Canalha
Ficando demonstrado definitivamente que tal aplicação tornou-se useira e vezeira, em nosso país, recebendo nome até bonito em compra de honra: delação premiada.
28-01-2024 às 07:37h.
José Altino Machado*
Ao decorrer da vida, muitas vezes nos deparamos com alguém dando uso a este adjetivo se referindo a alguém, principalmente a desafetos.
Será que sabem mesmo que significado tem palavra tão agressiva, forte até em sua sonoridade? Acredito que não, e mais, menos ainda consultam o chamado, “pai dos burros”, para melhor entendê-la e compreender. Se nele procurarem, perceberão a gravidade do que ela expressa.
Em nosso país, em minha opinião, tem acontecido incentivos e induções à formação de verdadeiros canalhas. Aliás, assustadoramente nossos aparatos de segurança e justiça tem estabelecido singulares estratagemas, pouco nobres, de como se tornar um “bom canalha” ou no mínimo obter-se benefícios cometendo canalhices.
No Rio de Janeiro, como recentemente ficou demonstrado na tardia apuração do assassinato de uma vereadora, após cinco anos, parece, parece que há controvérsias, a coisa só se esclareceu, como dizem, premiando-se ao bandido, que de homicida assumiu a perfídia, se tornando um canalha delator.
Ficando demonstrado definitivamente que tal aplicação tornou-se useira e vezeira, em nosso país, recebendo nome até bonito em compra de honra: delação premiada.
Por experiências vividas, imaginaria sua concessão, apenas em casos excepcionais, para estancar crimes continuados e de abrangência pública nociva, porém negociar com bandidos tem se demonstrado mais fácil.
Começamos, todos mesmos, a descortinar, um puta retrocesso comportamental de nossos gestores, sejam lá da segurança social, da administração política e de embaraços da própria justiça e seus condutores. No caso citado da edil carioca, se percebe que, como em muitos outros casos, existe uma falência de nossos setores investigativos em qualquer área.
Na muito conhecida e à época alardeada como lava jato, coisa que poucos sabem o porquê de tal nome, praticamente o uso único para o levantamento das verdades criminosas, eram exatamente tais recursos, premiar aos também pouco honestos, dando-lhe condescendências por seus próprios pecados.
Talvez bem por isso, sequer a alma de tantos julgadores e fornecedores dos desonrosos perdões, a tão necessária sindicância, não tenha alcançado as devidas e finais punições. Percorrendo veredas tortuosas, a lavagem se tornou a seco, com tudo anulado, ou no mínimo, apagado em secretos escaninhos da memória nacional.
A sociedade brasileira, ao longo de sua história tem sido o maior algoz de seus próprios valores e heróis. Por discordância, diferentes modos de pensar e principalmente interesses políticos ou materiais sempre fazem por ignorar importâncias e qualidades alheias não havendo respeito a tais predicados e honrosas referências para uma tradição, estabelecendo-se o império amoral do desrespeito.
Houve tempo em que em bancos de escola, aprendemos que o primeiro e grande traidor nacional teria sido Calabar. Hoje, se entende que há controvérsias, afinal ele servia a quem sentia dever lealdade e a quem seu coração pedia. Para contragosto dos portugueses a quem deixou avisando marchar contra eles, por estar mais preocupado com os brasileiros e indígenas.
Canalha não foi, mas como a história quem conta é o vencedor, tal adjetivo lhe foi imposto. Daí a frente, por entendermos mal a pérfida canalhice atribuída a um ilegítimo traidor, chegamos a ponto de validarmos seu recurso, embora pouco digno. Ainda mais que nestes tempos de governo e aplicação de justiça tudo tem acabado em polícia e abusos “ilegais”.
Um cidadão vai a casa e intimidade de um presidente de república, provoca uma bosta de conversa íntima, com poder de interpretação dúbia, e a tudo sorrateiramente grava e sai na prática de autêntica traição, à descuidada confiança recebida.
