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Cavalhadas em Montes Claros é uma tradição que pode ser resgatada nas festas de agosto

Cavalhadas em Montes Claros é uma tradição que pode ser resgatada nas festas de agosto

Em Portugal, a cavalhada era elemento de festas religiosas, políticas e guerreiras, envolvendo temas relativos ao período em que esse País se libertou do domínio espanhol.

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30-06-2023 - 12h:40

Marta Verônica Vasconcelos Leite*

A “Cavalhada”, antiga tradição da cidade de Montes Claros, que acontecia durante às Festas de Agosto, quando o largo da Matriz não possuía jardins era uma tradição profano-religiosa, realizada até a década de 1950 do século passado, sendo a última apresentação em 1957, durante os festejos do centenário da cidade de Montes Claros.

Segundo Saul Martins: As cavalhadas foram criadas na Idade Média, entre os séculos XI e XIII, baseando na vida do Imperador Carlos Magno (742-814). Sabe-se que durante a Idade Média, os bardos da Europa Ocidental criaram estórias que produziam a vida da época e serviam de modelo para o comportamento dos cavaleiros cristãos. Essas estórias eram apresentadas em festividades realizadas em torneios, fazendo parte das práticas em voga nas cortes europeias.

Em Portugal, a cavalhada era elemento de festas religiosas, políticas e guerreiras, envolvendo temas relativos ao período em que esse País se libertou do domínio espanhol. No Brasil, as cavalhadas apareceram no Nordeste, no século XVII, com características portuguesas e se espalharam por todo o País. Participam, no Brasil, pessoas de maiores possibilidades econômicas, como os fazendeiros, pois a beleza da festa está ligada a riqueza das vestimentas e acessórios usados nos cavalos.

O pesquisador Hermes de Paula, assim descreveu a Cavalhada: A cavalhada representa um episódio guerreiro entre mouros e cristãos. Em geral é composta de 24 cavaleiros, podendo ter mais ou menos. Coopera para maior realce da “Festa de Agosto”, mas não acompanha o “Reinado”; entretanto, toma parte nos mastros à noite, dando ao cortejo uma imponência especial. Os cavaleiros, solenes, vestidos de uma túnica branca, de espada à cinta, conduzindo lanternas e o pisar resoluto dos cavalos inquietos, soprando, constituem um espetáculo deveras atraente. Devido à túnica branca ser substituída por anágua, esse acompanhamento de cavaleiros noturnos é conhecido com o nome de camisada. Há também uma princesa – cristã, em torno da qual gira o enredo. O uniforme é igual para os cavaleiros. A exclusão da túnica de cetim vermelho para os mouros e azul para os cristãos, usam calças brancas, botas, boné, enfeitados de aljôfar, alamares, canutilhos, cadarços, lantejoulas etc. Os reis usam dragonas, uma capa de cetim (azul para os cristãos vermelho para os mouros) e coroa. Os cavalos e arreios são enfeitados com as cores dos cavaleiros e muitos guizos. A princesa se veste de branco ou azul e é representada por um rapaz de feições delicadas, usando uma cabeleira postiça e uma coroa. Monta em silhão em vez de sela.

Em Minas Gerais, as Cavalhadas mais antigas se realizam em localidades como: Morro Vermelho, Amarantina, Brejo do Amparo, Mateus Leme, entre outras, sendo que cada localidade desenvolveu particularidades, como por exemplo as datas, já que cada cavalhada se realiza em louvor a um padroeiro.

A diversidade não fica apenas na época de sua apresentação, acontecem formas distintas de um lugar para o outro, conforme acréscimos feitos ao longo do tempo. O conteúdo geral, no entanto, permanece: a cavalhada representa dramaticamente as lutas entre guerreiros mouros, que usam uniformes vermelhos e cristãos que usam uniformes azuis. As cores aparecem também nos adornos dos cavalos e na decoração do local, onde acontece a festividade.

Na véspera se realiza a justa, reunião de reconhecimento na qual participam os cavaleiros.

Durante a apresentação da cavalhada, realizada em uma arena, onde, de um lado é colocado o trono do Rei Cristão e do outro a torre do Rei dos Mouros, acontecem de forma teatral as falas que dão início ao evento. Em seguida, começa a luta entre mouros e cristãos que entram na arena liderados cada um por seu rei e ao som de tiros de garruchas (pólvora seca), lutam com lanças e espadas. Assim aconteciam.

Vale ressaltar que a festa mantém um caráter ideológico já que pretende resgatar imagens, falas e comportamentos que ficaram na memória coletiva. A dramatização dos símbolos e das alegorias está originalmente na crença a ser defendida.

Para as festividades comemorativas dos 150 anos de emancipação da cidade de Montes Claros, que aconteceram no mês de julho de 2007, tentou-se resgatar tradições, entre elas a Cavalhada, ou mesmo divulgar em nível nacional as existentes. O projeto foi feito para essa festividade, mas faltou logística para sua realização. Há um ano, o montes-clarense Murilo Maciel, filho de Nivaldo Maciel, último Rei Mouro da Cavalhada de 1957, solicitou à autora do projeto, a pesquisadora Marta Verônica Vasconcelos Leite, permissão para usá-lo, adaptando aos dias de hoje, ou seja, a encenação acontecendo na arena do Parque de Exposições João Alencar Athayde, durante as festividades dos 166 anos de emancipação da cidade de Montes Claros.

Nesse contexto, o Clube de Cavaleiros Nivaldo Maciel, a Sociedade Rural de Montes Claros, a Prefeitura Municipal, por meio da Secretaria de Cultura e outras entidades, em parcerias viabilizam a reestruturação dessa antiga tradição da cidade. A proposta é que agora a Cavalhada ocorra durante as comemorações do aniversário da cidade e talvez durante às Festas de Agosto.

As tradições religiosas e profanas há quase dois séculos têm acompanhando e enriquecendo a histórica Montes Claros, porém a Cavalhada deixou de ser apresentada quando o jardim da Praça da Matriz ocupou o espaço usado para sua realização.

O retorno dessa festividade sempre foi um sonho dos fazendeiros e dos participantes de esportes equestres, tão ao gosto dos montes-clarenses de hoje, especialmente as cavalgadas. A proposta é, pois, tornar possível, através de pesquisa histórica, a remontagem da Cavalhada, nos moldes dos festejos realizados em Montes Claros até meados do século passado.

O projeto Cavalhada têm como público alvo a população de Montes Claros e os turistas que veem à cidade para participar das comemorações de seu aniversário e de uma das maiores Exposições Agro Pecuárias do Brasil.

Referências Bibliográficas:

Enciclopédia Delta Universal. Vol. 4. Rio de Janeiro: Ed. Delta, 1980, p. 1.837.

MARTINS, Saul. Folclore em Minas Gerais. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1971, p. 62.

PAULA, Hermes de. Montes Claros, sua história, sua gente e seus costumes. Belo Horizonte: Ed. Minas Gráfica, 1979, p. 159.

*Jornalista e escritora.

 

 

Imagem da Galeria Esta foto ilustrativa da última Cavalhada de Montes Claros poderá se repetir muito tempo depois
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