
Caças Gripen - créditos: divulgação
29-07-2025 às 08h28
Marcelo Barros(*)
Enquanto a crise política entre Trump e Lula ganha as manchetes, militares brasileiros observam com preocupação o possível desgaste da relação com o maior fornecedor de material bélico do país. A parceria com os EUA é estratégica e vai muito além da diplomacia: equipamentos, peças de reposição e treinamento vêm sendo garantidos por acordos com o Pentágono. O risco é claro: ruídos diplomáticos podem travar um dos maiores fluxos logísticos da Defesa nacional.
Impacto técnico: vulnerabilidade logística e dependência estratégica
A crescente dependência das Forças Armadas brasileiras do sistema logístico norte-americano coloca o Brasil em uma posição de risco em tempos de instabilidade diplomática. O programa Foreign Military Sales (FMS) dos Estados Unidos garante não só o fornecimento de equipamentos como mísseis Javelin, helicópteros Black Hawk, obuseiros e diversos sistemas de controle, mas também a manutenção, reposição de peças e atualizações de software.
Com qualquer sinal de restrição ou congelamento nos acordos, o impacto pode ser imediato: viaturas paradas, exercícios comprometidos e degradação da prontidão operacional. Esses sistemas não são intercambiáveis com facilidade e exigem suporte contínuo, o que aprofunda a vulnerabilidade logística do Brasil diante de uma possível sanção técnica por parte dos EUA.
Repercussões sociais e institucionais dentro das Forças Armadas
Para além do aspecto técnico, há um componente institucional de profunda preocupação dentro das Forças Armadas brasileiras. A relação com o Comando Sul dos Estados Unidos (SOUTHCOM), responsável por exercícios conjuntos, intercâmbio de oficiais e treinamento tático, sempre foi motivo de prestígio entre os quadros de carreira. Um distanciamento imposto por atritos políticos entre chefes de Estado pode prejudicar essa integração operacional, afetando a formação e atualização de doutrina dos militares brasileiros.
Além disso, a percepção de quebra de confiança pode minar o papel do Brasil como parceiro estratégico em fóruns multilaterais e limitar seu acesso a sistemas avançados de inteligência, vigilância e comando. A credibilidade internacional do Brasil como potência regional passa, em parte, pela manutenção de relações sólidas com Washington — algo agora ameaçado.
Panorama geral: risco geopolítico e dilemas estratégicos para o Brasil
Em um contexto de rearranjos geopolíticos globais, o Brasil se vê diante de um dilema: como preservar sua autonomia estratégica sem romper com o maior arsenal tecnológico do mundo? Nos últimos anos, houve uma clara tentativa de diversificação: os caças suecos Gripen NG, os blindados italianos Centauro II e as fragatas alemãs da ThyssenKrupp são exemplos dessa política.
No entanto, todos esses equipamentos possuem componentes ou integração com sistemas de origem americana. O receio é que, diante da crise atual, outras potências como a China ou a Rússia tentem ocupar esse espaço, trazendo consigo implicações geopolíticas profundas. O Brasil, por ora, mantém distância dessas alternativas, mas a instabilidade na relação com os EUA pode alterar essa equação de forma inesperada e perigosa.
(*)Marcelo Barros é jornalista