Com ela, perante seus juízes acusadores, solicita prêmio de delação (traição). Confessa crimes, concorda com vultosos pagamentos em recebimento de anistia a castigos outros e em liberdade se manda livre. Passado tempo, um único cidadão que é inimputável pela toga, torna tudo brincadeirinha e perdoa o ônus financeiro, o transformando apenas num vale ao portador. A infame deslealdade deu lucro...
Nota-se assim que o recurso da desonrosa traição, em dias de hoje, vale mesmo quanto pesa, de bandidos menores a empresários maiores. Por isso, inacreditavelmente, o país tem sido gerido a poder de mau emprego da justiça e de pau de polícia.
Contrariando, o que dizem afamados contraventores nacionais, VALE O QUE ESTÁ ESCRITO, e por eles sempre valeu, o jurídico nacional, com seus mandados e porque não tratos, pelo visto não atendem a este corolário. Bem alfabetizados juristas, têm lido e interpretado, escritas leis, de acordo a momentos, vontades e vaidades pessoais, e mais ainda os soprados por direcionamentos intencionalmente políticos.
Quanto a mim, opinativamente, nada a ver, mas seria bom e responsável, cuidados a órgãos tão importantes e estruturais de nossa Nação. Algo também importante a qualquer outro país. Quanto aos organismos de segurança, bem se sabe que polícia não pode perder e nem se perder, deixando investir-se pela permissividade jurídica, de um manto de impunidade.
Qualquer situação acima citada, com certeza compromete o Estado Organizado. Um exército ao perder uma guerra, promoverá apenas mais trabalho à sociedade para uma necessária reconstrução, bem diferente da polícia, que utilizada a propósitos políticos, ou corrompida, com sua falência, tem dissolvida toda garantia à segurança do cidadão.
No mundo brasileiro do judiciário, vai se assistindo ligações constrangedoras ao universo político, com atenções a tendências e desejos alheios à necessária promoção da justiça. Juízes têm se permitido a decisões diferentes daquilo escrito em Constituição ou em leis menores, inclusive invasivos a ações que sequer dizem respeito nas outorgas de suas competências.
Ao criarem seguidamente jurisprudências, se colocam bem acima daqueles, aos quais foram conferidos por vontades da coletividade, os poderes à execução de regras a serem cumpridas e por eles apenas regidas. E todos sabem, que a perda de isenção e da justa aplicação da própria justiça, resulta na instalação da anarquia.
Para que se entenda e principalmente ao absurdo de colocarmos em conjunto, bicheiros, polícia e juízes, basta dizer, que além dos públicos vexames relevando maus caráteres, à cobertura de buscas legais, todos não tem importado muito macular o escrito. Exceção aos primeiros...
Num grande paradoxo, diferentes, chegam a determinar, comprometendo leis e determinações das atribuições policiais, estabelecendo que não busquem com violências a bandidos, e principalmente que morram, não os matando. Tudo sem preocupações ou cuidados a que tais ingerências, não fortaleçam organismos criminosos.
Noutra ponta, onde bem escrito está em nossa Constituição, que ninguém haverá de ser privado de seu patrimônio, antes do necessário trânsito em julgado, mas demonstrando que magistrados estão acima dela, mandam, isto mesmo, mandam ignorando o enunciado de seus artigos, que com violência, órgãos públicos também de segurança, destruam bens móveis e imóveis de proprietários civis na Amazônia. Isto sem nenhum procedimento legal, que dirá famosos “trânsitos julgados”, ainda os titulando como criminosos.
Meus respeitos impedem, mas sem nenhuma canalha distinção, dou valor aos contraventores cariocas que buscam honrar o que por palavra está escrito.
Talvez por isso, apesar da total ilegalidade de suas ações, tiroteios à parte, até a grande rede nacional de comunicação, lhes dedicou toda uma série televisiva, com direitos à impunidade por ela e pela sociedade, às confessadas transgressões.
A palavra em título, solta ao vento, embora de significado pouco conhecido, jamais deve ter oportunidade, quando substantivo, de existir ao redor de nossas vidas.
BH/Macapá, 28/01/2024
*José Altino Machado é jornalista
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