Carlos Alberto Ratton e o caso do operário Jorge Defensor em tempo de ditadura militar
Outra surpresa encontrada entre os guardados foi o roteiro feito pelo cineasta Ratton, que valeu um prêmio Esso de Reportagem à equipe da Editoria de Polícia dirigida por Wander Piroli
Alberto Sena
Não sei se isto acontece com quem lê este texto em processo de digitalização, mas ocorre comigo o costume de guardar material escrito, jornais, fotos que no dia de hoje acho importante. Então o tempo passa, o tempo voa e chega um dia que é preciso pôr ordem nas coisas. É necessário fazer uma espécie de faxina.
O gostoso dessa atitude são as pequenas surpresas encontradas, como as páginas de jornal guardadas há um quarto de século sobre o velório e enterro do professor Darcy Ribeiro publicadas recentemente.
Outra surpresa encontrada foi o roteiro feito pelo cineasta Carlos Alberto Ratton, sobre o “Caso Jorge Defensor”, que valeu um prêmio Esso de Reportagem à equipe da Editoria de Polícia do jornal Estado de Minas (1977), sob a liderança do jornalista e escritor Wander Piroli, da qual Tito Guimarães Filho e eu, hoje no DM, fazíamos parte.
Só para recordar, o caso Jorge Defensor aconteceu quando o presidente da República era o general Ernesto Geisel, que vinha prometendo “abertura lenta e gradual do regime político.
A denúncia de tortura contra o operário Defensor feita pelo EM foi um furo de reportagem nacional e contribuiu de certa forma para acelerar a tal abertura política porque teve repercussão a imprensa do País e do exterior, na época.
O roteiro feito por Ratton certamente foi escrito para ser uma fita de longa-metragem e se tivesse sido levado avante, hoje o filme seria encarado como uma cena atual, principalmente porque o ódio e a violência foram semeados por um ex-presidente e caterva.
No texto elaborado por Ratton, o filme é intitulado “Pé de Chinelo” e o personagem central, o operário Defensor, recebe o nome de Josmar.
Não sei por que cargas d’água o cineasta não consumou o seu intento, acho que não conseguiu patrocínio e o roteiro foi engavetado. E ficou engavetado durante todo esse tempo, até vir a ser redescoberto durante a remexida na “arca da velha”, quero dizer, nos meus guardados.
De maneira que se algum cineasta há por essas plagas, na escuta, interessado em cinema, esse roteiro tem nuances universais e assenta como um par de luvas para o momento, nas mãos de quem carrega uma máquina de filmar no ombro e ideias no cabeção.