Viver é uma aventura e as dificuldades podem aperfeiçoar as fragilidades. Escutar as próprias inquietudes é digno somente daqueles que buscam adotar uma postura de sabedoria diante das adversidades.
24-01-2025 às 10h04
Daniela Rodrigues Machado Vilela*
A vida apresenta contrariedades e desafios, talvez não só esperemos algo dela, como ela também espere de nós. Ser sábio não pressupõe apenas entender o que é bom e mal, mas distinguir entre uma coisa e outra, inclusive, quando uma faseadamente toma a aparência da outra, ou seja, quando o mal se traveste de bem e o contrário. Logo, sabedoria remete a ver além do aparente.
A dor propiciada por alguns acontecimentos deve ser ressignificada a todo momento, para que se faça possível experienciar a existência do modo mais pleno possível. Trata-se de um reinventar-se em meio à escuridão. Mesmo diante de um caminho aparentemente desolador, aposte. As tempestades têm sua utilidade, são pedagógicas.
Não há a menor possibilidade de se ter controle diante do turbilhão de coisa que se apresentam ao longo da vida. Tudo passa, flui. No mais das vezes, de modo absolutamente inseguro, incerto.
Viver é uma aventura e as dificuldades podem aperfeiçoar as fragilidades. Escutar as próprias inquietudes é digno somente daqueles que buscam adota uma postura de sabedoria diante das adversidades.
Sonhar, aprender com as frágeis e insuficientes respostas. Pausar as expectativas excessivas de se ter controle são caminhos possíveis. Enfim, tudo é fluido, inconstante, incerto e precário.
Não falar demais para qualquer um, ponderar, ter reservas com as relações em que ainda não se desenvolveram raízes. Pois, o silencio é valioso. Calar é capacidade daqueles ue detêm sabedoria. Como é difícil!
Amizades superficiais devem pressupor diálogos corriqueiros e não profundos.
Para apostar em alguém é preciso ao menos de indícios de que valerá a pena. Não semeie em terra infértil.
É desejável que estejamos em paz com a própria trajetória e caminhos escolhidos ou possíveis. Todos trabalham com a margem do realizável, não do ideal.
A ótica de experiência de cada um, lhe é própria. É indispensável, respeitar o tempo dos outros e o próprio. As angústias e as histórias de cada um têm sua importância e devem ser valorizadas.
As dores existenciais de uma vida não devem ser negligenciadas. Ter disciplina é salutar, mas não ser rígido demais para consigo mesmo é outra qualidade apreciável.
Sempre é tempo de se afastar de situações tormentosas, dos fantasmas que aprisionam. A mente humana é um grande mistério e as ilusões mentais podem nos fazer reféns.
Não tagarele julgando as fragilidades alheias. Ouça mais, inclusive, a si.
Momentos felizes têm relação direta com valorizar as auto conquistas. Refletir, dar uma pausa no turbilhão de acontecimentos, optar. A vida exige atos de escolha a todo tempo.
Potencialize-se rumo a um caminho de esperanças, entusiasmo, leveza de corpo, alma e espírito. Adicione uma pitada de humor para lidar com as situações adversas. Não busque as causas, os porquês dos sofrimentos, mas os sentidos de utilidade, seus para quês. Encarre a dor e tentar aprender com ela. Isto é doloroso, mas necessário.
O amor verdadeiro não promete demais nem espera, é mecanismo libertador do outro e de si mesmo. Busque quem lhe traz alguma paz, pois isto, é valioso. Amar é a expressão de um sair de si, de seu egoísmo e pequenez, sem pressa de retornar.
Olhe-se com realismo, mas seja generoso consigo. Não se revele demais nem por completo. Não entregue sua intimidade a qualquer um, desvele-se aos poucos, seja sutil e gentil com você, antes e acima de tudo.
A morte é o fim irremediável, diante dela, redimensionam-se as urgências, estas perdem a importância e valor. É difícil, mas preciso saber dizer adeus. Não podemos ficar acorrentados à ilusão do que não foi, a dor não faz mais sentido.
Pelo que luta? Em que põe sentido? Sua história é acima de tudo só sua, desenhe e ressignifique quando lhe aprouver. Não se perca de si, leve-se para onde quiser, mas esteja no controle da própria existência.
Não há manual para um viver feliz ou receita pronta. Tudo escrito até aqui, são teorias, o difícil é transpor para a práxis. Teorizar é fácil, realizar é desafiador. Mas é possível, desejável e legítimo que doa menos viver. Façamos nossas próprias escolhas e apostas. É tempo de ressignificar, arriscar, pagar o preço. Tudo envolve ganhar, perder e lidar com a margem de risco. As águas são turvas para todos, boa viagem companheiro!
*Doutora, Mestra e Especialista em Direito pela UFMG. Atualmente, residente Pós-doutoral pela também UFMG, com financiamento público da FAPEMIG. Professora convidada no Programa de Pós-Gradução em Direito da Universidade Federal de Minas Gerais