onde os sonhos mais ousados da humanidade ganham forma. Estive lá pela primeira vez em 2017. Agora, revisitando cápsulas espaciais, foguetes e projetos de estações lunares, fui ainda mais longe: entrei na Mars Base 1, uma atração que simula uma base em Marte, no Kennedy Space Center.
Diante de uma réplica do rover Perseverance — o veículo robótico que explora o solo marciano coletando amostras e dados científicos —, não pude deixar de pensar em Crônicas Marcianas, de Ray Bradbury. No romance de 1950, os americanos fogem de uma Terra à beira da extinção para colonizar Marte — e acabar testemunhando a destruição do próprio planeta natal.
Essa lembrança me acompanhou no voo de volta ao Brasil. E ao chegar, me deparei com uma matéria do DW, assinada por Fred Schwaller, que fala justamente das novas expedições à Lua, da corrida global por seus recursos e, de quebra, ainda trouxe à tona o que muitos já suspeitam: a expedição está muito mais ligada à geopolítica e aos recursos naturais do que à pura ciência.
O que eles querem
Programas como o Artemis, liderado pela NASA, e a Estação Internacional de Pesquisa Lunar, capitaneada por China e Rússia, pretendem estabelecer bases permanentes no polo sul da Lua. O objetivo é extrair gelo, usar o regolito como material de construção, e — quem sabe — até explorar o hélio-3 como combustível para fusão nuclear.
A mineração espacial é uma ideia que soa futurista, porém, está mais próxima da realidade do que imaginamos. A Lua é rica em titânio, silício, ferro, hidrogênio e até hélio-3, um potencial combustível para a fusão nuclear.

Os programas Artemis (dos EUA) e a Estação Internacional Lunar (da China e Rússia) querem extrair esses recursos e montar bases permanentes no polo sul lunar, onde há gelo em abundância.
A mineração lunar é vista como o passo seguinte à exploração de asteroides e um teste de autossuficiência para futuras missões a Marte.
O que isso tem a ver com o Brasil
Enquanto as potências disputam o subsolo da Lua, o subsolo brasileiro está virando alvo da mesma corrida — e o país ainda observa, muitas vezes, de fora.
Elon Musk, fundador da Tesla e da SpaceX — ou seja, um dos protagonistas dessa nova era — comprou recentemente terras no Vale do Jequitinhonha (MG), uma das regiões com maior concentração de lítio do mundo. O lítio é essencial para baterias de carros elétricos, um dos negócios de Musk.
Mas ele não está sozinho. Em abril de 2024, a estatal China Nonferrous Metal Mining Group (CNMC) comprou por US$ 340 milhões a Mineradora Taboca, que atua no estado do Amazonas. Essa empresa controla a mina de Pitinga, rica em estanho, nióbio e tântalo — minerais valorizados na indústria de alta tecnologia e na transição energética global. Houve até boatos sobre urânio, mas soubemos que esse recurso é monopólio da União e não pode ser explorado comercialmente por empresas privadas.
Sem protagonismo
A exploração de lítio, nióbio e tântalo está sendo conduzida por potências que investem em foguetes e carros elétricos, enquanto o Brasil ainda enfrenta problemas de licenciamento ambiental, distribuição desigual da riqueza mineral e, em alguns casos, desinformação sobre o que está sendo vendido — e a quem.
A corrida espacial, portanto, é também uma corrida por poder terrestre. Se as futuras colônias lunares serão um passo para Marte, a disputa pelos recursos brasileiros é um passo para a supremacia tecnológica na Terra.
Cabe a nós decidir se vamos participar desse futuro como protagonistas — ou como simples fornecedores de insumos brutos.
* Edilma Duarte é jornalista e editora do Portal BAOBÁ