
Rota da Liberdade que liga Ouro Preto a Mariana - créditos: Voz Ativa
20-09-2025 às 08h28
Samuel Arruda*
O Consórcio Rota da Liberdade venceu, nesta quinta-feira (18), o leilão do lote rodoviário Ouro Preto – Mariana, realizado na Bolsa de Valores de São Paulo (B3). A concessão, considerada uma das maiores obras de infraestrutura de Minas Gerais nos últimos anos, abrange 190,1 km de rodovias e prevê investimentos totais de quase R$ 5 bilhões, incluindo R$ 2 bilhões oriundos do Novo Acordo de Mariana.
O grupo vencedor apresentou uma proposta de contraprestação de R$ 1,7 bilhão — valor 13,2% inferior ao teto estipulado em edital, gerando uma economia de aproximadamente R$ 250 milhões para o Estado. O contrato de concessão terá validade de 30 anos e inclui a duplicação de pistas, construção de contornos viários e melhorias significativas em segurança rodoviária.
A iniciativa abrange trechos das rodovias BR-356, MG-262 e MG-329, cruzando 11 municípios, incluindo Ouro Preto, Mariana, Itabirito e Ponte Nova. Segundo o Governo de Minas, a obra é uma das primeiras grandes entregas viabilizadas pelo Novo Acordo de Mariana, assinado em outubro de 2024 como forma de reparação pelos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão, em 2015.
Melhorias estruturais e operacionais
O projeto prevê a duplicação de 78,7 km de rodovias, implantação de 40,6 km de terceiras faixas, acostamento em todo o trajeto e a construção do Contorno Viário de Cachoeira do Campo, com 7,3 km em pista dupla. Também estão previstas intervenções específicas como uma área de escape na Serra da Santa, em Itabirito, e a criação de um Ponto de Parada e Descanso (PPD) para caminhoneiros em Amarantina.
O trecho contará ainda com três bases de serviços operacionais e um Centro de Controle Operacional (CCO) para monitoramento e atendimento 24 horas aos usuários. A cobrança de pedágio só começará após a entrega das obras previstas para o primeiro ano de contrato, como a reabilitação do pavimento e a revitalização da sinalização.
Com a conclusão das obras, o tempo de deslocamento entre Nova Lima e Rio Casca deve ser reduzido em cerca de 40 minutos. Já a viagem até Ouro Preto será encurtada em mais de 20 minutos, de acordo com estimativas do governo.
Desenvolvimento regional e turístico
Além dos impactos diretos na mobilidade e segurança, o projeto também se alinha à política de integração entre infraestrutura e turismo promovida pela Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult). A rota, batizada de Via Liberdade, conecta regiões de grande valor histórico e cultural, simbolizando também o caminho da Inconfidência Mineira. A proposta reforça a integração com a rota turística homônima lançada em 2022, que liga o Rio de Janeiro a Brasília, passando por Minas Gerais.
O governador Romeu Zema destacou a importância da concessão no contexto de crescimento do estado e reparação histórica. “É uma região com enorme potencial turístico, que agora recebe a devida compensação por conta da tragédia de Mariana. Nosso objetivo é garantir que essa reparação seja justa e gere benefícios reais para os mineiros”, afirmou.
O vice-governador Mateus Simões também enfatizou o ganho econômico com o deságio do leilão. “Estamos falando de um projeto que poderia exigir R$ 2 bilhões em aportes, mas que, graças à concorrência, resultou em uma economia de R$ 250 milhões que poderão ser redirecionados para outras obras no estado”, disse.
Avanços em concessões
Com essa nova parceria, Minas Gerais chega ao sétimo contrato de concessão rodoviária. É o quinto firmado durante a gestão de Romeu Zema e o primeiro sob supervisão da Agência Reguladora de Transportes de Minas Gerais (Artemig).
“O Estado está vivenciando o maior ciclo de investimentos em infraestrutura de sua história recente, o que vai transformar a mobilidade, gerar empregos, renda e, acima de tudo, salvar vidas”, afirmou Pedro Bruno, secretário de Infraestrutura, Mobilidade e Parcerias.
Contexto: Acordo de Mariana
A concessão integra as ações do Novo Acordo de Mariana, firmado após quase uma década da tragédia do rompimento da barragem de Fundão, em novembro de 2015, que deixou 19 mortos e causou danos ambientais e sociais profundos em Minas Gerais e no Espírito Santo.
O acordo foi assinado entre os governos de Minas e Espírito Santo, a União, o Ministério Público, Defensorias Públicas e as mineradoras Samarco, Vale e BHP Billiton. A coordenação estadual das ações de reparação é responsabilidade da Superintendência Central de Reparação do Rio Doce, vinculada à Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão (Seplag).
*Samuel Arruda é jornalista