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Carta à minha mãe para explicar a ela o porquê de não a querer trazer de volta a este mundo

Carta à minha mãe para explicar a ela o porquê de não a querer trazer de volta a este mundo

Ela morreu no Dia das Mães, no ano de 1985, e até parece que tudo se deu ontem, tamanha a velocidade temporal; já se passaram 38 anos. Que Deus a tenha, mãe. E tenha todas as mães.

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14-05-2023 = 08h:26

Alberto Sena*

Mãe, pois é, ainda me lembro daquele dia 12 de maio de 1985 – Dia das Mães – quando a senhora partiu.

Já se passaram 38 anos. O tempo está em alta velocidade, a senhora não acha?

Tenho algo a lhe confessar neste momento. Como o seu décimo filho, numa série de 11 – um morreu antes de completar um ano – falo em meu nome, para o seu bem, eu não gostaria, se fosse possível, de trazer a senhora de volta.

Sabe por quê? Porque se quando a senhora ainda estava no meio de nós a Humanidade já não ia bem, agora, está meio qualquer coisa. A situação piorou, mãe, mas de tal modo, que se a senhora estivesse aqui iria sofrer horrores.

É por isso que eu não gostaria, se fosse possível trazer a senhora de volta a esse belo planeta, que, assim acho, a Humanidade não merece, porque não valoriza como deveria valorizar.

Mãe, sem querer incomodá-la, mas incomodando, porque estou aqui neste monólogo para mais uma vez lembrar a sua memória de mãe extremada, de modo geral o mundo hoje vive num fuzuê danado.

Veja a senhora, a Rússia invadiu a Ucrânia e os dois não sabem como parar essa guerra; no Oriente Médio, Israel e o Hamas andam sempre às turras – é briga de parentes. Os Estados Unidos, de olho no petróleo da Venezuela e no lítio da Bolívia, Chile e Argentina. Enquanto isso, A China, caladinha, sem disparar um tiro, se vai crescendo e tal forma que os EUA irão ficar no chinelo.

O chamado Inconsciente Coletivo (IC) da Humanidade, mãe, está negativo como nunca dantes. E está assim porque as pessoas individualmente não estão bem. São os pensamentos que formam o IC da Humanidade. Como as pessoas estão com a cabeça cheia de pensamentos negativos, o IC, por conseguinte. está negativo também.

E, então, a senhora pergunta: “E daí?” Daí que pipocam acontecimentos negativos no mundo, como tem acontecido neste ano, que mal começou. Tem gente morrendo as carradas, aqui e fora daqui.

É o ódio, mãe, o rancor, a mágoa, tudo isso e mais as minhocas habitantes das cabeças que estão fabricando esses monstros. E eles tendem a nos engolir, mãe. E a senhora ainda acha que eu iria gostar de ver a senhora aqui, sofrendo por causa de tudo isso?

Hummm... Agora, está me dando razão, não é? Pois ainda nem contei o que se passa aqui no Brasil. Até parece que plantaram uma caveira de burro no País.

A senhora, tanto quanto eu, gostaria de ver um Brasil dando certo, mas os políticos mãe, os políticos estão atanazando a nossa vida. Eles ficam pousados em seus ninhos, legislando e executando em causa própria, se enchendo de privilégios, enquanto o povo sofre.

Sofre com o desemprego (e por isso muitos passam fome), sofre com a falta de uma assistência à saúde para todos, sofre com a falta de educação tanto dentro dos lares como nas escolas.

A senhora nem imagina a quantidade de gente dormindo nas calçadas, aqui, em Belo Horizonte. Aliás, acho que poderia imaginar sim, basta comparar com as cenas que a senhora viveu muito bem em Montes Claros, com famílias e mais famílias viajando em pau de arara fugindo da seca do Nordeste.

Pois é, mãe, eu não queria tirar-lhe o sossego. Em verdade, a intenção era mesmo lembrar a sua memória, a propósito do Dia das Mães.

E aproveitei para lhe dizer o porquê de não querer a senhora aqui neste mundo, se fosse possível trazê-la de volta à nossa casa.

E também para dizer que amo a senhora, ouviu?

*Filho da Mãe

Imagem da Galeria Minha mãe, Elvira com a neta Anne nos braços em algum momento lá em Montes Claros
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