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Corpo de cacique é “semeado” de madrugada

Corpo de cacique é “semeado” de madrugada

Decisão da juíza federal foi publicada na noite desta terça-feira, 5, impedindo o sepultamento do cacique, mas ele foi sepultado na madrugada desta quarta-feira, 6

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06-03-2024 às 16h:18

Direto da Redação

A Vale S.A. parece não sentir o peso de duas tragédias que significaram a morte de 291 pessoas em Mariana (MG) e Brumadinho (MG), e agora acrescenta mais o peso morto do cacique Merong na sua “consciência” empresarial ao conseguir uma liminar da justiça federal para impedir o sepultamento dele nas terras onde os indígenas estão há três anos.

O Frei Gilvan, da Comissão Pastoral da Terra, se dizia hoje, logo cedo, indignado com a decisão. A juíza federal Geneviève Grossi Orsi autorizou a Vale a acionar a Polícia Federal ou a Militar para fazer cumprir a decisão, que causou revolta dos indígenas.

“Defiro [...] que seja impedida a realização do sepultamento do Sr. Merong Kamakã, nas terras objeto desta ação, ante a notória controvérsia acerca da titularidade das terras objeto desta ação” o texto é da decisão da juíza.

Em que pese a decisão judicial, na madrugada desta quarta-feira, 6, o líder indígena foi, como os indígenas costumam dizer, “semeado”. Na nossa língua, sepultado. E é aguardado o ato seguinte.

O cacique foi encontrado morto segunda-feira, 4, e a Polícia Militar considerou a morte dele suicídio. Mas ainda na madrugada de hoje o corpo dele era velado no território onde vivia com os parentes.

O Frei Gilvan se dirigia para o local considerava a decisão “brutal e inconstitucional”. E precisava ser revista, com disse ele, para assim garantir “os direitos dos povos indígenas, inclusive o direito de ser enterrado (eles falam “semeado”) no território”.

O cacique Merong Kamakã Mongoió, nasceu em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, era líder dos Kamakã, que é uma das seis etnias dos povos Pataxó Hã Hã Hãe.

Ele tinha ações de defesa dos territórios dos povos Kaingáng, Xokleng e Guarani. Aos 36 anos, foi encontrado morto e as circunstâncias devem ser apuradas pela Polícia Civil, que diz estar em contato com a Polícia Federal para investigar o caso.

A questão das terras do povo Kamakã teve início há cerca de três anos. As famílias indígenas deixaram a periferia de Belo Horizonte para ocupar uma área ambiental de antiga fazenda, no município de Brumadinho.

A fim de ouvir o outro lado do problema, foi enviada à assessoria da Vale a seguinte mensagem: “Aqui, é o jornalista Alberto Sena. Sou Editor Geral do jornal Diário de Minas. Estou aqui com uma matéria sobre o caso do cacique, em Brumadinho. A Vale conseguiu uma liminar que impede o sepultamento dele lá. O que preciso saber são os motivos da Vale para não querer o enterro dele nas terras onde vivia. Por favor, aguardo resposta. Obrigado”.

E a resposta da empresa veio, assinada por Tatiana Azzi, do “Relacionamento com a Imprensa”, saindo pela tangente: “A Vale reitera seu pesar pelo falecimento do cacique Merong e se solidariza com seus familiares e comunidade indígena. A Vale respeita os povos indígenas e seus ritos de despedida e busca construir uma solução com a comunidade que preserve suas tradições, dentro da legalidade”.

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